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"Sobrevivente" do Lehman se prepara para crise de crédito

Cecile Gutscher e Laura Benitez

10/07/2019 13h27

(Bloomberg) -- Pilar Gomez-Bravo entende um pouco de crises financeiras. Deu dicas sobre o mercado de crédito no Lehman Brothers por cerca de uma década até o estouro da última bolha.

Hoje Gomez-Bravo é gerente de portfólio da MFS Investment Management e vê estranhas semelhanças entre a atual corrida por risco e a onda especulativa que a deixou cautelosa na véspera da última bolha.

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Gomez-Bravo decidiu vender títulos junk, de alto risco, remando contra a maré com uma aposta de que o rali da dívida está com seus dias contados - com o potencial de pegar de surpresa fundos com bilhões de dólares em ativos alavancados e, muitas vezes, ilíquidos.

"Há uma arte em saber quando ir embora da festa", disse a diretora de renda fixa da empresa para a Europa, em entrevista. "Na verdade, acabou - as pessoas estão desesperadas e caçando depois da festa. Provavelmente restam apenas algumas horas."

Gomez-Bravo, que administra US$ 4,5 bilhões em ativos de renda fixa, está de partida. A gestora cortou sua exposição aos títulos de alto rendimento para 10% em relação aos 30% em 2016, em um de seis fundos irrestritos com 160 milhões de euros (US$ 179 milhões), com ganho de quase 10% nos últimos 12 meses.

Sua deixa para ir embora da festa surgiu há algumas semanas, quando os spreads médios de títulos de alto rendimento dos EUA caíram abaixo de 375 pontos-base, um nível que, no passado, significou retornos excedentes negativos no prazo de um ano. É o mesmo limite que tornou o famoso "touro de crédito" Bob Michele, do JPMorgan Asset Management, em "urso" no mês passado.

Como gestora de uma enorme quantidade de fundos globais de crédito, ela vê as sempre criticadas opacidade e alavancagem dos emissores de títulos junk em um ponto crítico.

Mais de um terço das empresas privadas com títulos de alto rendimento na Europa, por exemplo, restringem o acesso a dados financeiros de alguma forma, de acordo com análise da Bloomberg no início deste ano. Investidores devem receber compensação extra de empresas que restringem o acesso aos balanços com sites protegidos por senha, segundo Gomez-Bravo.

Os emissores ainda levam certa vantagem nos EUA e na Europa, graças às políticas de juros baixos e menor nível de inadimplência. Os rumores de que o Banco Central Europeu se prepara para outra rodada de flexibilização quantitativa alimenta o rali - e mascara balanços frágeis.

No entanto, se os investidores saírem da festa cedo demais, correm o risco de deixar os lucros na mesa. Gomez-Bravo está vendendo títulos junk em alta e assumindo maior risco político, com investimentos em governos como Grécia e Itália.

"Há mais risco do que recompensa agora", disse.

Quando o Lehman quebrou, Gomez-Bravo era gestora de carteiras no braço de investimentos do banco. Antes disso, foi analista de crédito sênior no sellside do Lehman, mas decidiu mudar de cargo em 2006, segundo ela, devido à frustração com um "espírito animal sem controle."

Assim como os pessimistas da época, ela não previu a gravidade da crise. Em maio de 2007, Gomez-Bravo adotou uma postura de cautela em relação ao risco dos EUA e emitiu alertas sobre a saúde dos balanços corporativos - que repercutem com a intensa busca por rendimento hoje.

Repórteres da matéria original: Cecile Gutscher em Londres, cgutscher@bloomberg.net;Laura Benitez em Londres, lbenitez1@bloomberg.net

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