Diretor paraguaio de Itaipu também renuncia após acordo com o Brasil
Assunção, 29 jul (EFE).- O diretor da parte do Paraguai da hidrelétrica de Itaipu, José Alberto Alderete, apresentou sua renúncia nesta segunda-feira, após a série de pedidos de demissão liderada pelo chanceler Juan Alberto Castiglioni devido à crise gerada por um acordo com o Brasil, que compartilha a exploração da usina com o país vizinho.
A renúncia de Alderete aconteceu após as de Castiglioni, do presidente da estatal Administração Nacional de Energia (Ande) Alcides Jiménez, e do embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier.
Veja também
Todos eles colocaram nesta segunda-feira os cargos à disposição do presidente do Paraguai, o conservador Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, que por sua vez aceitou as renúncias apresentadas e o assessor técnico legislativo da presidência, Hernán Hutteman, disse em entrevista coletiva que os substitutos de todos serão conhecidos ainda esta semana.
Hutteman acrescentou que, devido às renúncias, Castiglioni e os outros três funcionários não são obrigados a comparecer esta tarde à sessão extraordinária no Senado para a qual tinham sido convocados para dar explicações sobre o acordo.
Castiglioni, por sua vez, afirmou no Twitter que todo o processo do acordo com o Brasil sobre a contratação anual de energia da hidrelétrica de Itaipu foi "transparente e para benefício do país".
A oposição paraguaia, no entanto, usou o acordo como uma arma contra o governo, já que o mesmo só veio à tona na semana passada, dois meses depois de sua assinatura e após a renúncia do então presidente da Ande, Pedro Ferreira, que foi substituído por Jiménez.
Tanto o Partido Liberal, o maior da oposição, como a coligação de legendas de esquerda Frente Guasu denunciaram o processo por seu "sigilo" e o classificaram como prejudicial aos interesses do Paraguai.
Alguns senadores da Frente Guasu afirmam que é possível até mesmo abrir um procedimento de impeachment contra Abdo Benítez, pois o acordo foi firmado sem o conhecimento da classe política e da população.
Por causa desse terremoto político, o agora ex-ministro anunciou na noite de ontem que o governo paraguaio comunicou ao Brasil que o acordo de contratação de energia foi suspenso.
A crise ganhou força com a demissão de Ferreira, que se opôs ao acordo. Depois, chegou a conhecimento público que os representantes da Ande foram afastados das negociações entre a estatal paraguaia e a Eletrobras e substituídos por Saguier e outros funcionários do corpo diplomático.
Nessas conversas, o governo de Jair Bolsonaro solicitou ao Paraguai que comprasse energia com base em seu consumo e que apresentasse um cronograma até 2022, um ano antes da renegociação do Anexo C do Tratado de Itaipu de 1973, algo que não era um costume do lado paraguaio. EFE