Governo tentou 'ganhar Nobel' fazendo tudo errado, diz ex-presidente do BC
07/04/2016 17h00
SÃO PAULO - Presidente do Banco Central entre 1997 e 1998, no governo FHC, o economista Gustavo Franco afirmou criticou a situação econômica do país e o governo da presidente Dilma Rousseff em um evento realizado na quinta-feira (7).
O economista Afonso Celso Pastore, presidente do Banco Central entre 1983 e 1985, no final da ditadura militar, também estava presente no evento.
Para Franco, "o governo tratou as empresas como se fossem partidos políticos", e pôs em prática o "capitalismo de compadrio ou de capangas".
O economista afirmou que "o governo fez uma tentativa de ganhar o prêmio Nobel fazendo tudo errado, achando que a sociedade não iria perceber, com desarrumação fiscal e uma política de compadres nas estatais", disse.
Desaceleração da inflação
Sobre a desaceleração da inflação, ele disse estar cético. "Se a inflação começou a ceder nas últimas semanas, não é porque as pessoas estão percebendo uma situação melhor, é porque nós temos a pior recessão da história. Esse tipo de queda da inflação não é confiável porque, se no futuro a economia se recupera, a inflação volta".
O BC não vai resolver o problema sozinho, segundo ele, que comparou a instituição a um goleiro, "mais do que um atacante". "A política monetária perdeu a eficácia e não dá para o BC ser herói se o resto do time está jogando contra".
Impeachment
Franco avaliou como válido o fato de o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff ser baseado na violação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), com as chamadas pedaladas fiscais.
É uma evolução e uma conquista importantes que a responsabilidade fiscal possa derrubar um presidente”, disse.
O economista Affonso Celso Pastore, sócio da A.C. Pastore Associados, afirmou enxergar um enfraquecimento da lei nos últimos anos, com o abuso das transferências por fora do Orçamento.
Lava Jato
Pastore destacou ainda a análise de muitos de que a Lava Jato contribuiu com a queda do PIB entre 1 e 2 pontos percentuais. Para ele, os efeitos do combate à corrupção são positivos, e não negativos.
Ele diz que o Brasil precisa de regras fiscais, e não medidas discricionários baseadas em "rent seeking" (caça à renda, ou a tentativa de angariar renda econômica pela manipulação do ambiente social ou político no qual as atividades ocorrem).
"Nós temos que olhar a causa básica, que é a desorganização econômica, o excesso de ativismo", ressalta.
Durante o debate, Pastore foi questionado sobre o que faria caso fosse nomeado ministro da Fazenda. O economista ironizou: "a primeira medida seria pedir demissão".