Site Casare atrasa repasse de dinheiro de noivos; o que está acontecendo?
Renatta Leite
Colaboração para o UOL
19/09/2023 04h00
A empresa Casare está atrasando o pagamento para noivos que deveriam receber em dinheiro os presentes de casamento comprados no site. Em entrevista ao UOL, um casal que não quis se identificar disse que o contrato com o site garantia que eles teriam acesso ao dinheiro em até dois dias após o pedido de saque — mas esperou quase 70 dias até receber o recurso. Procurada, a empresa confirma que está com dificuldades financeiras e que irá ressarcir os clientes, mas não informou o prazo.
O que está acontecendo
A empresa Casare prometia receber os presentes dos noivos em dinheiro e depois repassar o valor para o casal. O serviço simula um site de compras. O convidado escolhia o presente, pagava por ele, mas o valor era revertido para os noivos. O site cobra uma taxa para o saque e um percentual sobre a compra.
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Um casal afirmou ao UOL que esperou quase 70 dias para ter acesso aos recursos. Eles pediram para ter a identidade preservada. Segundo o casal, o primeiro pedido de saque foi em 11 de julho e o pagamento só foi concluído em 17 de setembro. Eles haviam feito compras esperando pagá-las com o valor dos presentes, de R$ 3.246,11, mas tiveram que arcar com o prejuízo. Ainda assim, o casal teve a taxa de saque e o serviço descontada pelo site.
Empresa acumula reclamações
Procon-SP reúne 19 reclamações contra o Casare. Os principais problemas relatados são "dificuldade na devolução de valores pagos" e "oferta não cumprida".
O site Reclame Aqui tem 50 registros. São casos de atraso ou ausência de transferência do valor.
Crise pós-pandemia
Empresa afirma que passa por crise após a pandemia. Em nota enviada para o UOL, a Casare afirmou que passa por dificuldades financeiras desde a pandemia, quando o volume de casamentos caiu.
Casare diz que tentou se recuperar, fez empréstimos, mas amarga juros altos. A Casare afirmou que tentou implementar ações para se recuperar financeiramente, mas elas não surtiram efeito. "O fluxo de caixa ficou comprometido, principalmente com o pagamento de empréstimos com altas taxas de juros. Foi efetuada uma solicitação de renegociação de parcelas de empréstimos, a qual não foi atendida", diz a empresa.
Empresa diz que não aceita mais clientes, mas site não mostra o encerramento das atividades, nem há comunicado nas redes sociais. A empresa diz que a decisão veio no segundo semestre deste ano e que negocia recursos para quitar as dívidas pendentes. Segundo a Casare, os novos clientes precisam se cadastrar na plataforma para obter um login e senha — e este acesso ao cadastro está indisponível no momento. Questionada sobre a falta de comunicação no site e nas redes sobre a situação da empresa, a empresa disse que "os que tentaram e não encontraram a possibilidade [de cadastro], e entraram em contato conosco, foram posicionados."
Empresa diz que vai pagar os clientes
Segundo a Casare, ainda falta ressarcir 72 clientes. A empresa afirma que "em breve" espera resolver a situação de todas as solicitações em aberto, mas não cita uma data limite.
Clientes serão procurados pela empresa para que sejam quitadas as dívidas. Para os casos em aberto, será emitido esta semana um novo comunicado pelo sistema de registros de chamados para atualização, diz a empresa.
A Casare não informou o prazo para a solução final.
Nunca em nossa história de 9 anos passamos por esta situação. Nosso único foco no momento é quitar os saques em aberto dos clientes, para que ninguém seja prejudicado, e então encerrar as atividades da empresa, ou vendê-la.
Casare, em nota.
Consumidor deve registrar reclamação
Clientes devem fazer um boletim de ocorrência. O primeiro passo para os clientes é fazer um registro policial, que serve como medida preventiva contra a empresa.
Depois, devem registrar a reclamação no Procon. Em São Paulo, a reclamação pode ser feita no Procon-SP (no site www.procon.sp.gov.br). É importante que o consumidor guarde todos os comprovantes de contato com a empresa, como a contratação do serviço e as queixas e comunicações realizadas.
Eles também podem entrar com medida judicial. A diretora jurídica do IDC (Instituto de Defesa do Consumidor e do Contribuinte), Renata Abalém, orienta os consumidores a entrarem com uma ação contra a empresa para garantir o pagamento. "Esses noivos que ficaram esperando essa contribuição dos convidados têm que pedir o dinheiro de volta o mais rápido possível", diz.