Empresário Abílio Diniz morre aos 87 anos
Do UOL, em São Paulo*
18/02/2024 21h49Atualizada em 19/02/2024 10h46
Morreu, aos 87 anos, o empresário Abilio Diniz. "É com extremo pesar que a família Diniz informa o falecimento", diz nota divulgada na noite deste domingo (18).
O que aconteceu
Ele foi "vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite", segundo a família. Abilio estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com "quadro difícil", de acordo com pessoas próximas.
O empresário viajou em janeiro para Aspen, no Colorado (EUA), enquanto se recuperava de duas cirurgias no joelho. Ele se sentiu mal e voltou às pressas para o Brasil.
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Abilio chegou a fazer uma publicação no seu perfil no Instagram quando estava nos Estados Unidos. Na ocasião, ele disse que não poderia aproveitar os esportes de inverno na neve devido à sua recuperação.
O empresário deixa cinco filhos, esposa, netos e bisnetos, e irá ao encontro do seu filho João Paulo, falecido em 2022.
Nota divulgada pela família
Quem foi Abílio Diniz
Abilio Diniz foi dono do Grupo Pão de Açúcar, acionista do Carrefour e presidente do Conselho de Administração da BRF. Era um dos homens mais ricos do país, com fortuna avaliada em US$ 2,4 bilhões, segundo a Forbes.
Seu sucesso nos negócios tem origem na expansão do Pão de Açúcar. Abilio transformou a empresa fundada por seu pai em uma das maiores varejistas do país. O negócio começou como uma doceria em São Paulo e chegou a centenas de lojas. Tinha um estilo agressivo e ambicioso nos negócios, era amante dos esportes e, com mais de 80 anos, não se considerava idoso.
O empresário nasceu em 28 de dezembro de 1936. Foi o mais velho dos seis filhos de Valentim e Floripes Diniz. Valentim Diniz era imigrante português e conheceu Floripes pouco depois de chegar ao Brasil.
No final dos anos 1940, os pais de Abilio abriram a doceria Pão de Açucar, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Abilio participou da rotina na doceria desde cedo. Ajudava na produção e na entrega dos doces. Também começou a praticar esportes ainda jovem.
Terminado o colégio, Abilio entrou em 1956 na recém-criada FGV (Fundação Getúlio Vargas). Ele fez parte da segunda turma do curso de administração. Ao final do curso, Abilio planejava continuar os estudos nos Estados Unidos. Mas seu pai propôs que ele abrisse um supermercado, e ele aceitou. O primeiro supermercado Pão de Açúcar foi inaugurado em 1959.
Negócios
Com um estilo ambicioso e agressivo, Abilio teve dois grandes conflitos empresariais. O primeiro foi com a própria família. Na década de 1980, o controle do Pão de Açúcar gerou uma disputa entre Abilio e seus irmãos. Na época, o grupo estava endividado. Então Valentim Diniz distribuiu parte das ações da companhia entre seus filhos. Abilio ficou com uma fatia maior, o que gerou desavenças. A disputa só se resolveu em 1994, com a assinatura de um acordo que garantiu o controle da companhia para Abilio.
Na década de 1990, o Pão de Açúcar quase foi à falência. A empresa fechou lojas, demitiu funcionários e trocou parte da diretoria, inclusive amigos da família. Passada a crise, a empresa abriu capital na Bolsa de Nova York em 1995. Alguns anos depois, em 1999, o grupo francês Casino comprou uma parte do Pão de Açúcar.
Alguns anos depois, Abilio entrou em nova disputa pelo controle da empresa. Mas desta vez ele perdeu. Em 2005, a empresa tomou um empréstimo com seu sócio Casino. Uma das condições do contrato era que o grupo francês assumiria o controle da holding controladora do Pão de Açúcar a partir de 2012. Um ano antes do prazo, Abilio tentou rever o contrato, sem sucesso. Passou então costurar uma fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, concorrente do Casino na França.
A notícia gerou atritos entre Abilio e o presidente do Casino. O negócio com o Carrefour não deu certo e, em 2012, o Casino assumiu o controle do Pão de Açúcar. No ano seguinte, Abilio deixou a empresa fundada por seu pai, após 54 anos.
Após a saída do Pão de Açúcar, Abilio tornou-se acionista do Carrefour. Foi também presidente do conselho de administração da BRF, além de manter sua atuação na empresa de investimentos da família, a Península Participações.
Família, esportes e sequestro
Abilio teve seis filhos. Do primeiro casamento, com Auriluce, nasceram Ana Maria, João Paulo, Pedro Paulo e Adriana. Em 2004, ele se casou novamente, com a economista Geyze Marchesi. Os dois tiveram dois filhos: Rafaela e Miguel. Quando o caçula nasceu, Abilio tinha 72 anos. Em 2022, seu filho João Paulo morreu aos 58 anos, vítima de um infarto fulminante. "A dor que eu sinto é inexplicável", disse Abilio à época.
O empresário era apaixonado por esportes e praticou atividade física durante toda a vida. Foi tricampeão de motonáutica, em 1968, 1969 e 1970. No automobilismo, ganhou as Mil Milhas de Interlagos em 1970, em dupla com o irmão Alcides. Em 1994, correu sua primeira maratona, em Nova York.
Em 1989, Abilio foi sequestrado e ficou seis dias em cativeiro. Ele ficou preso em uma caixa de madeira e precisava se esforçar para respirar. Os sequestradores pediram US$ 30 milhões pelo resgate. Eles se renderam após o cativeiro ser cercado pela polícia. O resgate não foi pago. Católico praticante, Abilio dizia que a experiência do sequestro reafirmou sua relação com Deus.
O empresário dizia que não era idoso e que precisava se considerar "eterno". Sua receita para uma vida produtiva incluía exercícios físicos diários, queimar mais calorias do que se consome, limitar os compromissos, explorar a psiquê, orar a Deus, e se manter apaixonado. Ele escreveu dois livros e mantinha um site sobre envelhecimento e qualidade de vida chamado Plenae. "Tenho que acreditar que sou eterno", disse em uma entrevista em 2014.
*Com informações do Estadão Conteúdo