'Devemos lidar com problemas', diz Lemann sobre Americanas durante evento
O empresário Jorge Paulo Lemann participou neste sábado (6) da Brazil Conference em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. Durante uma conversa com o professor Daniel Shapiro, Lemann mencionou a fraude contábil da Americanas e que, para o futuro, espera resolver os problemas de governança da companhia.
O que aconteceu
A Brazil Conference é um evento anual que reúne a comunidade estudantil das universidades de Boston. A 10ª edição da BC, com o tema "O Encontro dos Vários Brasis", acontece neste final de semana e reúne mais de 90 palestrantes e cerca de 1.200 participantes.
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Lemann falou no painel "A arte das negociações de um empreendedor". Ao ser questionado sobre as falhas - ou "não sucessos" da sua carreira, como ele diz - o empresário destacou a crise da Americanas, sem citar nominalmente a empresa. "No geral, eu tenho sido bem-sucedido, mas nos últimos dois anos não fui muito", disse.
As Americanas pediram recuperação judicial em janeiro de 2023. O pedido veio após a varejista informar ao mercado uma fraude contábil bilionária. Os números reais só vieram à tona no início de novembro do ano passado, quando a companhia finalmente divulgou o balanço de 2022, após diversos adiamentos.
A fraude foi de R$ 25,2 bilhões. O valor inclui R$ 20,4 bilhões de verbas de propaganda cooperada, que eram receitas fictícias lançadas como forma de diminuir o custo de mercadorias vendidas e de melhorar artificialmente o resultado operacional.
Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da 3G Partners, são acionistas de referência da companhia. "Tivemos uma crise em uma das nossas empresas. Estamos lidando com isso. São 30 mil empregados. Temos que lidar com isso para salvar a empresa. E os problemas são, geralmente, uma oportunidade. Uma oportunidade para fazer algo diferente, para aprender e fazer melhor da próxima vez. O que é o problema, o que está causando o problema, e como vamos nos mover para frente?" disse o empresário sobre a Americanas.
Ao ser questionado sobre os sonhos para os próximos anos, Lemann mencionou a melhora na companhia. "Há uma melhora a ser feita. Essa melhora significa que nós que criamos essas empresas e operávamos elas no passado, não vamos poder operá-las mais, porque estamos ficando mais velhos, e temos que criar um sistema de trabalho através de diferentes tipos de governança que tivemos no passado quando estávamos lá, empurrando coisas nós mesmos. Então, temos que aprender isso. É possível. Há pessoas semelhantes a nós ao redor do mundo que estão fazendo um melhor trabalho de governança de grandes empresas e de interesses melhores do que nós."
Lições de negócios
O empresário, que estudou Economia em Harvard, falou um pouco sobre a trajetória acadêmica e destacou a importância que o esporte teve na sua carreira como empresário. Ele, que foi jogador de tênis e que também surfa, costuma brincar que "aprendeu mais na praia do que em Harvard".
"Eu aprendi como competir, eu aprendi que você só pode ter sucesso se você praticar muito, se não praticar. Eu aprendi como perder. Você perde no tênis e você tem que descobrir porque você perdeu e talvez como você vai fazer melhor da próxima vez. Eu aprendi como ler meus oponentes, você tem que avaliar o que o seu oponente vai fazer. Isso muda a sua vida depois", diz.
O executivo destacou a importância de arriscar nos negócios. Ele lembrou da compra da Brahma em 1989. "Todo mundo sabe que o melhor negócio que eu fiz na minha vida foi comprar uma empresa de cerveja, sem saber muito sobre cerveja ou empresas de cerveja. E eu comprei uma tarde. Quando eu compartilhei com os meus sócios, esses caras estavam todos contra o negócio. Então, havia risco. Eu acho que as pessoas que estudam muito, elas confiam muito nas leituras, na teoria, e não têm uma sensação de coração muito boa sobre o que funciona e o que não funciona. Então, isso é a minha análise de risco. Você tem que tomar algum risco. E tomar risco envolve não apenas medir tudo e descobrir todos os detalhes, mas ter uma sensação sobre o que funciona. E, como eu disse, no esporte você aprende um pouco sobre isso", explicou.
O empresário falou sobre a importância de criar times que tenham pessoas diferentes — algo diferente do que ele pensava há muitos anos. "Na minha primeira experiência de negócio, depois de voltar da Europa para o Brasil, eu me juntei a um grupo de caras que eram todos de Ivy League [universidades mais prestigiadas dos EUA, como Yale, Harvard e Princenton]. Nós falimos. Eu aprendi que, quando você junta um time assim, você tem que ter pessoas diferentes, e diferentes habilidades. (...) Não é sempre fácil, mas a forma de fazer isso, eu acho que uma boa liderança é nada mais do que ter um sonho em que todos participem, e mesmo que sejam diferentes".