Famílias pagam até R$ 700 para 'catadores de piolho': 'Gastei sem medo'
Fernanda Decaris
Colaboração para o UOL, em São Paulo
14/04/2024 04h00
Poucas coisas causam tanto medo só de serem ditas como a palavra piolho. As infestações são temidas principalmente por pais de crianças em idade escolar, que tem de recorrer a xampus, pentes finos e muita paciência para catar os bichinhos da cabeça dos filhos. Com isso em vista, hoje já existem clínicas especializadas em eliminar a praga, com tratamentos que giram em torno de R$ 300 e chegam a R$ 700.
A clínica Dr. Piolho conta com uma unidade em Águas Claras (DF) e outra em Brasília, cada uma com dois funcionários responsáveis por sessões de até R$ 300 por hora. Em caso de infestação extrema é cobrada uma taxa de até R$ 200,00.
O tratamento conta com produtos a base de óleos essenciais, além de um pente fino próprio de aço inox e um pequeno aspirador com pente na ponta, que varre do couro cabeludo até a ponta dos fios.
"Se necessário, fazemos uma sessão extra também no valor de R$ 300 para a retirada de qualquer lêndea ou piolho que poderia estar no couro cabeludo do paciente," explica Polyane Dornelas, empresária e fundadora do Dr. Piolho.
Com investimento inicial de R$ 280 mil, a Dr. Piolho atende cerca de 100 clientes por mês em cada unidade, na maioria crianças, e conta com quatro funcionários no total. O lucro da clínica varia de R$ 30 mil a R$ 50 mil mensais.
'Recebi a visita do piolho'
Dornelas viveu o medo na pele, com seus quatro filhos. "Há 3 anos recebi a visita do piolho na minha casa. Percebi que quando uma criança fica doente, podemos levar em um hospital ou pediatra. Quando é dor de dente, levamos ao dentista. No entanto, para pediculose nunca encontrei um local pra me ajudar."
A empresária teve a ideia de montar a clínica em 2022, junto ao marido e infectologista Werciley Saraiva. Segundo Dornelas, os produtos utilizados no tratamento foram desenvolvidos por meio de uma pesquisa feita na Austrália, testados em laboratório no Brasil e aprovados pela Anvisa.
"Não são medicamentos. É um kit de cosméticos à base de óleos essenciais que possuem essências que não agradam o piolho. Eles são usados como um repelente," explica.
Além da Dr. Piolho, há outras clínicas como a PiolhoLess, em São Paulo, e a Clínica do Piolho, no Rio de Janeiro. Nestas, os preços por sessão chegam a R$ 500 pelo tratamento todo, de acordo com a necessidade do paciente. Todas afirmam usar produtos naturais.
Do desespero ao alívio
Rebeca Amaral, professora de ensino fundamental e cliente dos catadores de piolho, explicou que já havia tentado de tudo para tirar as pragas da filha.
"Já pintei o cabelo dela, já usei o vinagre, álcool, mas nada resolvia por completo. Cheguei a dar ivermectina pra minha filha por três meses. Foi quando encontrei a clínica pelas redes sociais e resolvi testar", conta Rebeca - vale lembrar que qualquer medicação precisa ser indicada por médicos.
Entrei em contato já em desespero, porque não aguentava mais, eles me explicaram todo o processo. Fiz duas sessões e valeu a pena o resultado. Também comprei os produtos que eles oferecem na clínica, como o kit de produtos e o pente. No total, gastei cerca de R$ 700. Não é um gasto que eu gostaria de ter novamente, mas se precisar farei sem medo.
Rebeca
Eficácia dos óleos
De acordo com Fabiana Brenner, titular da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, os óleos naturais são eficazes no combate aos piolhos justamente por causa da viscosidade.
"Os óleos auxiliam na eliminação das lêndeas. E realmente a própria oleosidade natural do couro cabeludo protege contra o piolho. Tanto que adultos têm menos piolho que crianças por conta da oleosidade que aparece depois da adolescência, além do contato físico delas", diz Fabiana Brenner.
Ainda de acordo com Brenner, a pediculose pode causar principalmente problemas de pele devido a coceiras. Outra questão é a alta contaminação, já que não basta acabar com os piolhos, mas principalmente com as lêndeas, ovos do inseto.
Antigamente acreditava-se que era necessário cortar o cabelo para se acabar com o piolho por causa das lêndeas, mas hoje temos tratamentos muito eficazes que resolvem o problema.
Fabiana Brenner
Segundo a Fiocruz, cerca de 30% das crianças brasileiras são afetadas por piolhos. O desafio é controlar a elevada taxa de transmissão.
"Os piolhos têm vida curta fora da cabeça, vivem até no máximo 24 horas, então, o maior problema não é tratar a infestação, mas sim controlar essa alta transmissão. Os ovos ficam na cabeça com muita facilidade e muitas vezes se espalham por muitas crianças por vez", explica Brenner.