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Por que o dólar subiu tanto? É hora de comprar para viajar ou de vender?

Alexa Meirelles

Do UOL, em São Paulo

17/04/2024 12h46

O dólar bateu R$ 5,27 na terça-feira, 16, maior valor em mais de um ano, desde 23 de março de 2023, quando a moeda americana chegou a R$ 5,29. Já hoje, 17, está em queda de 0,59%, a R$ 5,239, por volta das 11h30.

Por que o dólar subiu tanto?

No último dia 2, o Banco Central fez sua primeira intervenção no novo governo para tentar segurar a cotação da moeda. Foi um leilão adicional de swap cambial em US$ 1 bilhão. Mas a moeda vem subindo consideravelmente nas últimas semanas.

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A "tempestade perfeita" se formou, avalia Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Ela lembra que a moeda já começou a subir na semana passada, porque há expectativa de que a política monetária dos EUA continue apertada por mais tempo. A inflação dos preços ao consumidor, economia aquecida, falas de dirigentes do Fed e a própria ata referente à última reunião levaram o mercado a entender que ainda tem um longo caminho até que a instituição fique confortável e comece a cortar juros, diz a especialista.

Com os juros mais altos lá fora, o dólar também sobe — não só no Brasil, mas no mundo todo. Isso porque manter o dinheiro nos EUA se torna mais atrativo para o investidor. A taxa de juros nos EUA está hoje entre 5,25% e 5,5%, muito alta para os norte-americanos. É válido destacar que a rentabilidade por lá é preferida mesmo que a Selic no Brasil ainda esteja muito mais alta do que os juros nos EUA.

Investir na economia dos EUA tem um risco muito menor. "A gente está falando da taxa mais sólida, mais segura e mais atraente do planeta. Então, o investidor faz essa conta: será que vale mais a pena eu ter uma renda um pouco maior no Brasil, mas correndo risco muito grande, ou ir para os Estados Unidos e absorver esse ganho lá, mas com um risco muito menor?", explica Luan Aral, trader e especialista em dólar da Genial Investimentos.

Conflito entre Irã e Israel

O Irã lançou neste sábado (13) drones e mísseis em direção a Israel. O ataque foi uma retaliação ao bombardeio israelense contra o consulado iraniano em Damasco, na Síria, que matou dois líderes militares do Irã. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já declarou que o país fará o que for preciso para se defender. Há ainda a preocupação da entrada de outras nações no conflito, o que traz ainda mais

O cenário de incertezas e crise geopolítica também influenciam diretamente na cotação do dólar, explica Helena. Isso porque o dólar é a moeda mais segura do mundo. "É normal que em um período em que a gente não sabe se Israel vai responder, como vai responder, se isso vai escalar para um conflito maior ou não, o dólar fique mais forte."

E isso vale para o mundo todo. "A gente está falando de dólar no México, dólar na África do Sul, dólar no Canadá, dólar em pares emergentes, dólar em alguns países europeus e assim por diante. Então, esses foram fatores que colocaram o dólar DXY, que é o dólar frente aos principais pares e o dólar também frente aos emergentes [neste patamar] ganhando força com isso", afirmou.

Revisão da meta fiscal

Dois fatores domésticos também impactaram fortemente o preço da moeda. O primeiro é o adiamento da regulamentação da reforma tributária. Os projetos de lei já deveriam ter sido apresentados, o que não aconteceu. Luan lembra que esses detalhes são importantes para dar um norte sobre o quanto o governo federal poderá arrecadar. O ano legislativo também deve ser mais curto, por conta das eleições municipais no final do ano.

Mas o mais desagradou o mercado foi o Orçamento previsto para o ano que vem. O governo federal entregou nesta segunda-feira (15) o projeto de lei LDO 2025 (Lei de Diretrizes Orçamentárias) ao Congresso Nacional. O projeto não prevê mais um superávit de 0,5%, mas sim um déficit zero. A margem de tolerância é de 0,25 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) para mais ou para menos.

O mercado reagiu mal à mudança, ao avaliar que a revisão da meta traz maior insegurança e abre espaço para que o governo "gaste mais". As metas estabelecidas até então não eram consideradas factíveis pelos especialistas, mas o anúncio da revisão piorou o clima ainda mais. "São metas piores, que de uma certa forma permitem que o governo agora gaste mais sem sofrer as consequências que ele sofreria se não atingisse o que estava previsto no arcabouço".

E não há previsão de volta ao superávit. "Do lado da receita, eu acho que o governo chegou no limite de criar novos impostos, de tributar grandes fortunas, coisa que era promessa e que foi feita, mas chegou no limite", diz a economista-chefe da B.Side Investimentos. "O governo não cogitou a possibilidade de mexer nos gastos e isso atrapalhou em muito. Todos esses fatores acabam trazendo um problema em cadeia que, no final, vai culminar no déficit fiscal para 2024, 2025", declarou Luan.

É hora de comprar de dólar? Vai subir ainda mais?

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial, utilizado em transações e negociações essencialmente comerciais. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, a referência é o dólar turismo, e o valor é mais alto. Ele é cotado nesta quarta-feira (16) a R$ 5,302, por volta das 11h.

Helena pondera que não é hora de adotar nenhuma postura de pânico. "A guerra não vai ser uma coisa resolvida no curto prazo, mas eu acho que no curto prazo a gente vai ter uma ideia de se vai ter resposta ou não de Israel. O aspecto fiscal já estava um pouco no preço da moeda, e vamos ver como é que vão ser as sinalizações nas próximas semanas. A meta de 2024, por exemplo, não foi mudada. Eu acho que o Fed é o que mais vai pressionar esse dólar para cima, então eu não acho que é hora de sair comprando o dólar loucamente", diz.

Apesar de tudo, alguns indicadores internos indicam um cenário de estabilidade, diz Luan. A última edição do Boletim Focus, por exemplo, prevê o dólar encerrando o ano cotado a R$ 4,97, uma leve alta em relação às semanas anteriores, quando a projeção era de R$ 4,95.

A inflação está controlada, a reserva de dólar está estável, o Banco Central tem cumprido o seu papel. Esses são fatores, segundo Luan, que apontam para um dólar mais baixo do que está agora. "Mas é importante ponderar que ele vai entrar num momento bastante conturbado, de eleições municipais", lembra.

O que fazer se vou viajar? "O que eu sugiro para quem quer montar uma reserva de dólar, para quem está querendo viajar para o exterior, é que faça compras recorrentes, por exemplo, a cada 15 dias compre uma pequena quantidade. Então, por exemplo, se você precisa de 10 mil dólares para viajar para o exterior, e você tem até o final do ano, divida esses 10 mil dólares no tempo que você tem até a viagem. O pior cenário que pode acontecer é você ter um preço médio da sua compra de dólar, muito próximo de onde está o mercado."

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