Burger King pode comprar Starbucks no Brasil: qual o tamanho das empresas?
Marcela Schiavon
Colaboração para o UOL, de Santo André, SP
01/05/2024 04h00
A Zamp, empresa detentora das marcas Burger King e Popeyes no Brasil, apresentou uma proposta para adquirir a Starbucks no país. A proposta foi encaminhada à SouthRock, responsável pela operação da marca no Brasil, e foi bem recebida. Essa oferta é considerada como 'não vinculante', o que indica um interesse em negociar, porém não obriga ambas as partes a prosseguir com a transação. Os detalhes da proposta são mantidos em sigilo.
O que aconteceu com a Starbucks no Brasil?
A dona da Starbucks pediu recuperação judicial no Brasil. A Starbucks no Brasil é operada pela SouthRock. A empresa entrou em recuperação judicial em dezembro do ano passado, com dívidas de R$ 482,7 milhões, junto ao TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo). O processo incluiu algumas das marcas que opera no Brasil, como o Starbucks e o TGI Fridays.
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Com isso, muitas lojas fecharam sem previsão de reabertura.
Fatura R$ 50 milhões por mês. O faturamento bruto obtido pelo grupo com a Starbucks representa parcela relevante do fluxo de caixa da SouthRock. Segundo o pedido de recuperação judicial, o principal motivo para o desequilíbrio financeiro do grupo foi a pandemia e o isolamento social.
Quem é Zamp?
A Zamp é a administradora das redes de fast food Burger King e Popeyes. E a marca está em expansão. Ela registrou um lucro líquido de R$ 59,3 milhões no quarto trimestre, uma expansão anual de 41,2%.
No ano, a receita operacional foi de R$ 3,8 bilhões, alta de 5,45%. São R$ 989 milhões correspondentes às receitas de venda do Burger King, estáveis na comparação anual, e outros R$ 70 milhões pertencem ao Popeyes, que teve o melhor trimestre histórico da marca, segundo a companhia. A empresa divulga seus novos números no dia 3 de maio.
O fundo MC Brazil F&B Participações tem 58,19% das ações. Em fevereiro, a empresa controlada pela Mubadala Capital aumentou sua participação. A Burger King Brasil tem 9,4%. Outros 32,41% estão na mão do mercado.
No mundo, o Burger King faz parte da RBI, Restaurant Brands International. Além do BK e Popeyes, a empresa também controla a canadense e Tim Hortons e Firehouse Subs. São vendas superiores a US$ 40 bilhões por ano, vindas de mais de 30 mil restaurantes em mais de 100 países.
Faz sentido para a Zamp comprar a Starbucks?
Com a Starbucks, a Zamp participa de outros momentos da vida do cliente. Ela ganha participação no café da manhã e café da tarde, momentos em que, geralmente, operações como a do Burger King não são procuradas pelos consumidores. "Cresce seu poder de compra junto aos seus fornecedores. Acessa um perfil de público que talvez não seja frequentemente presente nas demais bandeiras ", diz Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa Ecosystem.
O mercado de foodservice pode crescer. "De 2022 para 2023, o crescimento foi de apenas 1,5%, mas a perspectiva para esse ano é de um crescimento de 5% em cenário realista, e de 7% em um cenário otimista."
Compra pode impulsionar a receita. Após a forte expansão do BK no passado e o crescimento, ainda em construção, do Popeyes, a especialista pontua que uma forma de aumento da receita é por aquisição. Então, o movimento faz sentido.
A Zamp é uma empresa que agrega operações de foodservice e, portanto, tem know how para entregar ótima experiência aos clientes. Como toda marca internacional existem sofisticados padrões a serem seguidos, inclusive em mix de produtos e posicionamento de preço. Não enxergo qualquer problema em relação a esse tipo de execução nesse sentido. Os times das marcas atuam como especialistas e não será diferente nesse caso.
Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa Ecosystem
Impacto no mercado brasileiro
Cristina não acredita que mude muita coisa por aqui. Ela reforça que a Starbucks tem uma operação estabelecida com cerca de 150 lojas no país, após fechamento de diversas unidades. "Não vejo o que possa impactar o mercado de foodservice no Brasil a curto prazo. Claro, ela pode continuar seu plano de expansão, pode testar novos formatos já em operação internacionalmente, mas depende de diretrizes e estratégias a serem pactuadas entre Zamp e Starbucks", diz.
Mas acredita que melhorias possam acontecer. A empresa pode melhorar sua operação e a experiência dos consumidores nesse potencial momento de retomada, diz. Segundo a especialista, a primeira grande etapa é a retomada da operação aos patamares anteriores. A empresa também pode implementar estratégias de marketing para se reconectar com o cliente e aumentar as vendas. As lojas e o plano de expansão também devem ser reavaliados.
Em termos de branding, a Starbucks é uma marca icônica mundialmente. "Referência em experiência, produto e qualidade, possui uma grande comunidade de lovers que está ávida por ver a marca operando com força total novamente", coloca. No mundo, são mais de 38 mil lojas em cerca de 80 países,
Além disso, a especialista não acredita que a Starbucks se tornará um fast food, mesmo que o histórico das marcas sob o guarda-chuva da Zamp seja esse.
"Isso jamais ocorrerá pois uma mudança de posicionamento dessa proporção iria ferir premissas básicas do contrato", declara.