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Reerguer casa, rever a família: como as pessoas vão usar os auxílios no RS

Kenia Aquino do Quilombo Aéreo Imagem: Marcos Pereira Feijão/Divulgação

Murilo Matias

Colaboração para o UOL, de Porto Alegre

30/05/2024 04h00

Reerguer a casa, garantir a formação de profissionais, viajar para rever a família ou recuperar a plantação. Esses são alguns dos diferentes planos para usar o dinheiro prometido por programas governamentais de transferência de renda ou acesso a direito para milhões de afetados pela crise socioambiental no Rio Grande do Sul.

Sobreviver e ajudar quem precisa

Sem emprego e ajudando outros profissionais. Fundadora do Quilombo Aéreo, iniciativa voltada à formação de profissionais para o setor aéreo viário, a comissária de voo Kenia Aquino perdeu trabalho e ganhou problemas desde que as águas do Guaíba tomaram a pista do aeroporto Salgado Filho nos primeiros dias do mês. As cheias atingiram também o local onde sua organização realiza atividades.

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A gravação das nossas aulas na sede Odabá, que reúne outros afroempreendedores, está suspensa pela inundação na Cidade Baixa. E temos outras urgências como cuidar de uma bolsista cuja casa foi alagada e precisará de suporte. Estamos ajudando pessoas ligadas ao projeto a organizarem as casas atingidas, além da necessidade de reparos em nosso espaço coletivo
Kenia Aquino

Uso do FGTS para atender a essas demandas e a se manter. Kenia diz que utilizará o saque calamidade para ter acesso a seu FGTS - o valor máximo liberado pela Caixa para a modalidade foi de R$ 6.220 - para resolver essas questões do espaço e para compensar a renda com a redução do trabalho. Com 16 anos no mercado da aviação a profissional, Kenia fez 29 voos em abril e viu sua atividade reduzir para 4 em maio.

Ainda cuida de desabrigados. Ela também está arcando com os custos extras por hospedar uma família do município de Guaíba, que precisou sair de onde vivia. "Moro no bairro Partenon e por aqui não alagou, então recebê-los é mais uma forma de contribuir, até pela situação de esgotamento de muitos abrigos. Sobre a situação do Salgado Filho preocupa muito. Estamos sem trabalhar desde que o aeroporto fechou o em 3 de maio", explica.

Reencontrar a família

Gean Freitas, farmacêutico Imagem: Arquivo Pessoal

Farmacêutico pretende sair do 'olho do furacão' e ir para o Amazonas. Gean Freitas aguarda com expectativa a definição sobre o funcionamento do aeroporto para rever a família em Maués, no interior do Amazonas.

Precisei sair do centro de Porto Alegre onde moro, pois estávamos sem água, luz e havia insegurança. Minha família a todo momento me mandava mensagens para saber da minha situação. Estou me organizando para ir visitá-los, cuidar da saúde mental é fundamental nesse momento.
Gean Freitas

Vai usar o seguro-desemprego para viajar. Após desvincular-se de uma das principais redes de farmácia local onde trabalhou, ele pretende aproveitar a extensão de mais dois meses das parcelas do seguro desemprego para os afetados pelas enchentes para custear a viagem, de logística ainda a ser definida devido à incerteza sobre os serviços viários e aéreo.

É comum no inverno amazônico as chuvas intensas causarem enchentes na maioria dos municípios do Amazonas. Em Maués presenciei algumas cheias históricas que mudavam a rotina da população. Curiosamente não sofremos tanto, pois era algo corriqueiro. Nos adaptávamos e seguimos a vida por ser algo natural na região, mas não há como negar que as coisas se intensificaram nos últimos anos e o resultado é o que estamos vivendo em relação a essa crise climática, ambiental e social.
Gean Freitas

Local sagrado também foi atingido

Pai Julio de Oxalá do Terreiro Ilê Àsé Òbokún Imagem: Arquivo Pessoal

Terreiro foi devastado pelas chuvas. O terreiro Ilê Àsé Òbokún localizado na rua Santo Antonio dos Pobres, em Canoas, tem quase cinquenta anos de história no bairro Harmonia. A zona também foi devastada pelas chuvas.

O pai Julio de Oxalá e os filhos da casa, muitos dos quais vivendo atualmente em abrigos, puderam retornar só após mais de vinte dias. Só assim eles tiveram a dimensão do tamanho do estrago.

Julio foi salvo por pescadores para conseguir deixar o local. "Perdemos nosso espaço sagrado no qual cultivávamos nossa cultura, nossas ervas e plantas, nossos animais como as galinhas, os coelhos, os cachorros e as aves. Os prejuízos vão muito além do financeiro", ressalta.

Auxílio será usado para comprar material de construção. O líder religioso pretende acessar o auxílio reconstrução do governo federal de R$ 5.100 por família para inicialmente comprar telhas, tijolos e material de limpeza.

A esfera pública ainda ajuda pouco, esses valores são insuficientes para reerguer uma casa, mas é o que temos agora. Precisamos encontrar o equilíbrio com a natureza nesse momento extremamente delicado para que catástrofes desse tamanho não voltem a se repetir. Vou buscar forças em Oxalá para recomeçar.
Julio de Oxalá

Áreas rurais também foram atingidas

Dinomar José Daniel mostrando arroz destruído pelas inundaçãoes. Imagem: Arquivo Pessoal

Limpeza de solo e compra de maquinário. No município de Nova Santa Rita o produtor de arroz orgânico Dinomar José Daniel aguarda a chegada dos R$ 2.500 do programa Volta por Cima do governo estadual - que exige inscrição no Cadastro Único - para amenizar as perdas em sua colheita.

"Usarei esse dinheiro para a limpeza do solo e do maquinário, mas só a troca dos rolamentos de uma colheitadeira pode custar esse valor caso esteja danificado. Tenho amigos que perderam tudo", declara.

Plantação foi danificada com duas enchentes. "Já havia perdido minha plantação nas enchentes de setembro do ano passado e agora novamente vou ter prejuízos na colheita. O arroz é plantado em áreas planas e a correnteza quando vem dessa maneira provoca buracos ou amontoados de terra danificando o grão", sublinha o agricultor, ressaltando ainda a possibilidade de dívidas de muitos produtores.

Retomada

Perdas em calculadas em R$ 40 bilhões. Das áreas rurais aos centros urbanos o ritmo da retomada da atividade econômica demandará recursos, tecnologia, mão de obra e tempo. As perdas no PIB (Produto Interno Bruto) do estado são calculadas em R$ 40 bilhões pela Fecomércio.

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