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Derivados de cortes de carne viram petiscos e mordedores para pets

Petiscos para cães Imagem: Jonathan Gohner/Unsplash

Danielle Castro

Colaboração para o UOL, de São Paulo

26/06/2024 12h43

De olho no aproveitamento total da produção animal, as indústrias pet e de frigoríficos têm feito uma parceria de bilhões com itens que antes eram descartados, mas hoje tornam-se petiscos e mordedores premium para cães e gatos.

O que aconteceu

Petiscos produzidos a partir de 'sobras'. Feitos a partir de partes resistentes como couro, pele, bucho, chifre, bochecha, cascos e até tendão de avestruz desidratados, os chamados "petiscos naturais" contribuem para aliviar o estresse e dar sabor ao dia-a-dia dos bichos de estimação.

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Produtos para pets movimenta o setor. Esse mercado de petiscos, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), integra a cadeia de alimentos para animais, que arrecada 55% da receita do setor.

[São] mais de R$ 41 bilhões em um universo de faturamento total que deve chegar a R$ 76,3 bilhões ao fim de 2024. Dentro desse quadro, naturalmente, o pet food continua a ser o produto mais vendido no mercado pet brasileiro, mas os snacks contribuem com diversificação e promovem bem-estar e diversão para os bichinhos.
José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet.

Impostos impactam no valor do produto. França destaca, porém, que os impostos ainda pesam muito no Brasil, moldando um cenário discrepante em relação a outros grandes mercados mundiais, como o norte-americano.

Apesar dos números, continuamos a chamar atenção para a alta carga tributária do setor. No caso do pet food, por exemplo, a cada R$ 1 gasto pelos consumidores, R$ 0,50 são impostos. Nos Estados Unidos, líder de market share, os impostos não chegam a 7% do preço final. Na Europa, a média é 18%.
José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet

Produtos naturais para pets

Segundo a Abinpet, a utilização de itens de corte animal na produção de guloseimas e brinquedos antiestresse para cães e gatos é uma prática cada vez mais comum. A produção, contudo, deve sempre atender às normas de segurança sanitária e orientações nutricionais para que possam ser aceitas como uma boa alternativa para os pets.

Regras internacional para a produção. A entidade disponibiliza, inclusive, um guia gratuito para as fabricantes, o Manual Pet Food, que segue demandas internacionais resultantes de décadas de pesquisa e desenvolvimento.

Os produtos alimentícios para animais de estimação fabricados no Brasil têm qualidade internacional, sendo exportados para diversos países e atendendo a padrões rigorosos de qualidade.
José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet.

Os produtos derivados da reciclagem animal, reforça a Abinpet, são ricos em proteínas, aminoácidos e outros nutrientes essenciais para a saúde dos animais de estimação. "Tendões e cartilagens, por exemplo, são fontes ricas em colágeno, benéfico para as articulações e a saúde geral dos pets", diz França.

Além do aporte nutricional e do baixo custo da matéria-prima, esses petiscos também contam com valor agregado de sustentabilidade. "O uso de produtos como esses mencionados é válido porque também promove o aproveitamento integral dos recursos, contribuindo para a redução de desperdícios na cadeia produtiva de alimentos", avalia o presidente-executivo.

Cuidado com o excesso

Petiscos são estímulos, mas devem ser consumidos com moderação. Para Fabio Alves Teixeira, professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (Universidade de São Paulo), o maior atrativo desses petiscos naturais é o ganho comportamental. Ele explica que a definição de saudável pode ser relativa e que esses brinquedos podem ser interessantes do ponto de vista de estímulo ambiental, mas, ao mesmo tempo, não serem nutricionalmente adequados.

O principal benefício que se pode aventar é a possibilidade de os animais ficarem entretidos com esses itens, roendo, mordendo, brincando. Isso pode entretê-los e minimizar problemáticas relacionadas a estresse e tédio", diz Teixeira.

Contudo, a capacidade dos pets de digerir esses itens pode ser baixo, como cascos ou chifres, sendo preciso escolher bem o que é mais indicado para cada espécie e porte.

Ao engolir pedaços desses itens, o animal pode ficar com isso parado no estômago, gerando incômodo ou mesmo lesões no trato gastrointestinal. Os outros itens, como pele e couro, talvez para a maioria dos animais, não tragam sérias consequências, mas para animais que tenham maior sensibilidade em estômago ou intestino, isso pode gerar quadros transitórios de vômito ou alteração fecal.
Fabio Alves Teixeira, professor da USP

Estudos em andamento. Teixeira ressalta também que ainda são escassas pesquisas que tenham analisado de maneira sistemática o efeito desse tipo de item na alimentação de cães e gatos.

Mais importante que ingredientes específicos, entretanto, ainda é a quantidade de alimento em si. "Cada vez mais se comprova que o controle na ingestão de calorias é fundamental para manter alta qualidade e expectativa de vida dos pets", diz. "Por isso, a ingestão de itens extras na alimentação, sem supervisão e em quantidade indiscriminada pode ser prejudicial ao animal", conclui.

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