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Melhora do mercado de trabalho estimula negociações e eleva salários

Imagem: iStock

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo (SP)

12/07/2024 04h00

A queda do desemprego ao menor nível desde 2014 e o volume recorde de profissionais ocupados no Brasil têm sido determinante para a evolução do salário dos brasileiros.

O que aconteceu

O desemprego no Brasil recuou a 7,1% no trimestre finalizado em maio. A menor taxa para o período desde 2014 vem acompanhada pelo aumento do salário médio da população para R$ 3.281, maior valor desde outubro de 2021 (R$ 3.194), mostram dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Contribui para o cenário o número recorde de pessoas ocupadas (101,3 milhões). Já no modelo dos trabalhos, o total de profissionais com carteira assinada alcançou 38,3 milhões e também figura no maior patamar da série, iniciada em 2012. O vínculo formal tende a oferecer remunerações mais altas do que as pagas aos trabalhadores sem carteira e por conta própria.

A massa de rendimentos tem se mantido em patamares elevados devido aos recordes da população ocupada.
Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad.

Dados do governo evidenciam evolução dos salários nas contratações. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado pelo Ministério do Trabalho, o salário médio de admissão bateu o maior valor da série histórica, iniciada em 2020, no mês de abril (R$ 2.135,94) e recuou 0,15%, para R$ 2.132,64, no mês seguinte.

Sempre que há uma expansão no número de contratações, isso acaba se revertendo na melhora das remunerações, porque os empregadores passam a oferecer melhores salários para os novos contratados.
Marcelo Manzano, professor do Instituto de Economia da Unicamp

Reajustes

Resultado das últimas negociações salariais confirmam bom momento. Aliado com o cenário de inflação controlada, 85,2% dos 4.027 acordos já firmados em 2024 resultaram em ganhos reais (acima da inflação) aos trabalhadores, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Com 86,4% dos reajustes acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), a indústria e os serviços guiam o resultado.

O aumento real do salário mínimo contribui para o movimento. A política, que voltou a valer em 2023, é citada pelos especialistas como determinante para reajustes maiores. "Como o piso está subindo, outras categorias profissionais também miram no salário mínimo e reivindicam melhores remunerações", avalia Manzano.

A inflação controlada também influencia no volume de aumentos. "É muito mais fácil conseguir um ganho acima da inflação quando a inflação está girando em torno dos 3%, do que quando ela estava muito mais alta, em um patamar de 10%, por exemplo", destaca Luis Ribeiro, sociólogo e técnico do Dieese.

Poder de barganha

O cenário positivo é aliado do trabalhador na busca por melhores salários. Com o mercado de trabalho aquecido, a negociação entre os empregados e sindicatos com os patrões ganha força, impulsionando as remunerações e outros benefícios. "Sem dúvida, nesses momentos de aquecimento do mercado de trabalho, melhora um pouco o poder de barganha dos trabalhadores em relação aos empregadores", diz Manzano.

As empresas não querem enfrentar um processo de greve, porque a economia está indo bem. Ao mesmo tempo, os trabalhadores se sentem mais confiantes em um cenário com a possibilidade de até cogitar uma paralisação.
Luis Ribeiro, sociólogo e técnico do Dieese

Prática perdeu força nos últimos anos com o enfraquecimento dos sindicatos. Dados recentes do IBGE mostram que apenas 8,4% dos mais de 100 milhões de ocupados no Brasil eram sindicalizados. Para Manzano, o baixo volume foi originado pela reforma trabalhista, que tornou facultativa a contribuição sindical.

Caiu muito a sindicalização e os sindicatos são um instrumento que mobilizam o poder de barganha. Na medida que a reforma trabalhista de 2017 enfraqueceu os sindicatos, a gente tem visto os sindicatos perderam suas fontes de financiamento.
Marcelo Manzano, professor do Instituto de Economia da Unicamp

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