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Bolsa e câmbio: real termina semana perdendo mais que peso argentino

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

02/08/2024 10h08Atualizada em 02/08/2024 17h17

Depois de chegar ontem ao maior valor desde 21 de dezembro de 2021, o dólar teve nesta sexta-feira (2) momentos de altas e de baixas frente ao real. Mas terminou o dia em baixa 0,45% indo a R$ 5,709. Mesmo com essa pequena valorização, o real continua sendo a sexta moeda que mais perdeu valor em 2024 na comparação com a divisa americana, ficando à frente até do peso argentino.

A Bolsa de Valores de São Paulo, por sua vez, começou o dia em alta e fechou o pregão em baixa de 1,24%, indo a 125.813,19 pontos, conforme dados preliminares. Depois de divulgados os dados de desemprego nos EUA, a animação com o possível corte de juros nos EUA deu lugar à preocupação de que as taxas americanas tenham ficado em um patamar alto por muito tempo. Isso pode trazer recessão para a maior economia do mundo — o que desanimou os investidores aqui e em bolsas internacionais.

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O que aconteceu?

O real se tornou a sexta moeda mais desvalorizada dentre divisas de 118 países, levando-se em conta a cotação da PTAX desta sexta-feira (2). O cálculo é da Austin Rating e mostra a desvalorização acumulada em 2024. A divisa brasileira perde até para o peso argentino. Confira:

  1. Nigéria (naira) -44,2%
  2. Egito (libra) -36,5%
  3. Sudão do Sul (libra) -33,5%
  4. Etiópia (birr) -30,3%
  5. Gana (cedi) -22,9%
  6. Brasil (real) -15,6%
  7. Argentina (peso) -13,4%
  8. Seychelles (rupia) -11,7%
  9. Turquia (lira) -11,1%
  10. México (peso) -10,08%

Fonte: Austin Rating

O dólar vem perdendo valor em relação a outras moedas emergentes. Mas no Brasil a moeda sobe. "Então há um movimento especulativo contra a moeda nacional neste momento e isso pode arrefecer ao longo do dia", diz André Galhardo, economista e consultor econômico da Remessa Online.

Que movimento é esse?

O aumento dos juros no Japão tira dinheiro do Brasil. Como o país oriental tinha a menor taxa do mundo, muitos investidores captavam dinheiro lá e em seguida, aplicam aqui, no Brasil, que tem o segundo maior juro do planeta. Esse dinheiro agora está saindo do país.

Por isso, segundo Galhardo, manter as taxas de juros altas no Brasil não funciona mais para atrair investidores. "Pelo contrário, o real tem se desvalorizado justamente pela diminuição do 'status' de porto seguro oferecido pela economia brasileira, mesmo com depois de a Zona do Euro e o Reino Unido terem diminuído juros", diz o economista.

E os juros nos EUA?

A probabilidade de corte de juros nos Estados Unidos em setembro ganha mais força a cada dia. Mas nem isso pode ser favorável ao câmbio. Nesta sexta, por exemplo, foram divulgados os dados de criação de emprego nos EUA (payroll). O país criou 114 mil vagas de empregos em julho, uma desaceleração em relação ao número revisado de 179 mil vagas abertas em junho (o número foi revisado para baixo em 27 mil).

Com menos emprego sobrando, a inflação tem mais chances de cair. "Esse cenário é positivo para o banco central norte-americano, o Fed, pois proporciona confiança para que ele inicie o afrouxamento monetário em setembro", diz Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research.

Mas tem o lado ruim

O problema é que o desemprego nos EUA subiu acima do esperado. Sendo assim, no mercado, já se começa a especular se os juros por lá ficaram num patamar alto demais por muito tempo. "Os investidores ficaram apreensivos com o arrefecimento no mercado de trabalho e começaram a precificar com uma maior certeza quatro cortes de juros ainda este ano", diz Gustavo Zuquim, gestor de portfólio do Andbank. A ideia seria afastar a possibilidade de uma recessão. Isso trouxe instabilidade para a Bolsa.

Apesar do afrouxamento monetário nos países desenvolvidos, especialistas acreditam que juros menores não vão ajudar o real a se valorizar no longo prazo. "Chegaremos em um momento em que os mercados de câmbio estarão sendo conduzidos por questões políticas e uma conjuntura econômica ruim para os países em desenvolvimento", diz Galhardo.

O que mais influenciou a Bolsa?

A produção industrial do Brasil avançou 4,1% em junho, depois de dois meses seguidos de taxas negativas. Isso ajudou a segurar as perdas. A Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta sexta-feira, pelo IBGE, mostrou que junho teve o resultado mensal positivo mais intenso desde julho de 2020, quando houve avanço de 9,1%. Na comparação com o mesmo mês de 2023, a produção subiu 3,2%.

"Foi um salto que impressiona e está ligado às medidas de estímulo do governo e à alta do câmbio", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. Isso porque muitas indústrias nacionais são exportadoras. "Tudo isso mostra que a economia brasileira está se expandindo", acrescenta ele.

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