Dólar sobe a R$ 5,7412, maior valor desde março de 2021
Denyse Godoy e Lílian Cunha
do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)
05/08/2024 09h21Atualizada em 06/08/2024 09h53
O dólar começou esta segunda-feira (5) com uma forte alta contra o real, mas, no decorrer do dia, a valorização foi perdendo força. A moeda terminou o expediente com alta de 0,56%, vendida a R$ 5,7412 — maior valor desde março de 2021. O turismo ficou em R$ 5,953 na venda, com apreciação de 0,37%.
O mesmo aconteceu com a Bolsa de Valores de São Paulo, que chegou a perder 2% em alguns momentos do dia, mas diminuiu a queda para 0,46% ao final do pregão, com o Ibovespa indo a 125.269 pontos.
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O dia foi de muita tensão nos mercados em todo o mundo devido aos temores de que os Estados Unidos, locomotiva da economia global, estejam à beira de uma recessão. Essa preocupação aumentou após a divulgação, na sexta (2), de dados que indicam um grande enfraquecimento do mercado de trabalho. Mas no final da tarde, a alta do preço do minério de ferro e dados positivos sobre a economia americana acalmaram o mercado.
O que aconteceu?
As Bolsas na Ásia e na Europa desabaram nesta segunda-feira (5). O dólar e o euro registraram queda em relação ao iene, devido à crescente preocupação dos investidores com a possibilidade de uma recessão nos EUA.
Houve uma debandada geral de investidores nas principais Bolsas de Valores do mundo todo. No Japão, por exemplo, o índice Nikkei 225 caiu 12,4% com os temores econômicos somados às preocupações sobre os efeitos do fortalecimento do iene nos lucros corporativos. Foi o maior declínio em um dia desde 1987. O "circuit breaker", que interrompe o pregão por alguns instantes em momentos de pânico para que os investidores se acalmem, chegou a ser acionado.
Quais são os ingredientes da crise?
Tudo começou depois que o relatório de empregos dos EUA foi publicado na sexta-feira (2). Houve contratação de pessoas significativamente mais lenta em julho, o pior patamar em quase três anos. Isso aprofundou os temores de que a maior economia do mundo estava tropeçando e de que o Federal Reserve, o banco central americano, pode ter esperado tempo demais para cortar as taxas de juros.
Na reunião da semana passada, o Fed manteve os juros no maior nível em duas décadas. As taxas estão nesse patamar há um ano. O BC americano deve se reunir novamente em setembro.
Analistas do Goldman Sachs aumentaram sua previsão para a probabilidade de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses de 15% para 25%. Por isso, o banco espera agora cortes na taxa nas próximas três reuniões — em setembro, novembro e dezembro.
Especula-se que o Federal Reserve possa até adiantar um corte de juros. Seria, segundo Gala, um corte extraordinário antes de setembro. "Isso, no fundo, é bom para o Brasil", diz ele. Se os EUA baixarem os juros, os investidores podem voltar a aplicar aqui.
Já outros enxergam a reação como "extremada". Em entrevista à Reuters, O presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou que considera como "extremada" a reação dos mercados internacionais. "A reação dos mercados é absolutamente extremada", afirmou o executivo durante entrevista sobre os resultados do Bradesco no segundo trimestre, divulgados mais cedo.
"Não acredito em recessão." Essa também é a opinião de Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset. "Acredito que a reação do mercado hoje é exagerada. O mercado sempre exagera para cima ou para baixo. Há de fato esse exagero. Eu não enxergo a possibilidade de recessão como certa", diz ele.
Por isso, o mercado todo está de olho nos próximos dados da economia americana. Vão ser eles, segundo Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais. Nesta segunda, saiu o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços dos Estados Unidos.
O PMI, que mede a temperatura do setor de serviços, subiu de 48,8 em junho para 51,4 em julho. Analistas previam um aumento menor, a 51. Esse dado foi benéfico e afastou um pouco o temor de recessão, segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank. "Por isso, no meio da tarde, a Bolsa brasileira e o dólar aqui deram um alívio", afirma ela
O Japão também piora a crise
O recente aumento dos juros no Japão vem tirando dinheiro do Brasil. Como o país oriental tinha a menor taxa do mundo, muitos investidores faziam uma operação chamada "carry trade": captavam dinheiro lá e em seguida, aplicam aqui, no Brasil, que tem o segundo maior juro do planeta. Esse dinheiro agora está saindo do país.
Em 2024, a moeda americana acumula alta de cerca de 17% na comparação com o real. O dólar vem perdendo valor em relação a outras moedas emergentes.
E o dinheiro sai também dos EUA. É o que explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. Por isso a crise é global. Muitos investidores pegavam dinheiro no Japão e aplicavam nos EUA, onde a taxa está em seu maior patamar.
Teve também a "bolha tech", que estourou...
A Amazon (AMZO34), Microsoft (MSFT34) e Alphabet (GOGL34), dona do Google, não apresentaram bons resultados. Elas investiram bilhões de dólares em IA (inteligência artificial) e isso não se traduziu em vendas reais.
Até Warren Buffett, dono da Berkshire Hathaway, vendeu metade de sua aplicação na Apple (AAPL34). "Além disso, a Nvidia (NVDC34) está atrasando suas entregas e isso fez o preço de suas ações caírem", diz Gala. Tudo isso, segundo ele, afeta também o mercado de criptomoedas. O Bitcoin caiu mais de 10% hoje, com a moeda digital perdendo cerca de US$ 100 bilhões
"O fato é que o setor tech estava muito esticado, muito valorizado". É o que diz César Garritano, economista-chefe da Somma Investimentos. "Os balanços corporativos do segundo trimestre não estão vindo tão bem quanto era esperado pelo. E isso tem desanimado".
Incertezas em torno da corrida eleitoral dos Estados Unidos pesam conjuntamente. "E uma piora bastante relevante do cenário do Oriente Médio de uma crise mais ampla entre o Irã e Israel também colocam os mercados na defensiva", diz Garritano.
Diante disso, o que o investidor deve fazer?
Muita calma e paciência. O melhor é não vender, nem comprar, diz Breno Bonani, analista da Alphamar Invest, de Vitória. "Para quem investe visando o longo prazo, pode se uma hora de oportunidades. Já o curto prazo deve seguir pressionado, com esse receio de recessão", diz ele.