Adaptação à IA vai determinar a sobrevivência no mercado de startups
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em Florianópolis (SC)*
16/08/2024 05h30
A habilidade de lidar com a inteligência artificial vai guiar o caminho das startups no mundo. Principal inovação tecnológica dos últimos anos, as ferramentas que reproduzem o comportamento humano são vistas como determinantes para a sobrevivência das empresas em desenvolvimento.
O que aconteceu
Inteligência artificial otimiza a atuação das startups. A combinação das tecnologias no ambiente de negócios já marca a realidade. "A inteligência artificial já é o presente e vai, com certeza, diferenciar as empresas entre as que sabem e as que não utilizar isso para os seus negócios", avalia Diego Ramos, presidente da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia).
Ferramentas são usadas por 78% das empresas inovadoras do Brasil. Segundo a pesquisa Founders Overview 2024, realizada pelo Sebrae Startups, o percentual é referente ao total de companhias que utilizam algoritmos e dados para automatizar seus processos. "O impacto da IA já é visível no aumento da eficiência operacional e no crescimento de muitas startups", diz Alexandre Souza, gerente de Inovação do Sebrae de Santa Catarina.
Empresas que adotaram a IA já sentem impacto positivo. O mesmo levantamento mostra que 65% das startups brasileiras tiveram aumento no seu crescimento e eficiência operacional ao utilizar a inteligência artificial no ambiente de negócios. As ferramentas de análise de dados são as preferidas (27,4%), seguida pela automação de processos (24,8%), a otimização do marketing (18,5%) e a experiência do usuário (16,4%).
Tecnologia auxilia fabricantes de tecidos a cumprirem meta. A CEO e fundadora da Molde.me, Tyara Nascimento, desenvolveu, há seis anos, uma ferramenta para ajudar as pequenas e médias confecções a reduzir o desperdício de matéria-prima e atingir a norma que limita o descarte a 25% da produção. No ano passado, ela conta que aderiu à IA para otimizar a operação. "O que a gente viu com os nossos clientes é uma diminuição de 15% do desperdício", revela.
Futuro depende da IA
Adaptação vai determinar a sobrevivência das empresas em desenvolvimento. Silvio Meira, cientista-chefe da TDS.company, destaca a importância dos empreendedores em reaprender sobre como conviver com as inovações. "Estamos frente a frente com sistemas que aprendem, em uma escala que a gente não pensou que fosse acontecer no curto prazo", observa ele.
O grande desafio das organizações não é aprender inteligência artificial, mas com Inteligência artificial, em um universo onde aprender mais rápido passou a ser o único diferencial competitivo.
Silvio Meira, cientista-chefe da TDS.company,
Integração das empresas com a inteligência artificial é urgente. "Reaprender a aprender nunca foi uma demanda tão gigantesca e urgente no mundo. Ainda temos tempo, mas não tanto tempo", alerta Meira. O cientista ressalta que há oportunidades de negócio "chegando na mesma hora para todos os mercados e geografias".
Revolução das ferramentas aproximou empresas de todos os portes. "Hoje, um único empreendedor individual pode ter uma tecnologia que há cinco ou dez anos custava centenas de milhares de dólares, e a competição ficava até muito desigual", destaca Ramos ao citar o exemplo do ChatGPT, disponível para qualquer pessoa com acesso à internet.
Inteligência artificial é citada como um dos grandes acontecimentos da história. Para Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional, a produção da tecnologia já determina a capacidade de crescimento dos países. "Hoje, IA, assim como aconteceu com a energia nuclear, as indústrias aeronáutica e espacial e a capacidade de levar um satélite, define o patamar da geopolítica", afirma.
Algumas áreas da ciência e do conhecimento habilitam os países a entrar em algum patamar para além do PIB. A IA é uma delas. Os Estados Unidos estão na frente, a China, a Europa e a França estão encabeçando o processo.
Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional
Desafios
Capacitação profissional é encarada como barreira para o setor. Com a substituição de algumas categorias dada como certa com o avanço da inteligência artificial, especialistas defendem políticas para ampliar a capacidade dos trabalhadores. "Profissões serão extintas, como aconteceu ao longo de todas a história da humanidade, mas novas habilidades também precisam ser criadas", diz Ramos.
Nosso grande receio é ter pessoas que não são desempregadas, mas que não têm habilidades necessárias para atender às vagas.
Diego Ramos, presidente da Acate
A percepção é partilhada pelo levantamento do Sebrae. O Founders Overview 2024 destaca a ecasses de talentos qualificados como o principal entrave, citado por um em cada quatro empreendedores (25,5%). Na sequência, aparecem o custo de implementação (22,4%) a dificuldade de integração com outros sistemas (13,9%) e a resistência interna (3,9%).
Regulamentação da IA ainda é dúvida para o ambiente de negócios. As normas e definições éticas estão na mesa de discussões dos empreendedores e do Congresso Nacional. "No nosso setor, primeiro vem a disrupção para depois toda a questão de ética e regulação", afirma o presidente da Acate.
*O repórter viajou a convite do Sebrae