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Expointer: mulheres estão à frente dos negócios na agricultura familiar

Fabiana Casagrande, de Sarandi, lidera o próprio negócio de bolachas e vende a produção em feira Imagem: Fernanda Canofre

Fernanda Canofre

Colaboração para o UOL, de Esteio (RS)

25/08/2024 18h39

Pelo segundo ano, Fabiana Casagrande, 39 anos, viajou cerca de 318 quilômetros entre Sarandi, na região norte do Rio Grande do Sul, e o parque de exposições Assis Brasil, em Esteio, para vender as bolachas e biscoitos da indústria que criou há cerca de dois anos.

A produção da agroindústria Delícias da Fabi é tocada por ela sozinha, e um dos 217 empreendimentos liderados por mulheres no Pavilhão da Agricultura Familiar na feira deste ano, um dos mais movimentados no parque neste domingo (25). Até o momento, o Pavilhão já movimentou mais de R$ 1 milhão em vendas.

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Acho que é uma tendência, espero que as mulheres vão se colocando no lugar delas, tomando a frente dos negócios. É muito gratificante saber que posso colaborar com as coisas em casa, o meu próprio bem-estar, eu tenho outra autonomia. 'Tive clientes que vieram [na Expointer] no ano passado, e voltaram agora para comprar mais.
Fabiana Casagrande, empreendedora

O que aconteceu

Em 2023, o espaço que foi criado em 1999 na feira, bateu recorde com 372 expositores e R$ 8,6 milhões em vendas. Comparado ao mesmo período em 2023, o Pavilhão registrou um aumento de 11,48% nas vendas - já ultrapassa R$ 1 milhão em negócios realizados.

Nós entendemos que (as vendas) podem chegar aos mesmos valores do ano passado, porque as pessoas podem não ter dinheiro para comprar uma máquina agrícola, animais, mas têm para levar os produtos da agroindústria familiar.
Joel Carlos da Silva, presidente da Fetag/RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul), uma das entidades responsáveis pelo espaço.

A feira é um espaço que confere condição de venda interessante, visibilidade, que impacta no período, e o último período para os agricultores familiares no Rio Grande do Sul foi conturbado, então, enfrentar mais um ano sem as consequências positivas do que uma Expointer pode desencadear, ia estabelecer um grau de dificuldade ainda maior.
Douglas Cenci, coordenador geral da Fetraf no RS.

Mulheres são maioria no Pavilhão. Dos 413 expositores inscritos este ano, 217 são liderados por mulheres, mais da metade. No ano passado, eram 148.

Importância da Agricultura Familiar para o setor. Apesar de ocuparem um quarto da área destinada à agropecuária no Rio Grande do Sul, a agricultura familiar responde por 72,2% do pessoal ocupado no setor, segundo Censo Agropecuário de 2017.

O pavilhão da agricultura familiar reúne empreendimentos de todas as regiões do Rio Grande do Sul. Área é marcada pela diversidade com alimentos como queijo, bolachas, salame, além de artesanato e outros itens produzidos por agroindústrias familiares.

Tendência no campo. A presidente da Emater/Ascar-RS, Mara Helena Saalfeld, diz que as agroindústrias familiares vêm em crescimento no estado, chegando a 3.924 registros recentemente, e podem ser uma tendência para quem trabalha no campo.

Nós observamos que cada vez mais nosso agricultor vai partir para a industrialização, porque agrega grande valor. Quando a gente entrega para um atravessador, ele acaba colocando custo em cima e aumenta o preço para o consumidor final'', afirma ela. ''Quando transformo uma batata, que vendo por centavos o quilo, em batata palha, quanto eu agrego de valor?
Mara Helena Saalfeld, presidente da Emater/Ascar-RS

Pós-enchentes

Givanildo e a esposa, produtores de melado, perderam casa e a agroindústria em Candelária/RS Imagem: Fernanda Canofre

Comprou cana dos vizinhos para participar da feira. Para que Givanildo Vidal de Souza, 45 anos, e a esposa Maria Elisa Hennig, conseguissem ter a produção de melado exposta em um stand da Expointer este ano, foi necessário comprar cana-de-açúcar de vizinhos. O casal teve de realocar a agroindústria familiar que eles mantêm há 24 anos para outro local na cidade. Agora, eles estão tentando se recuperar de três meses sem renda, após perderem a casa e o negócio devido à catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio.

Prejuízo causado pelas enchentes. O casal morador de Candelária, no Vale do Rio Pardo, está entre as milhares de famílias gaúchas atingidas pela catástrofe que deixou mais de 180 mortos. Com movimentação da água no solo da propriedade, eles perderam a casa, o prédio onde funcionava a indústria da Rodeio da Figueira, e os oito hectares de cana-de-açúcar plantada para a produção.

Na véspera da Expointer que resolvemos vir. Foi uma luz que brilhou no fim do túnel para um recomeço. Compramos a matéria-prima de vizinhos e terceiros e conseguimos fazer o produto, o melado.
Givanildo Vidal de Souza, empreendedor.

Shaiane Silva da Silva Kaiper, 33 anos, também tenta superar as perdas das enchentes na feira deste ano. Ela e a família trabalham na produção de cuias de chimarrão, e tiveram a casa e o galpão de trabalho atingidos na Ilha das Flores, bairro Arquipélago de Porto Alegre, além de perderem a plantação de porongos, a matéria-prima do artefato.

A gente tinha uma estimativa em abril, antes da enchente, de produzir duas mil peças. Conseguimos trazer mais ou menos a metade, porque muita coisa a gente perdeu.
Shaiane Silva da Silva Kaiper, produtora

Foco na feira. Eles voltaram há cerca de um mês para casa e se concentraram em se preparar para a feira, que costuma render entre R$ 15 e R$ 20 mil em vendas. ''Ficamos no dilema se arrumamos a casa, o galpão ou se produzimos. Fizemos o básico em casa para poder voltar com as crianças, e o galpão improvisamos um canto para poder produzir e estar aqui na feira'', diz ela.

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