Compra do X por Musk foi pior negócio para bancos desde crise de 2008
Mariana Rodrigues
Colaboração para o UOL, em São Paulo
03/09/2024 09h13
Bloqueado no Brasil, o bilionário Elon Musk comprou o antigo Twitter (hoje chamado X), em 2022, por US$ 44 bilhões (R$ 242 bilhões). O negócio foi viabilizado, em parte, por um crédito tomado com bancos como Morgan Stanley, Bank of America e Barclays, que financiaram em torno de US$ 13 bilhões. Agora, de acordo com o jornal "Wall Street Journal", esse se tornou o pior negócio para essas instituições desde a crise financeira de 2008. Entenda de que forma funciona esse tipo de operação e por que se tornou um problema para os bancos envolvidos.
Por que negócio azedou para bancos
Musk tem a fortuna avaliada atualmente em torno de US$ 243 bilhões (aproximadamente R$ 1,3 trilhão), tornando-o a pessoa mais rica do mundo. Ele é fundador da fabricante de carros elétricos Tesla, da empresa de exploração espacial SpaceX, e a companhia de integração entre cérebro e chips Neuralink.
Apesar disso, para a compra do Twitter sete bancos forneceram empréstimo. O objetivo das instituições não era manter a dívida, mas, sim, repassá-la a possíveis compradores. Passados dois anos, isso ainda não aconteceu.
Risco não é de calote, mas rentabilidade da operação não é a esperada. De forma simplificada, o economista Augusto Caramico, professor de finanças da PUC-SP, explica que a dívida do Twitter não tem liquidez no mercado secundário. "No mercado de dívida dos Estados Unidos, que é muito ativo, não há compradores para essa dívida em um preço que vale a pena para os bancos", afirmou.
Operação de crédito não é empréstimo simples. A operação de compra do Twitter envolveu o chamado "Leveraged Buyout" (LBO), ou empréstimo alavancado. O LBO é um empréstimo no qual a empresa assume a emissão de uma dívida, e o comprador tem ativos da companhia como colateral. Idealmente, essa dívida se torna lucrativa devido à valorização do negócio, com potenciais ganhos que superam a taxa de juros.
Bancos não conseguiram repassar a dívida. A intenção dos bancos era vender a dívida e assim liberar caixa para outras operações. Mas, passados dois anos, a dívida segue encalhada com as instituições, ou, no jargão do setor, "pendurada" nos balanços contábeis. Segundo a reportagem do WSJ, isso prejudicou as carteiras de empréstimos dos bancos e até a remuneração de suas equipes. Os empréstimos vencem entre sete a oito anos.
Empresa perdeu valor de mercado desde a compra. Em outubro de 2023, o X divulgou ter um valor de mercado de US$ 19 bilhões, menos da metade do valor de aquisição. Um dos principais motivos é a falta de lucratividade da rede social com propaganda e desentendimentos de Musk com anunciantes. Sobre a perda de valor da empresa, o coordenador na FGV programas de MBA e Educação Executiva em Marketing e Negócios Digitais, André Miceli, disse: "Houve uma forte pressão pela retirada de anunciantes da plataforma. O Elon Musk tomou decisões confusas em relação à estrutura do próprio produto, tentou monetizar de outras formas, o modelo de gestão está bastante confuso", afirmou. Em 2023, a rede perdeu metade da receita publicitária.