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Mercado aposta em alta da Selic: o que pode acontecer com a Bolsa?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/09/2024 05h30

Boa parte do mercado aposta em uma alta da taxa básica da economia brasileira na quarta-feira (18), quando o Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne. Nornamente, juros altos desestimulam investidores a aplicarem em mercados mais instáveis e de maior risco, como a Bolsa de Valores. No entanto, a Bolsa está subindo, e o dólar, caindo.

Hoje, o Ibovespa tinha valorização de 0,44%, indo a 135.496 pontos uma hora depois da abertura. O dólar está em queda de quase 1%, a R$ 5,513.

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O que o mercado espera para os juros

Uma sondagem feita por meio de inteligência artificial aponta que 77,4% dos agentes de mercado (gestores e investidores) acreditam numa alta da Selic. E essa alta seria de 0,25 ponto percentual, segundo o levantamento da Equus Capital. O Itaú, por exemplo, divulgou na quinta-feira (12) que projeta uma "Selic de 11,75% ao final de 2024, com uma alta adicional em janeiro do ano que vem, alcançando um nível terminal de 12% ao ano". Além disso, o Focus desta semana mostra alta da taxa Selic para 10,75% ao ano já nesta reunião.

No entanto, a alta da Selic pode ser boa para a economia e as empresas. "O mercado interpreta como necessário no momento para conter a pressão inflacionária", diz Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital.

O Bank Of America, entretanto, acredita que a alta da Selic pode ser boa para o mercado. "Um ciclo de aumento no Brasil pode ajudar a ancorar as expectativas de inflação, reforçar a credibilidade do Banco Central e reduzir as taxas de juros de longo prazo", publicou o banco.

Inflação ainda não está sob controle

O mercado é mais focado no futuro do que na economia real. É por isso, por exemplo, que muitos investidores, analistas e economistas defendem a alta da Selic, apesar da melhora de alguns indicadores. Em agosto, por exemplo, houve deflação de 0,02%. Mas é possível que essa inflação venha maior em setembro, por causa do aumento do custo de energia e dos alimentos, por causa da seca.

A preocupação dos investidores é com o que ainda pode vir. Principalmente por conta da seca histórica pela qual o Brasil passa. "Fatores como a piora da seca, o agravamento da bandeira tarifária de energia elétrica e o dólar em torno de R$ 5,5 pressionam a inflação", diz Gustavo Corradi Matos, gestor de investimentos da Medici Asset, do Grupo NanoCapital. "Esses fatores podem justificar uma elevação da taxa básica de juros, com a projeção de aumento da inflação até o final do ano, podendo chegar a 4,30%", acrescenta.

Há quem discorde que alta pontual da inflação possa servir para aumentar juros. "Eventos pontuais com os efeitos dos preços sobre a seca, têm que ser considerados e tratados com os instrumentos que são adequados. E não com o aumento da taxa de juros", disse o economista e colunista do UOL, Felipe Salto, durante participação no UOL News 2ª Edição de quarta-feira (11).

Outros fatores condicionantes podem levar o BC a decidir em uma direção de começar a elevar a Selic. (...) Mas para aqueles que já estão querendo incentivar esse tipo de decisão [de aumentar os juros], fica parecendo que todo argumento serve. Esse [da seca] não serve.
Felipe Salto, economista e colunista do UOL, Felipe Salto

O que pode acontecer com a Bolsa com a alta da Selic

Juros altos desestimulam investidores a aplicarem em mercados voláteis, como a Bolsa de Valores. "Isso leva as pessoas a buscar retornos mais consistentes e atrativos na renda fixa", afirma Almeida.

O custo do dinheiro fica menos atrativo para as empresas. "Muitas companhias listadas na Bolsa têm endividamentos atrelados à Selic. Com a alta dos juros, isso impacta diretamente o fluxo de caixa futuro dessas companhias, o que tende a baixar o preço das ações no curto prazo", diz o especialista da AVG Capital.

O corte de juros nos Estados Unidos, porém, pode ajudar. A expectativa é que o Fed, banco central dos EUA, comece o corte de juros nesta semana. "Com a queda das taxas de juros no mercado internacional, tanto nos EUA como na Europa, há um incentivo para a entrada de recursos estrangeiros no Brasil. Isso pode beneficiar a renda variável", diz Coradi.

Quais os riscos para a Bolsa

O problema é o risco fiscal, ou seja, do desequilíbrio entre contas e receitas do governo. "A maioria dos bancos e casas de investimento vem recomendando a renda fixa em vez da Bolsa porque se o risco fiscal do governo for para o espaço, os clientes estão garantidos", diz Breno Bonani, analista de investimentos.

Grande parte do mercado desconfia que o governo não vai cumprir a meta fiscal deste ano. Um exemplo disso é a curva de juros: um gráfico que representa as taxas de juros previstas pelo mercado para títulos de dívida com vencimento de longo prazo. Ela está "em um patamar mais elevado, refletindo a maior percepção de risco em função dos receios quanto a situação fiscal do país e a trajetória da dívida pública", publicou a EQI Research.

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