China vai ter mais pets que crianças; por que isso assombra a economia
Colaboração para o UOL
17/09/2024 05h30
Enquanto casais jovens optam por formar suas famílias com animais de estimação, a taxa de natalidade na China segue caindo. O alto custo de vida é uma das principais razões para os chineses decidirem não ter filhos.
Pets são realidade nas famílias chinesas
Uma análise do banco norte-americano Goldman Sachs prevê que o número de pets nas cidades da China deve superar o número de crianças de até quatro anos. O aumento na demanda por alimentos para animais de estimação foi o ponto de partida para o estudo. A análise do Goldman Sachs prevê que a indústria de ração para pets deve alcançar os US$ 12 bilhões (mais de R$ 66 bilhões na cotação atual) em 2030.
Projeção indica tendência na área urbana da China. Até 2030, o número de animais de estimação nesta área será quase o dobro do número de crianças pequenas: cerca de 70 milhões de pets estarão nas casas das famílias chinesas, enquanto as crianças serão menos de 40 milhões.
População de gatos deve ser maior do que a de cachorros. Ainda segundo o Goldman Sachs, os felinos devem fazer parte de mais famílias chinesas por exigirem menos espaço para serem criados.
País é um dos mais caros no mundo para a criação de um filho. Relatório do Instituto de Pesquisa de População YuWa divulgado no início do ano indicou que a China é mais cara do que países como Austrália, França e Estados Unidos no que diz respeito ao dinheiro investido em uma criança. Segundo o instituto, o custo médio para criar um filho na China do nascimento até os 17 anos era de cerca de US$ 74.800 (cerca de R$ 412 mil). Caso o sustento da família se estenda até a universidade, o custo pode ultrapassar US$ 94.500 (R$ 520 mil).
Custo na China é 6,3 vezes superior ao PIB per capita do país. Segundo o relatório do YuWa, a proporção chinesa é menor somente que a da vizinha Coreia do Sul, cuja taxa de natalidade é a mais baixa do mundo. Para os sul-coreanos, o custo da educação dos filhos é 7,79 vezes o PIB per capita.
Altas taxas de desemprego desencorajam jovens a terem filhos. Além da incerteza no mercado de trabalho, a crise imobiliária na China também atrapalha os planos dos casais que planejam ter um filho. O cenário pós-pandemia de coronavírus também tem forte influência na decisão dos chineses em procriar.
Número de recém-nascidos segue caindo
A população chinesa atingiu o pico e deve permanecer acima de 1,39 bilhão de habitantes até 2035. Após breve recuperação nos últimos anos, o número de recém-nascidos deverá voltar a uma tendência decrescente. Segundo o portal Economist Intelligence Unit (EIU), a queda no número de nascimentos na China acontece graças à combinação de menos mulheres em idade reprodutiva e taxas de fertilidade decrescentes.
Adiamento do casamento também é realidade na juventude chinesa. Cada vez mais chineses preferem seguir suas vidas de forma individual, adiando ou até mesmo dispensando a união com outra pessoa. A tendência tem como consequência menos gestações e crianças nascidas. "O atraso nos casamentos, que está fortemente relacionado às taxas de natalidade, resultará em menos bebês", explica o EIU.
Estudos indicam que o número de segundos filhos também estagnou. As famílias que optam por ter filho, muitas vezes, têm apenas uma criança. De acordo com especialistas, a tendência indica que o relaxamento no controle da natalidade proposto pelo governo chinês na última década teve um efeito limitado. Para conter o crescimento desenfreado da população, o governo estabeleceu a política do filho único na década de 1980, que perdurou até 2015. Em 2021, o afrouxamento da política passou a permitir que os casais tenham até três filhos.
Os impactos na economia
Menor número de crianças pode afetar diferentes setores da indústria. Enquanto empresas que se dedicam aos cuidados com animais de estimação têm uma boa projeção econômica, companhias que comercializam produtos e serviços voltados para as crianças podem ver seu faturamento declinar proporcionalmente ao número de bebês. A indústria de produtos como fórmulas infantis, brinquedos e roupas, por exemplo, pode sofrer com a falta de pequenos clientes. Serviços como entretenimento infantil, creches, escolas, aulas particulares e babás também devem sofrer os impactos de uma menor demanda por parte da população.
Menos força de trabalho pode desacelerar o crescimento econômico. A baixa taxa de natalidade vista atualmente terá consequências na futura população em idade economicamente produtiva na China. Poucos bebês nascidos hoje resultarão em menos pessoas trabalhando daqui a duas décadas no país. Para evitar rombos na saúde fiscal chinesa, o eventual adiamento da idade de aposentadoria pode ser adotado pelo governo na próxima década. Segundo o EIU, aumentar a idade de aposentadoria para 65 anos até 2035 poderia reduzir o déficit orçamentário em cerca de 20%.
Previsão indica ainda aumento crescente da população idosa. A baixa taxa de natalidade e a maior longevidade esperada farão com que a população idosa siga crescendo na China. Segundo o EIU, até 2035 o país terá mais de 450 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 32,7% da população total, sendo que chineses com mais de 65 anos serão mais de 25%. "Embora isso sugira um aumento da carga fiscal, também afetará positivamente a procura do setor dos cuidados de saúde e das despesas domésticas, especialmente com os indivíduos que voltam para casa após a aposentadoria."
O EIU atualizou a sua projeção demográfica para a China: a população do país cairá de 1,41 bilhão para menos de 1,39 bilhão de habitantes até 2035, como resultado de menos recém-nascidos e mais mortes devido ao envelhecimento da população.
Trecho de análise oficial do EIU sobre projeção chinesa
Chineses formam a segunda maior população do mundo. Com mais de 1,4 bilhão de habitantes, o país perde apenas para a Índia, que tem cerca de 40 milhões de pessoas a mais do que a China.