Bolsa perde para renda fixa e fecha em queda; dólar sobe a R$ 5,52
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL
20/09/2024 10h17Atualizada em 20/09/2024 17h28
A Bolsa de Valores de São Paulo perdeu mais de 2 mil pontos nesta sexta-feira (20). O Ibovespa terminou o dia em queda de 1,55%, despencando de 133.122 para 131.065 pontos, voltando para o mesmo nível de 12 de agosto. A alta dos juros aqui, para 10,75% ao ano, afastou o investidor do mercado brasileiro e o dinheiro acabou indo para a renda fixa ou Bolsas do exterior.
Nem o câmbio escapou. Depois da sétima queda consecutiva, o dólar virou o sinal e teve alta de 1,78%, subindo a R$ 5,521. O dólar turismo fechou a R$ 5,72.
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O que aconteceu
Apesar de toda torcida para a queda nos juros nos EUA, a Bolsa se deu mal no fim das contas. "Continuamos a ver saídas de fundos de ações e 'hedge funds' do Brasil. Os fluxos ainda são direcionados para fundos de renda fixa", publicou hoje o Bank of America (BofA).
No mês, a saída total é de R$ 8 bilhões até a quarta-feira (18). No ano, o saldo está negativo em R$ 25 bilhões.
Ou seja: com a alta da Selic, o custo do dinheiro ficou menos atrativo para as empresas listadas. Muitas companhias têm endividamentos atrelados à Selic. E isso baixou o preço das ações.
No exterior, aconteceu o contrário. O corte de 0,5 ponto percentual feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) favorece as empresas por lá e melhora ainda mais seus resultados.
Por que o dólar voltou a subir?
Historicamente, quando o Fed baixa juros e o Banco Central aumenta a Selic, isso se traduz para os investidores como aumento de risco. Foi o que disse, em relatório também publicado hoje, o Goldman Sachs. Isso afasta os investimentos do país, e o real também perde valor.
Além disso, o dólar se valorizou hoje mundialmente. Especificamente, por conta da economia chinesa. Na madrugada, tanto o banco central chinês, quanto o japonês tomaram suas decisões sobre juros. Nenhum dos dois alteraram as taxas.
Esperava-se um corte de juros na China. Mas o BC chinês manteve os juros de um ano a 3,35% e os de cinco anos a 3,85%. Isso aumentou a expectativa de que a inflação no país oriental esteja em alta. Novos dados devem sair nesta madrugada.
Por isso, há agora uma corrida por moedas fortes e pelo ouro. "Além disso, como já se sabe que o Fed vai baixar mais as taxas nos EUA nas próximas reuniões, muitos investidores ainda estão indo para o Tesouro Americano, para aproveitar os juros por lá, que continuam elevados", diz Ariane Benedito, cofundadora e economista-chefe da Eai Invest.
A manutenção dos juros no Japão também deu força ao dólar. "Outras moedas emergentes, como o peso mexicano, também perderam valor hoje", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
E, mesmo com o corte de quarta-feira, a taxa americana continua sendo a segunda maior entre as 20 maiores economias do mundo. E isso ainda atrai capital para o Tesouro americano, fortalecendo a moeda dos EUA. O índice do dólar DXY — que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas — chegou a subir 0,24%, indo a 100,91. "O real foi nesta sexta a moeda mais prejudicada, a que mais perdeu", diz Ariane.
Ferro e petróleo
O preço do minério de ferro recuou em Singapura. O petróleo teve leve baixa, mas ainda segue para o maior avanço semanal desde fevereiro, com o aumento das tensões no Oriente Médio. A baixa de 0,52% para o tipo Brent, que foi a US$ 74,49, também ajudou o dólar a subir.
Dados
Outro fator de tensão foi a espera pelos dados de receitas e despesas do governo. O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) informou que divulgará ainda hoje, sem horário pré-definido, os principais pontos do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 4º bimestre. O documento será encaminhado ainda nesta sexta ao Congresso Nacional, com previsão de que o envio ocorra somente à noite. De acordo com o ministério, os principais pontos do relatório bimestral serão disponibilizados a jornalistas entre o fim da tarde e o começo da noite.