O que é o chamado 'Trump Trade', que faz o dólar subir?
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL
30/10/2024 15h52
De 14 de outubro até a terça-feira (29), quando o dólar subiu ao maior valor desde março de 2021, a moeda americana já acumula avanço de 3,13% sobre o real. O valor passou de R$ 5,604 para R$ 5,780, segundo a Austin Rating.
O que aconteceu
Foi a partir daquele dia que a diferença entre Kamala Harris e Donald Trump nas pesquisas eleitorais passou a se estreitar. Conforme o 'The New York Times', Kamala tinha 50% da preferência enquanto Trump ficava com 47%. Mas nos levantamentos seguintes, ela começou a cair e Trump, a subir. Desde 21 de outubro, os números se estabilizaram: Harris com 49% e Trump com 48%.
Relacionadas
Essa subida do ex-presidente dos Estados Unidos nas pesquisas tem feito o dólar subir no mundo todo. E esse fenômeno o mercado batizou de "Trump Trade". O índice DXY, que mede a variação do dólar frente a seis moedas, subiu 2%. Passou de 102,89 para mais de 104,03 pontos.
Por que isso acontece?
São dois problemas: o primeiro tem a ver com as incertezas que a possibilidade de Trump como presidente geram. O mercado não gosta da falta de previsibilidade, quando ela vem, todos correm para ativos seguros, como o dólar.
O segundo é o próprio plano de governo do candidato. "Os comentários do candidato republicano Trump ajudaram a esclarecer sua posição com relação ao dólar americano, o que levou ao surgimento do 'Trump Trade'", publicou o banco holandês Rabobank.
Trump defende cortes agressivos de impostos e aumentos contundentes de tarifas de importação. "Esses fatores podem superaquecer a economia e aumentar os juros", diz Daniel Alberini, cofundador da Quartzo Capital, empresa de gestão de investimentos.
O investimento mais seguro do mundo é o Tesouro americano. Se os juros dos EUA sobem, além de seguro, ele se torna muito rentável. Desta maneira, investidores do mundo todo tiram o dinheiro de aplicações mais arriscadas em países emergentes — e vão para os Treasuries, como é chamado. Isso acontece também apenas com a expectativa de alta nos juros, como vem acontecendo durante esses dias.
É por isso que dólares estão saindo do Brasil, desvalorizando o real. "Poucos dias das eleições presidenciais americanas, o fator Trump tem levado a uma piora dos ativos, em especial de países emergentes, e ressaltando a força da moeda americana no âmbito global", diz Marcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX, banco de câmbio.
E se Kamala ganhar?
Uma vitória de Kamala Harris traria mais estabilidade para moedas emergentes e atrairia investimentos globais para esses mercados. É o que diz Alberini. "Seu plano econômico inclui propostas de aumento de impostos, o que poderia enfraquecer o dólar, beneficiando o fluxo de capitais para fora dos Estados Unidos", explica.
Um governo de Harris seria uma extensão das políticas de Joe Biden, diz o Rabobank. Ela tentaria reduzir custos de assistência médica, cortar impostos para a classe média, enquanto aumentaria a carga para os ricos e corporações.
A eleição do congresso americano também está na mira do mercado. "O chamado 'Trump Sweep' — uma vitória de Donald Trump com maioria no Senado e na Câmara —, pode trazer maior volatilidade aos mercados", diz Alberini. Um congresso dividido, ao contrário, dividiria decisões extremas, o que beneficia o cenário econômico global, principalmente o das economias emergentes.
Até quando vão os efeitos do "Trump Trade"?
A votação nos EUA vai até terça-feira, 5 de novembro. Então, pelo menos até lá a tendência de alta deve se manter, exceto se as pesquisas mostrem um crescimento de Kamala. Se a candidata vencer, pode haver mais calmaria no câmbio. No entanto, caso Trump seja vitorioso, o estresse sobre o dólar deve seguir em alta.