Possível mudança na política econômica dos EUA traz incerteza, afirma BC
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
12/11/2024 08h24
O BC (Banco Central) divulgou na manhã desta terça-feira (12) a ata com as justificativas para a elevação de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, para 11,25% ao ano. No documento, o Copom (Comitê de Política Monetária) menciona as incertezas com a conjuntura econômica dos Estados Unidos e o dinamismo do mercado de trabalho nacional.
O que aconteceu
Copom intensificou o ritmo de alta da taxa Selic na última reunião. A segunda alta consecutiva da taxa básica de juros faz parte da "estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante". "Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", diz a ata.
Convergência da inflação será determinante para os próximos passos. Segundo o Copom, o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário dependerá da "evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos".
BC vê incertezas na condução da política econômica dos Estados Unidos. Para os diretores da autoridade monetária, eventuais mudanças trazem "adicional incerteza" ao cenário, com "possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação". Vale ressaltar que a reunião do Copom foi finalizada no dia em que a eleição de Donald Trump foi confirmada.
Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o ritmo da desinflação e da desaceleração da atividade econômica. Em paralelo, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário.
Ata do Copom
Avaliação do Copom prevê desaceleração da economia norte-americana. A perda de força da atividade deve ocorrer de forma "gradual e ordenada". Sobre s China, o colegiado também debateu a desaceleração da segunda maior economia do planeta na tentativa de "decompor os aspectos cíclicos e estruturais envolvidos".
Os dados mais recentes de diversos países corroboram um cenário de maior diferenciação nos ciclos de crescimento e inflação à medida que os efeitos do choque global da pandemia se dissipam. Assim, espera-se menor correlação nas condições financeiras e menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países no futuro.
Ata do Copom
Condução das políticas fiscais ainda são motivo de preocupação. O Copom reconhece que o papel das medidas anunciadas para estimular a demanda após a pandemia, mas alerta que a atuação da política fiscal tem se tornado mais limitado com o aumento da dívida pública. "As políticas monetárias, por outro lado, em um ambiente tão incerto, mantêm-se reativas e dependentes dos dados na maior parte dos países, também trazendo inerente volatilidade aos mercados."
Mercado de trabalho
Queda do desemprego ao menor nível da história é avaliada com cautela. A ata do Copom afirma que o cenário motiva altas da inflação. "As recorrentes surpresas de curto e médio prazo na taxa de desemprego reafirmam um mercado de trabalho apertado, com dinamismo na geração de vagas, na troca de emprego e nas contratações", avaliam os diretores da autoridade monetária.
O Comitê avalia que o dinamismo observado no mercado de trabalho é compatível com a inflação de serviços, a qual se mantém acima do nível requerido para o cumprimento da meta de inflação.
Ata do Copom
Colegiado afirma que seguirá acompanhando "atentamente" a dinâmica de atividade. Para a autoridade monetária, o ritmo de crescimento da atividade econômica também é desafiador na tentativa de devolver a inflação para a meta. "A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada", destaca.
Dívida pública
BC vê "esmorecimento" do esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal. A ata avalia que o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia. "A percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas", afirma.
Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
Ata do Copom
Autoridade monetária diz existir desafio de estabilizar a dívida pública. De acordo com o Copom, os diretores discutiram que a redução de crescimento dos gastos pode ser indutor de crescimento econômico no médio prazo. "Políticas monetária e fiscal contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego", diz a ata.