Estrangeiros retiram R$ 24,2 bi da B3 em 2024, pior desempenho em 9 anos
Colaboração para o UOL
03/01/2025 13h33
A bolsa de valores B3 teve uma retirada de R$ 24,2 bilhões em 2024 de aplicações de investidores estrangeiros. Esse resultado representa o pior desempenho desde 2016, de acordo com dados da consultoria Elos Ayta.
O que aconteceu
Esta é a terceira vez em nove anos que os investidores estrangeiros retiram o dinheiro da B3. Desde 2016, o fluxo de capital estrangeiro na B3 registrou saídas em três ocasiões: 2018, 2019 e 2024.
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Em contraste, 2022 foi um ano de forte atração de investimentos, com entrada líquida de R$ 119,79 bilhões. No período entre 2021 e 2023, o mercado brasileiro recebeu um total de R$ 217,2 bilhões em aportes estrangeiros, destacando a relevância desse capital para o bom desempenho da bolsa.
Em 2024, apenas quatro meses do ano apresentaram saldo positivo de recursos estrangeiros: julho, agosto, outubro e dezembro. Em Em 2022 foram dez meses "no positivo", e em 2023, seis. "A redução no número de meses positivos ao longo dos últimos anos reflete uma crescente cautela dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil", diz o consultor Einar Rivero.
O mês de agosto destacou-se como o melhor, com uma entrada líquida de R$ 10,01 bilhões. Já abril foi o pior mês, registrando uma saída líquida de R$ 11,1 bilhões.
De acordo com o analista, a saída de recursos em 2024 reflete uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. Isso inclui a percepção de risco relacionada ao cenário político e econômico do Brasil, bem como os movimentos globais de aversão ao risco.
Segundo as regras do governo federal, os investidores estrangeiros (institucionais e individuais) podem investir nos mesmos produtos disponíveis para os investidores residentes no Brasil. De acordo com a Resolução 4.373 do Conselho Monetário Nacional (CMN), para investir no Brasil, o investidor estrangeiro deve contratar instituição para atuar como representante legal, representante fiscal ou custodiante.
Ano difícil para mercado de ações
A saída de recursos estrangeiros da B3 reflete um ano difícil para o mercado de ações. O Ibovespa fechou 2024 com índice negativo de -10,36%.
A bolsa em queda é só um reflexo da desvalorização e deterioração da percepção do 'risco Brasil'", diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos. "Muito disso se deve a falta de clareza e falha na condução de termas relevantes que pareciam estar endereçados, como reforma tributaria e marco fiscal."
Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, diz que a política de gastos do governo federal teve influência decisiva na queda do Ibovespa. "No início do ano casas davam Selic em torno de 8% a 9% e no final das contas tivemos uma inflação bem resiliente, gastos do governo muito forte, tudo isso contribuiu para índices no final do ano no patamar negativo", destaca.
Para Jarbas Thaunahy, professor de finanças da Strong Business School, o desempenho do Ibovespa em 2024 foi moldado por um conjunto de fatores internos e externos. "Podemos destacar o cenário macroeconômico, principalmente as decisões de política monetária do Banco Central", avalia Thaunahy. "Além disso, a inflação global, a guerra na Ucrânia e as incertezas geopolíticas foram os principais drivers externos que impactam o mercado brasileiro."