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Fred Trajano, do Magalu: Com juros altos, desafio não é vender, é dar lucro

Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza - Bruno Santos/Folhapress Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza - Bruno Santos/Folhapress
Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

14/03/2025 05h30

Os juros altos com os quais o Brasil convive hoje são o pesadelo das empresas de varejo de eletrodomésticos. Eles oneram a operação e tornam mais difícil manter o negócio no azul. Para não ser engolido pelo cenário desafiador, o Magazine Luiza tem buscado se tornar uma empresa "à prova de Selic".

Os resultados apresentados na noite de ontem mostram que a empresa passou na prova, ao menos por ora. O Magalu teve lucro líquido recorrente de R$ 277 milhões em 2024, ante um prejuízo de R$ 550 milhões em 2023. Foi o quinto trimestre seguido de resultado positivo, depois de um período no vermelho.

"Estamos em um momento de demanda aquecida e juros altos. O desafio não é vender, é ter lucro", disse o CEO, Frederico Trajano, em entrevista exclusiva ao UOL.

Como ser à prova de juros?

A receita para se tornar à prova de juros passa pela aposta pesada em serviços financeiros. A LuizaCred, operação de cartões de crédito da varejista, em associação com o Itaú, chegou a R$ 16 bilhões em faturamento no quarto trimestre de 2024, e um retorno (ROE) na casa dos 30%, mesmo em um cenário de juros altos.

Com isso, os serviços financeiros contribuíram significativamente para ampliar a rentabilidade do grupo. "Todas as empresas financeiras do grupo vão continuar tendo um papel fundamental no crescimento das margens", diz Trajano.

A oferta de serviços financeiros deve crescer. O Magazine Luiza conseguiu em fevereiro a licença do Banco Central para as operações da financeira do MagaluPay. Além do cartão de crédito, o MagaluPay oferece seguros, consórcios e crédito direto ao consumidor (crediário). Com a licença do BC, a meta é reforçar a oferta de serviços financeiros online.

Os serviços financeiros integram um processo maior de diversificação do Magalu. Nos últimos anos, a varejista comprou negócios como Netshoes e Kabum!, e criou operações como a financeira MagaluPay e a empresa de logística Magalog, dentre outras frentes. O objetivo era, de um lado, diversificar os produtos oferecidos pelo grupo e, do outro, melhorar a rentabilidade das vendas.

Foco em conversão de vendas

Para 2025, o foco está em converter mais vendas. Depois de arrumar a casa para se manter no azul, a empresa agora está focada em ampliar as vendas para o consumidor que já visita o Magazine Luiza. Foi a forma que a empresa encontrou de buscar aumento das vendas em cenário de despesas financeiras ainda em alta devido aos juros. "Aproveitamos muito pouco das nossas visitas em vendas reais. Esse ano estamos fazendo um trabalho para melhorar nossas taxas de conversão", diz Trajano.

Para isso, a empresa está investindo para melhorar a experiência do consumidor. Dentre as frentes de melhorias estão a usabilidade de suas plataformas, com um olhar para busca, filtros e navegação, a competitividade em preço, prazo de entrega e custo do frete, a análise de crédito, e uma oferta atrativa de modos de pagamento.

Com isso, o Magalu ataca pontos que são hoje fortalezas de um de seus principais concorrentes, o Mercado Livre, líder em vendas online no Brasil. Enquanto o Magalu arrumava a casa para voltar a operar no azul, o Mercado Livre ganhou participação de mercado nos últimos anos, aproveitando o vácuo deixado pela crise das Americanas.

Meta é ampliar vendas, sem deixar de lado a rentabilidade. "O foco da empresa nos últimos anos foi quase que exclusivo em rentabilidade. A partir desse ano, começamos a direcionar o nosso foco para fazer os dois: olhar o crescimento de vendas, mas sem abrir mão da rentabilidade. Como esse ano continua sendo de aumento de taxa de juros, essa transição tem que ser cuidadosa", diz Trajano.

A economia em 2025

Cenário em 2025 deve continuar desafiador. A expectativa do empresário é de que, mesmo com os juros altos (a expectativa do mercado é de Selic na casa dos 15% na metade do ano), a atividade econômica deve continuar crescendo, ainda que menos do que em 2024. "Vejo uma demanda que vai continuar forte e os juros que vão continuar altos", diz.

Governo deveria conter o fiscal para segurar inflação. Sobre a questão fiscal e a inflação no país, Trajano avalia que seria "prudente" uma maior contenção fiscal para evitar uma alta ainda maior nos preços dos alimentos.

É prudente, e não é uma coisa muito difícil de ser implementada, que haja uma agenda fiscal mais contida. Para que esse crescimento econômico não se reflita numa puxada de preços muito grande. O preço dos alimentos está alto no mundo inteiro, não é só no Brasil. Mas, até mesmo por esse contexto climático e mundial, que acaba pressionando o custo dos alimentos, um cenário fiscal mais contido é certamente melhor do que um cenário fiscal muito esticado.
Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza


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