Haddad: 'Não vamos manter 8%, 9% de juro real a vida inteira'


Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)*
20/03/2025 17h21
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse hoje que a taxa Selic não deve ficar elevada por muito tempo e que os juros reais não vão ficar entre 8% e 9% "a vida inteira". Em entrevista à Globonews, disse que "ninguém cobra os economistas sobre as barbeiragens que preveem" ao falar das estimativas feitas para a economia e criticou a decisão do BC (Banco Central do Brasil) ao apenas considerar essas opiniões para elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano.
O que aconteceu
Juros reais a 8% ou 9% poderiam asfixiar a economia, na visão do ministro. "Não é esse o horizonte que está colocado. Faço audiência toda semana com empresário, vou para São Paulo, abro a minha agenda para quem está pedindo para explicar um problema, pedir ajuda na superação de outro problema", afirmou.
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Ao ser questionado sobre trajetória da dívida pública, Haddad disse que atual patamar da Selic, elevado, é momentâneo. "Essa Selic é uma momentânea para corrigir um problema inflacionário que tem razões domésticas, mas tem razões externas também. Nós estamos corrigindo", disse.
Ministro disse que o BC tem que olhar para as expectativas de inflação ao conduzir a política monetária, mas observar fundamentos da economia. Porém, disse confiar que o BC vai olhar para todas as variáveis e trazer a inflação para a meta "da maneira mais inteligente possível".
Ao elevar a taxa básica de juros a 14,25% ao ano nesta semana, a autoridade monetária mencionou a desancoragem das expectativas de mercado para a inflação. O BC também fez alertas sobre a resiliência da atividade econômica do país e pressões do mercado de trabalho.
"Ninguém cobra economistas sobre a barbeiragem das previsões", criticou. O ministro considera que o governo sofre mais pressão quando erra alguma previsão da economia.
Haddad também foi questionado sobre ter dito que "não esperava um cavalo de pau" do presidente do BC (Banco Central) ao anunciar subida da taxa Selic. O ministro disse que a frase foi no sentido de que ele não esperava outra decisão de Gabriel Galípolo, quem considera "uma pessoa tecnicamente preparada e psicologicamente preparada" para o cargo que ocupa".
Ministro reconheceu, mais uma vez, apoio do Congresso às medidas econômicas nos últimos dois anos, mas ponderou a falta de aprofundamento na contenção do corte de gastos. "O Congresso teve a coragem de botar o dedo na ferida e ajudar o governo. Mas o pacote de medidas de contenção de gastos no ano passado, que todo mundo imaginava que o Congresso fosse aprofundar, não aconteceu isso. O Congresso recuou de muita coisa", pontuou.
Não há um clima de animosidade entre os integrantes do governo, mas Haddad reconhece divergências e tensões que envolvem a natureza das funções de cada um. Fala aconteceu após questionamento sobre críticas que recebe, até por parte de integrantes do PT nos bastidores, reconhecidamente falas da hoje ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. "Eu conheço a Gleisi há muito tempo, eu tenho uma relação de muitos anos. O Rui [Costa, ministro da Casa Civil] conheço há menos tempo, então você vai naquele processo de aproximação gradual. Casa Civil e Fazenda, independentemente dos personagens, tem uma questão, porque são missões um pouco diferentes. Então essa relação é um pouco mais tensionada pela natureza do que cada um pretende entregar", disse.
Haddad afirmou que, na política, é preciso saber lidar com divergências. "A política é uma coisa que você está 100% exposto, o tempo todo exposto, com tarefas hercúleas pela frente e um ambiente de trabalho, de coordenação política que não é simples, porque é uma heterogeneidade ainda maior do que a que existe no PT, que já é grande", disse.
* com informações da Reuters e Estadão Conteúdo