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Pânico se espalha e derruba bolsas mundiais após 'tarifaço' começar

Clarice Sá, Denyse Godoy e Robson Santos

Do UOL, em São Paulo*

06/04/2025 23h37Atualizada em 07/04/2025 11h13

As principais bolsas de valores da Ásia fecharam em forte queda — a de Hong Kong teve a pior baixa desde a crise de 1997 — e as europeias estão derretendo no início dos negócios desta segunda-feira (7), primeiro dia útil após entrar em vigor o 'tarifaço' do presidente americano, Donald Trump. Os principais índices das bolsas dos Estados Unidos também abriram com fortes baixas, indicando um dia de bastante nervosismo em Wall Street. A bolsa brasileira também iniciou o dia em queda.

Com medo das consequências da guerra comercial global iniciada por Trump, os investidores estão vendendo freneticamente ativos de risco, como as ações de empresas negociadas em bolsa, para colocar o dinheiro em opções mais seguras, a exemplo do ouro e dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano.

O que está acontecendo

As bolsas asiáticas registraram fortes perdas desde o início do pregão, na noite de domingo no horário de Brasília, manhã no Oriente. A maior baixa se deu na bolsa de Hong Kong: 13,2%, a maior queda diária em quase 30 anos. A de Xangai recuou 7,3% e a do Japão caiu 7,8%. Logo na abertura, a negociação dos contratos futuros do índice da bolsa de Tóquio foram suspensas — uma medida conhecida como circuit breaker — depois de os ativos apresentarem grande baixa e volatilidade. A bolsa de Taiwan perdeu 9,7%, e a da Coreia do Sul recuou 5,6%.

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Por volta das 10h30, as bolsas europeias despencavam. A de Londres recuava 3,8%, a de Frankfurt, 4,9%, e a de Paris, 4,9%.

No mesmo horário, os índices de Nova York tinham forte queda. O Dow Jones caía 3,88%, o S&P 500 — que reúne as ações das 500 maiores empresas negociadas nas Bolsas americanas — recuava 4,47%, e o Nasdaq, de companhias de tecnologia, perdia 5,05%.

O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, tinha queda de 2,42%, para 124.175 pontos.

Os índices futuros do petróleo também recuavam à medida que aumentam os riscos de recessão global. O Brent, referência para os preços praticados pela Petrobras, recuava 1,9%, para US$ 64 o barril, e o WTI, 0,68%, para US$ 60,57 o barril.

Começou o "tarifaço"

No sábado (5), entrou em vigor a determinação que impõe uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações de todos os parceiros comerciais dos EUA. A taxação foi anunciada por Trump em um evento na Casa Branca na quarta-feira passada (2) e publicado em uma ordem executiva da agência governamental US Trade Representative. Até a próxima quarta (9), todos os países pagarão apenas essa tarifa adicional de 10% — exceto aqueles que foram alvos de ações específicas anteriormente, como México e Canadá.

Taxa do Brasil é de 10% e não deverá ser alterada no curto prazo. Essa porcentagem foi aplicada aos países com quem os EUA têm superávit comercial.

No dia 9 de abril, as tarifas serão elevadas para as demais nações com quem os EUA têm déficit comercial. As novas tarifas foram calculadas dividindo o déficit de 2024 pelo valor das importações, segundo o US Trade Representative. As alíquotas podem chegar a 50%, como no caso de Lesoto e do arquipélago de São Pedro e Miquelão. Uma taxa de 25% já havia sido imposta ao México e ao Canadá e essa porcentagem não deverá mudar.

Aversão ao risco

Ainda está difícil para empresas e governos calcular os efeitos do aumento das tarifas para a economia mundial. Em momentos de elevada incerteza como o atual, a aversão a risco dos investidores cresce. O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado acionário com base nos derivativos do S&P 500 e é conhecido como "índice do medo", disparou 51% na sexta (4) na Bolsa de Chicago.

Os riscos de uma recessão nas economias global e dos EUA subiram de 40% para 60% com o anúncio do "tarifaço", de acordo com o banco de investimentos americano JP Morgan. "As políticas disruptivas dos EUA foram reconhecidas como o maior risco para as perspectivas globais durante todo o ano", segundo o banco.

A reação dos governos dos países atingidos pelo "tarifaço" à medida de Trump está dividida. Alguns adotaram tom de desafio, como a China, que já está retaliando o EUA; outros mostraram disposição em negociar, como o Brasil. Segundo a Casa Branca, 50 nações já procuraram o governo americano para negociar.

No final da semana passada, após o "tarifaço" ser anunciado, as bolsas mundiais já tiveram fortes quedas. Mas as baixas não fizeram Trump recuar, como esperavam os investidores.

Trump está se mantendo firme. O presidente americano disse na noite de domingo (6) que as quedas nos mercados mostravam que o "remédio" das tarifas está funcionando. "Não quero que nada caia, mas às vezes você tem que tomar um remédio para consertar alguma coisa", afirmou a jornalistas que estavam com ele a bordo do Air Force One, o avião oficial da Presidência. Trump afirmou ainda que não vai fazer um acordo com a China até que o déficit comercial dos EUA seja superado.

Mesmo apoiadores de Trump estão se manifestando contra o "tarifaço". O lendário e bilionário gestor de investimentos americano Bill Ackman, fundador e presidente do fundo Pershing Square Capital Management, foi à rede social X na noite de domingo (6) tentar chamar o presidente à razão.

Ao impor tarifas massivas e desproporcionais a nossos amigos e inimigos do mesmo jeito e, assim, lançar uma guerra econômica global contra o mundo inteiro de uma vez, estamos no processo de destruir a confiança em nosso país como parceiro comercial, como um lugar de negócios, como um mercado para investir capital. Quando os mercados desabam, os novos investimentos cessam, os consumidores param de gastar dinheiro, e empresas não têm escolha a não ser cortar investimentos e demitir trabalhadores. O presidente tem a oportunidade, na segunda (7), de fazer uma pausa de 90 dias, negociar e resolver as tarifas assimétricas injustas. Senão, estaremos rumando para um inverno econômico nuclear autoimposto, e devemos começar a nos preparar para o pior.
Bill Ackman, fundador e presidente do fundo Pershing Square Capital Management

*Com agências internacionais de notícias

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