Após abrir em queda, Bolsas americanas sobem mesmo com retaliação chinesa


Depois de despencarem na quinta-feira, as Bolsas de Valores dos Estados Unidos abriam o dia de hoje oscilando negativamente após nova retaliação da China, que aumentou para 125% as tarifas de importação a produtos norte-americanos em resposta aos 145% impostos pelos Estados Unidos ao chineses. No meio da tarde, porém, os índices passaram a se valorizar.
O que aconteceu
Após uma quinta-feira de perdas, o mercado americano abriu em queda na manhã de hoje. Por volta das 11h30 no Brasil, a Dow Jones caia 269 pontos, ou 0,68% em relação ao fechamento de ontem, quando o índice fechou com desvalorização de 2,5% em relação à quarta-feira. O S&P 500, um índice mais amplo, caia 0,67% após despencar 3,46% na quinta. Já a Nasdaq, com empresas de tecnologia, recuava 0,70% depois de derreter 4,31% no fechamento de ontem.
Relacionadas
Pouco tempo depois, a tendência se inverteu. Às 11h45, todos os índices operavam e alta na comparação com o fechamento de quinta: 0,17% (Dow Jones), 0,09% (S&P 500) e 0,25% (Nasdaq). Perto do meio-dia, os três índices voltavam a operar em queda.
Por volta das 13h50, as valorizações ganharam consistência: alta de 1,21% para a Dow Jones, 1,36% para a S&P 500 e 1,56% para a Nasdaq.
O pessimismo começou ontem, após o anúncio americano de que as tarifas contra a China já somam 145%. O percentual inclui o novo imposto de 125% sobre mercadorias mais a alíquota de 20% cobrada em resposta à dificuldade de Pequim impedir a exportação para os Estados Unidos do opioide fentanil, um composto químico que imita os efeitos do ópio.
Hoje, o mercado americano acordou com outra má notícia: a China também anunciou aumento nas tarifas aos produtos americanos. A partir de amanhã (12), elas saltarão de 84% para 125%. "Não há vencedor numa guerra de tarifas", afirmou o líder chinês, Xi Jinping, ao anunciar a retaliação.
A montanha russa do mercado americano deriva, em parte, "da intensificação da guerra comercial". "A imposição de tarifas tão altas como as que o Trump propôs— e revogadas agora por 90 dias [contra outras nações]— pode trazer impactos profundos nas cadeias produtivas dos Estados Unidos e colocam a possibilidade, inclusive, de uma recessão na economia norte-americana", afirma André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais da Remessa Online.
Isso tende a impactar os balanços das empresas que produzem nos Estados Unidos e o volume de vendas de empresas que vendem lá, prejudicando o desempenho da economia americana, o que acaba se traduzindo em diminuição do preço das ações das empresas listadas na Bolsa.
André Galhardo, consultor econômico
A escalada nas tarifas aumentou o temor de uma desaceleração econômica global, pressionando as Bolsas. "O mercado permanece volátil enquanto aguarda desdobramentos nas negociações comerciais", diz Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital.
Na quarta-feira, o banco JPMorgan reafirmou uma previsão pessimista. Para o grupo, os EUA têm 60% de chance de passarem por uma recessão. "A economia [americana] ainda corre o risco de entrar em recessão, dado o nível de choques simultâneos que absorve", referendou o economista-chefe da consultoria RSM, Joe Brusuelas.
A economia está desacelerando, independentemente da política comercial.
Jeffrey Roach, economista-chefe da LPL Financial
A volatilidade histórica desse nível não estava exatamente nos planos (...) Estamos sentindo o alívio da mudança de rumo de Trump, mas, na nossa opinião, ainda não estamos fora de perigo. Precisamos de mais estabilização.
Ken Mahoney, da Mahoney Asset Management
Mattina lembra, no entanto, que os novos dados da inflação americanas são bons. O Índice de Preços ao Consumidor dos EUA caiu 0,1% em março, após um aumento de 0,2% em fevereiro, resultando em uma taxa anual de 2,4%. "Esses dados indicam uma desaceleração da inflação, o que pode aliviar as pressões sobre o Federal Reserve [banco central americano] para manter uma política monetária restritiva", diz a especialista da Hike Capital.