IPCA
0,46 Jul.2024
Topo

BC intervém no Cruzeiro do Sul; rombo supera R$ 1,2 bi

Aluísio Alves

04/06/2012 19h12

SÃO PAULO, 4 Jun (Reuters) - O Banco Central decretou, nesta segunda-feira (4), uma intervenção de 180 dias no Banco Cruzeiro do Sul (CZRS4.SA), após identificar o  descumprimento de regras do sistema financeiro, e que deve ter resultado num rombo de pelo menos R$ 1,2 bilhão. 

A medida veio após as ações do banco terem desabado 37% nos dois últimos pregões da semana pasaada na Bovespa,  quando surgiram os primeiros rumores de negociações para venda do controle da instituição ao BTG Pactual (BBTG11.SA).  

A negociação com ações do Cruzeiro do Sul foi suspensa nesta manhã e deve durar pelo menos dois meses, até que a PricewaterhouseCoopers apresente os resultados de uma auditoria para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), órgão privado que assumiu a administração do banco no Regime de Administração Especial Temporária (Raet). 

O FGC vai tentar preparar a instituição para que seja vendida. "Muito antes de ser necessária uma liquidação, vão aparecer muitos interessados", disse a jornalistas o diretor-executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno. 

O BC informou que foi identificada uma "insubsistência em itens do ativo". O problema estaria relacionado à contabilização irregular na carteira de crédito e as falhas foram identificadas entre março e abril, disse uma fonte a par do assunto. 

O Cruzeiro do Sul atua principalmente no crédito consignado e na oferta de empréstimos de curto prazo a empresas atrelados a recebíveis. A carteira total de financiamentos da instituição era de R$ 7,6 bilhões o fim do primeiro trimestre.     

Uma fonte qualificada do governo informou que será feito um "balanço de abertura" para verificar a contabilidade do Cruzeiro do Sul. Em paralelo, será instaurada uma comissão de inquérito para averiguar as causas da origem dos problemas. Caso se detecte indícios de crime financeiro, o BC fará denúncia ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e abrirá também processo administrativo punitivo.   

Segundo o BC, a intervenção não afeta os negócios do Cruzeiro do Sul, que continuarão a funcionar normalmente, "podendo realizar todas as operações para as quais está autorizado". A relação de credores e devedores está preservada com o banco, cujos ativos no fim de 2011 representavam 0,22% do sistema financeiro do país e 0,35% dos depósitos. 

O banco, que teve prejuízo de R$ 57,9 milhões no primeiro trimestre, teve seu rating reduzido pelas agências de classificação Moody's e Standard & Poor's nos últimos meses. Em dezembro, o Cruzeiro do Sul anunciou a compra 88,7% do Banco Prosper.  

O banco vendeu mais de US$ 300 milhões em títulos nos mercados internacionais no ano passado, mas essa fonte de recursos secou em decorrência da crise de dívida que atingiu muitos países da Europa.   

Em outubro passado, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Morada, com base em relatório de interventor que apontou situação de insolvência do banco e violação de regras legais. 

O episódio recrudesceu a desconfiança dos investidores quanto à efetividade dos mecanismos atuais para prevenir práticas bancárias nocivas antes que sejam necessárias medidas mais extremas. 

Nesta segunda-feira, ações de vários bancos médios caíram na Bovespa. BicBanco tombou 6,3%, ABC Brasil cedeu 3,5%, Banrisul teve baixa de 2,6%. O setor financeiro foi o de pior desempenho do Ibovespa, que fechou o dia praticamente estável. 

Isso, apesar de o BC e do FGC terem afirmado que o problema do Cruzeiro do Sul é localizado e que não afeta o sistema financeiro como um todo.