BC diz que incerteza impede Copom de dar indicação futura para juros e pede transparência fiscal
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central optou por não dar indicação futura sobre os próximos passos para os juros básicos no país diante de incertezas no cenário, mas insistiu em seu firme compromisso com a meta de inflação, mostrou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), também defendendo transparência da política fiscal do governo.
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No documento, o BC informou que sua decisão de retomar o ciclo de alta na Selic se baseou em três pontos de análise: um cenário que demanda política monetária mais contracionista, uma percepção de que o início do ajuste deveria ser gradual e uma discussão sobre ritmo, magnitude do ciclo e sua comunicação.
"Em virtude das incertezas envolvidas, o Comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta", disse o BC no documento divulgado nesta terça-feira.
A meta central estabelecida para a inflação no país é de 3% neste e nos próximos anos, mas as expectativas do mercado para os preços à frente seguem persistentemente acima desse alvo.
"A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê", afirmou a ata.
Na última quarta-feira, o Copom decidiu elevar a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, passando a ver um cenário com risco mais elevado de alta da inflação à frente e sugerindo também um possível superaquecimento da economia brasileira.
Na ata, o BC explicou "que o início do ciclo deveria ser gradual" --ponto defendido por todos os diretores-- de forma a "se beneficiar" do acompanhamento diligente dos dados em meio a um contexto de incertezas nos cenários externo e doméstico.
Por outro lado, segundo a autarquia, a decisão permite "que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar".
O documento reafirmou que o ritmo e a magnitude do ciclo dependerão da evolução da inflação, das projeções e expectativas de inflação, da ociosidade da economia e do balanço de riscos para preços à frente.
A ata reforçou a avaliação do encontro do Copom da semana passada de que o balanço de riscos deixou de estar equilibrado e passou a ser assimétrico, com maior peso dos riscos de alta de preços.
"Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma trajetória de taxa de juros mais elevada", disse.
Segundo o BC, dados sugerem uma deterioração da composição da inflação, ainda que o número agregado não tenha divergido significativamente do que era esperado, citando uma interrupção no processo desinflacionário no período mais recente.
Na comparação com a ata de julho, o BC excluiu do texto menção de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "tem arrefecido".
Sobre o crescimento da economia, que tem surpreendido positivamente, a ata afirmou que vários membros da diretoria enfatizaram que a dinâmica da atividade foi bastante relevante no período recente e que seu ritmo torna mais desafiadora a convergência da inflação à meta.
Associado a essa avaliação, o BC disse que discutiu o dinamismo do mercado de trabalho e avaliou que o crescimento real de salários acabará impactando preços caso seja persistente, embora o momento e a magnitude desse movimento permaneçam incertos.
"A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias seguem indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada", disse.
POLÍTICA FISCAL TRANSPARENTE
Em meio a críticas de analistas sobre iniciativas criativas adotadas pelo governo na gestão das contas públicas, o BC enfatizou a importância da credibilidade e da transparência nessa área.
"Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirmou.
O Comitê ponderou que incorpora em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
Em relação ao ambiente internacional, a autarquia disse que o "cenário externo se mantém desafiador, mas se mostra mais benigno do que na reunião anterior", apontando que o Comitê espera uma desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana.
Ao citar que a taxa de câmbio apresentou volatilidade no período recente, refletindo alterações no cenário doméstico e internacional, a ata reforçou que não há relação mecânica entre esse fator e a determinação doméstica dos juros básicos.
"Um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica", afirmou.