Ibovespa tem queda modesta após eleição de Trump; Gerdau dispara
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, mas distante da mínima do dia, quando recuou abaixo de 129 mil pontos, em sessão marcada pela repercussão da eleição do republicano Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, além de resultados corporativos e expectativas para decisão de política monetária do Banco Central.
Relacionadas
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,24%, a 130.340,92 pontos, tendo marcado 128.822,16 pontos na mínima e 130.669,69 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou 24,2 bilhões de reais.
Trump, de 78 anos, reconquistou a Casa Branca derrotando a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, e sua vitória terá implicações importantes para as políticas de comércio e mudança climática dos EUA, a guerra na Ucrânia, os impostos dos norte-americanos e a imigração.
Diante de propostas aventadas na campanha que incluem manter os cortes de impostos existentes e fazer mais, as bolsas dos EUA reagiram com altas expressivas ao desfecho da corrida eleitoral, mas a percepção de que as políticas de Trump são potencialmente inflacionárias elevou os rendimentos dos Treasuries.
O S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, fechou em alta de 2,53%, enquanto o yield do título de 10 anos do Tesouro dos EUA marcava 4,4354% no final da tarde, de 4,288% na véspera e 4,479% na máxima do dia.
No Brasil, o dólar reagiu inicialmente com alta ante o real e as taxas dos DIs avançaram firme, enquanto o Ibovespa caiu mais de 1% nos primeiros negócios, mas o tom negativo perdeu força durante a sessão, com a moeda norte-americana terminando em queda de 1,2% ante a divisa brasileira e as taxas longas dos DIs recuando.
Na visão do gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, muitos investidores já haviam se posicionado mais negativamente, não só pela possível vitória de Trump, como pela deterioração do quadro fiscal doméstico.
"O mercado ainda abriu sob efeito dos 'Trump trades", mas com o passar do dia foram zerando essas posições 'no fato'", afirmou.
Em paralelo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira que a rodada de reuniões com ministros pedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discussão de medidas fiscais foi concluída. Ele apontou que o próximo passo de Lula deve ser falar com os presidentes do Senado e da Câmara.
Analistas consultados pela Reuters afirmaram que a vitória de Trump eleva a necessidade de o governo anunciar medidas convincentes de cortes de gastos o quanto antes, caso contrário câmbio e juros seguirão pressionados.
"O mercado está comprando que o governo será obrigado a vir com um pacote fiscal decente", afirmou o gestor de uma empresa de previdência complementar, destacando que o "trigger" da melhora foi o movimento no câmbio, que ajudou os DIs e a bolsa. "Mesmo com cautela, o mercado está pagando na frente."
Investidores do mercado brasileiro aguardam ainda nesta quarta-feira a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, com as expectativas apontando para uma aceleração no ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto percentual, levando a taxa para 11,25% ao ano.
Uma nova bateria de resultados também é esperada após o fechamento do mercado, incluindo os números de Braskem, Eletrobras, Minerva, Petz, Totvs, Hypera, entre outras.
DESTAQUES
- GERDAU PN disparou 9,61% após divulgar resultado acima do esperado no terceiro trimestre, com lucro líquido ajustado de 1,43 bilhão de reais. Executivos do grupo siderúrgico afirmaram considerar o resultado da eleição nos EUA como positivo para a demanda de aço na América do Norte, uma das principais operações da empresa. Na contramão, CSN ON e USIMINAS PNA, que têm operações siderúrgicas mais concentradas no Brasil, perderam 3,01% e 0,6%, respectivamente.
- GPA ON encerrou em baixa de 1,88%, após cair 7,5% no pior momento mais cedo, um dia após reportar resultado do terceiro trimestre com prejuízo líquido de 253 milhões de reais, considerando as operações continuadas, revertendo lucro de 805 milhões de reais um ano antes. O Ebitda ajustado Brasil avançou 22,6%, mas o consolidado encolheu 64,7%. No setor, CARREFOUR BRASIL ON caiu 3,63% e ASSAÍ ON, que divulga balanço na quinta-feira, recuou 1,56%.
- VALE ON cedeu 1,13%, acompanhando o movimento dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na bolsa de Dalian encerrou o dia em baixa de 0,76%, a 781,5 iuanes (109,05 dólares) a tonelada.
- PETROBRAS PN fechou com acréscimo de 0,03%, apesar do declínio dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent terminou a sessão com queda de 0,81%. PETROBRAS ON perdeu 0,1%.
- RD SAÚDE ON caiu 1,7%, mesmo com o balanço do período de julho a setembro mostrando lucro líquido ajustado de 336,8 milhões de reais, ante 268,4 milhões de reais um ano antes, com expansão de receita. O conselho de administração da rede de varejo farmacêutico também aprovou programa de recompra de até 3,23 milhões de ações pelo prazo de 18 meses. A ação vinha de duas altas seguidas, período em que subiu quase 7%.
- IGUATEMI UNIT recuou 1,62%, mesmo com o balanço divulgado na noite da véspera mostrando lucro líquido de 101,2 milhões de reais no terceiro trimestre do ano, alta de 69,4% ante igual intervalo de 2023, com crescimento de quase 10% na receita líquida e aumento de 7,7% no Ebitda.
- VIBRA ON subiu 2,1%, tendo no radar divulgação de lucro líquido consolidado de 4,2 bilhões de reais no terceiro trimestre, mais que triplicando seu resultado na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado foi apoiado pelo reconhecimento de recuperação tributária relacionada a Lei Complementar 194/22, a qual a Vibra teve decisão judicial favorável, que representou um efeito líquido de cerca de 2,9 bilhões de reais no trimestre.