Campos Neto volta a defender choque fiscal positivo no Brasil
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender nesta terça-feira um choque fiscal positivo para assegurar a redução dos prêmios de risco dos ativos brasileiros, que estariam elevados por conta das dúvidas do mercado sobre a capacidade do governo em equilibrar as contas públicas.
Em evento da Associação Comercial de São Paulo, ele destacou a expectativa em torno do anúncio de medidas fiscais em discussão no governo, frisando a importância de iniciativas que gerem um impacto positivo.
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"Diria que tem um prêmio de risco relacionado ao fiscal e uma percepção de que precisamos gerar um choque de risco positivo de alguma forma para poder endereçar o problema mais estruturalmente", disse Campos Neto durante apresentação.
O chefe do BC apontou que a maior parte dos países do mundo também enfrenta problemas para equilibrar suas contas públicas no momento, mas ponderou que o Brasil tem uma dívida bruta acima de seus pares, além de um espaço para atuação menor por conta com uma carga tributária já elevada.
Ele afirmou, no entanto, que não acredita que o país esteja em um cenário de dominância fiscal -- quando a política monetária não gera efeitos por conta do descontrole fiscal --, e disse que a expectativa no mercado hoje é pelo tamanho do pacote de contenção de gastos a ser anunciado pelo governo.
"A grande expectativa hoje é como vai ser o ajuste que vai ser anunciado em breve... a gente precisa de um anúncio que gere esse impacto positivo", disse.
O Executivo havia prometido a divulgação de medidas fiscais para depois do segundo turno das eleições municipais. A demora pelo anúncio tem estressado o mercado e pressionado os ativos brasileiros.
Em entrevista ao Times Brasil/CNBC divulgada no domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o pacote está fechado e deve ser divulgado em breve, tendo apenas a pendência de resposta do Ministério da Defesa.
No evento desta manhã, Campos Neto ainda alertou que o país tem "claramente" um desafio na parte de inflação, avaliando que a alta dos preços vinha se estabilizando, mas encontrou um obstáculo com os custos de serviços, junto de um movimento de desancoragem das expectativas.
Ele enfatizou que existe uma percepção de piora da inflação brasileira entre "agentes do mundo real", rejeitando a ideia de que o pessimismo em relação ao avanço dos preços venha apenas do setor financeiro.
"O setor real é sempre um pouco mais pessimista em relação à inflação do que o mundo financeiro... as empresas têm geralmente uma percepção pior", afirmou.
No relatório Firmus mais recente, as projeções medianas das empresas consultadas pelo BC apontavam, em agosto, uma inflação de 4,20% para 2024 e de 4,00% para 2025. No fim daquele mês, a projeção mediana das instituições de mercado do relatório Focus era de 4,26% para 2024 e de 3,92% para 2025.
Por outro lado, o presidente da autarquia avaliou que o país conta com uma "boa notícia" na atividade econômica, com uma taxa de desemprego historicamente baixa -- 6,4% no trimestre encerrado em setembro --, além de um PIB com expansão acima do esperado.
Ele lamentou o fato de que o Brasil "infelizmente está na contramão" de seus pares ao precisar elevar sua taxa de juros para controlar a inflação, enquanto outros países estão em meio a ciclos de afrouxamento monetário.