UOL - O que exatamente faz a plataforma GetNinjas?
Eduardo L´Hotellier - É um site e um aplicativo onde clientes podem contratar qualquer tipo de serviço, desde o pintor, diarista, personal trainer, professor de inglês, professor de piano, assistência técnica de celular, de eletrodoméstico. O que o cliente precisar, encontra em nosso site e em nosso aplicativo.
Como surgiu a ideia de criar um site de serviços?
Em 2010, precisei contratar um pintor. Fui aos classificados tradicionais e não encontrei. Ligava para um, ligava para outro e ninguém atendia o telefone. Quando finalmente consegui um profissional, ele fez o trabalho e não ficou muito bom. Não tinha com quem reclamar. Não tinha avaliações. Eu não sabia se aquele profissional era bom ou não. Neste momento, vi uma oportunidade incrível de criar uma plataforma que ofereceria facilidades aos clientes de encontrarem bons profissionais, e de profissionais divulgarem seus serviços e crescerem nos seus negócios.
Qual é o maior desafio hoje na área de inovação e tecnologia aqui no Brasil?
Definitivamente, atrair e reter talentos excepcionais. O Brasil, como país, precisa investir mais em ciência e tecnologia, precisa investir mais na formação desses jovens, porque existe um mercado de trabalho com desemprego por um lado, mas sobra oferta de empregos de outro.
O número de vagas para engenheiro de software excede muito o número de engenheiros disponíveis no mercado. Isso no Brasil, mas também acontece em outros países do mundo. É óbvio, então, para a nação que investimentos nessas profissões irão colocar o Brasil um passo à frente dos outros países no mundo. Temos que começar a investir. Isso tem acontecido, mas é preciso que aconteça ainda de forma mais acelerada, mais investimentos em ciência e tecnologia no país.
A educação no Brasil atende essa demanda por cursos de tecnologia? Onde investir?
Primeiramente, fazer o básico. O estudante brasileiro está nas últimas colocações em línguas e em exatas nos rankings internacionais. Desenvolver os dois é fundamental. Segundo, acredito que ciência da computação, programação, engenharia de software deveriam ser disciplinas ensinadas no ensino médio, independentemente da profissão que as pessoas queiram seguir no futuro.
Estudamos biologia para entender como o organismo funciona, e deveríamos estudar ciência da computação, tecnologia, para entender como esses aparelhos que hoje quase fazem parte do nosso corpo também funcionam.
A sociedade civil tem trabalhado bastante nisso, mas precisa trabalhar ainda mais para desenvolver alternativas a esses jovens. Hoje, temos um gap histórico que vem desde a infância, começando pelos brinquedos: o menino ganha a nave espacial e a menina, a boneca. Isso passa também por como os pais criam os filhos.
Mas a humanidade vem caminhando para um espaço no qual os jovens estão sendo expostos aos mesmos desafios. E, com isso, acredito que vamos conseguir, em alguns anos, fechar esse gap. Não será de um ano para outro. Não existe pílula mágica, mas acredito que estejamos indo por um caminho certo.
A tecnologia ainda é muito masculina?
Ainda é muito masculina. Infelizmente, mais homens se formam em tecnologia do que mulheres. Isso é algo que deve ser mudado.
Mas é apenas uma questão cultural?
Isso é algo cultural. Vem desde a infância quando o menino recebe um brinquedo de nave espacial, e a menina recebe uma boneca. Isso vai criando gostos ao longo da infância, que se refletem no ensino médio, no ensino superior.
Conversando com amigos dessa nova geração de pais, existe uma mentalidade diferente. Quando comecei o GetNinjas, era difícil encontrar uma mulher programadora, que desenvolvesse software. Hoje ainda é muito difícil. Na nossa plataforma, metade do público é homem e a outra metade é de mulheres. Isso deveria ser refletido na empresa, mas não é uma realidade.
Acredito que em alguns anos isso vai ser mudado, mas não começa na faculdade, não começa no curso técnico. É algo que dever ser mudado desde a infância, e acredito que estamos caminhando para o caminho correto.
Quem consome mais serviços, homens ou mulheres?
Na verdade, 60% dos nossos clientes são mulheres, 40% homens. Em termos profissionais, esses números se invertem. Há mais profissionais homens do que mulheres. Precisamos refletir isso no desenvolvimento da plataforma. Queremos ter mais mulheres gerentes de produto, designers, programadoras, para trazer essa vivência para dentro da empresa.
Quais são os serviços profissionais que as mulheres oferecem dentro da plataforma?
Temos mulheres prestando todos os tipos de serviço na plataforma, desde os mais tradicionais até alguns que não são tão ocupados por mulheres. Temos a história incrível da Marie, imigrante do Haiti, que veio para São Paulo e criou uma pequena agência de serviços de construção. Ela faz o serviço e emprega homens e mulheres para trabalhar com ela. A avaliação dela é incrível.