UOL - Na pandemia, a iniciativa privada tomou a frente em várias situações. Faltou liderança do Ministério da Saúde?
Leandro Reis Tavares - Acredito que a pandemia mostrou a real infraestrutura, até a intelectual, de um país na saúde. Na hora que a covid nos atingiu, foram expostas as nossas fragilidades construídas ao longo de décadas. Precisamos ficar atentos a isso, formar líderes e gestores cada vez mais competentes, tanto no setor público quanto no privado.
Precisamos entender a real necessidades da população. Por vezes, a discussão fica em um campo intelectual e etéreo, que não alcança as dores das pessoas que estão nas emergências e não conseguem atendimento. No setor privado, somos guiados pelo que nossos pacientes nos dizem.
Durante a pandemia, nós tomamos a iniciativa e nos conectamos com um conjunto de hospitais do norte da Itália, que já estavam sofrendo muito com a covid. Vimos que precisávamos nos preparar de uma forma que ainda não estávamos sendo capazes de enxergar. Por isso, nunca precisamos fechar uma emergência.
Por que a pandemia não deixou como legado uma maior cooperação entre os setores público e o privado?
Eu concordo com você que tem espaço para parceria, concordo que falta no Brasil a construção formal de onde essa parceria pode se dar sem que seja questionada ou que fique parecendo uma simples doação pontual. Falta esse espaço formal.
Fazer a gestão para o poder público, por vezes, é muito difícil. A gente não tem participação em instituições públicas, quando assumimos algum compromisso, o fazemos gratuitamente com dinheiro privado. Temos uma preocupação muito grande e reconhecemos que hoje muitos gestores públicos cometem equívocos e o MP [Ministério Público] pega, a polícia também.
A vida dos gestores públicos sérios também não é fácil. Eu vi muitos sendo questionados porque estavam comprando máscaras e luvas a um preço cinco vezes maior do que o normal. O mundo inteiro comprou desta forma. Muitas vezes o gestor público não tem capacidade de negociação, compra mais caro e acaba atropelado por uma série de investigações.
Temos clareza de que as ferramentas de controle do Estado são importantes porque vemos todos os dias malfeitos sendo pegos, mas é desafiador para o gestor sério fazer gestão na saúde pública.
Mas, é fato, precisamos ter ambientes formais onde essa parceria possa se dar de forma mais estruturada e o setor privado possa colaborar de forma mais ativa.