UOL - Quais foram as principais mudanças no hábito de consumo dos brasileiros no mercado de alimentos e bebidas nos últimos anos?
Marcelo Melchior - O brasileiro está muito mais consciente da saúde, tentando procurar produtos mais saudáveis, que sejam percebidos mais saudáveis, e tentando controlar as quantidades de calorias, de açúcares. Tem gente que vai mais atrás de produtos à base de plantas, outros vão atrás de orgânicos.
Definitivamente o cenário ficou mais complexo no sentido de que as pessoas estão falando deste tema, não apenas uma comunidade. É uma conversa que já se encontra em diversas classes sociais e em várias regiões do país. Digo que estão tentando porque muitas vezes a ação não acompanha o discurso. Mas sempre tem que começar com alguma coisa, sempre começa com um desejo que depois é feito realidade.
Por que o senhor acha que isso está acontecendo?
Hoje há muito acesso à informação, pela internet. As pessoas veem [outras pessoas] que se cuidam melhor, se sentem melhor, têm mais disposição, mais energia. Começam a associar uma coisa com a outra, mas é sempre uma evolução e é um trabalho muito pessoal.
Eu quero melhorar a minha rotina de vida com minha família, com meus filhos. Faço um dia sim, um dia não, mas vai. E o fato dessa informação hoje em dia estar muito disponível faz com que as pessoas realmente comecem a atuar e já não é mais um negócio tão de nicho, são coisas que já tem mais disponibilidade de produto, variedades, preços, tamanhos.
Como a Nestlé se encaixa nesse novo mercado? Que produtos já desenvolveram?
Há duas direções muito boas e que estamos fazendo muito rapidamente. Primeiro são variedades que sejam orgânicos, à base de plantas, um leite sem lactose, coisas assim. Das nossas marcas já existentes, que existem há 100 anos no Brasil, o Leite Moça sem gordura, o Nescau com versão sem açúcar etc.
Depois, temos uma segunda via que são produtos que nós chamamos que 'nasceram puros', nasceram neste mundo. Produtos que lançamos recentemente que vão nesta direção, não necessariamente orgânicos porque às vezes não temos a logística do orgânico. Por outro lado, nós temos também aqueles superfoods, novos ingredientes que são pouco conhecidos nos sabores, porém as qualidades de vitaminas e nutricionais são muito bons.
Quais são as profissões do futuro na indústria alimentícia?
Não tenho a menor ideia. Posso te dizer engenheiro de alimentos, mas acho que no mundo vão existir profissões concomitantes. Falamos de algumas que desapareceram, como condutor de charrete, mas agora tem um montão de gente dirigindo táxi e Uber.
Uma coisa eu sei, sempre vamos precisar comer, e eu espero que nós nunca cheguemos ao momento em que uma pastilha tenha tudo. Porque comer tem a parte do prazer, a parte social, falar com a sua família, conversar sobre o dia a dia.
Que dicas o senhor daria para construir uma carreira de sucesso?
Cada vez menos, isso pode parecer contra intuitivo, a formação técnica vai ser importante. Isso não quer dizer que o colaborador chegue analfabeto [na empresa], nada disso. Isso quer dizer é que as coisas estão mudando. A parte técnica é quase que um aprendizado contínuo, e hoje o que nós sabemos de uma coisa, amanhã não sabemos.
Estamos aprendendo a lidar com coisas que não existiam. No trânsito, antes andávamos com um livrão procurando a rua, agora tem o Waze que te fala para virar à direita ou à esquerda. Mas o que precisamos ter sempre é atitude.
A atitude é a inteligência emocional. Quem corre atrás, quem é positivo, homem ou mulher, aquela pessoa que quer fazer a diferença fazendo coisas para ele ou para o universo. A atitude você não treina, a atitude a pessoa tem e é uma coisa muito pessoal, e com isso é possível fazer o seu caminho para sempre.