Como sair da poupança?

Veja passo a passo para começar a investir e ter um rendimento maior que a caderneta

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Onde investir seu dinheiro além da poupança?

Existem diversas alternativas para quem toma essa decisão. A lista inclui, por exemplo, aplicações no Tesouro Direto, CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), fundos de investimento, fundos imobiliários e ações.

"São formas de rentabilizar melhor o dinheiro do investidor, com opções conservadoras e outras mais arriscadas, porém, com potencial de retorno maior", diz Marcos Correa, especialista em investimentos na Suno Research.

Confira a seguir um detalhamento das principais alternativas citadas por analistas, com os prós e contras de cada uma:

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Renda fixa

Tesouro Direto

É a compra de um título público que paga juros. Na prática, o investidor empresta dinheiro ao governo em troca de uma remuneração, que pode ser fixa ou variável (a taxa final depende do comportamento da inflação ou da taxa Selic, por exemplo).

As vantagens incluem a segurança, já que o risco de não receber o dinheiro é quase zero, e a diversidade de opções e prazos.

Em contrapartida, há cobrança do IR. O Imposto de Renda começa em 22,5% do rendimento (para aplicações de até 180 dias) e só atinge a alíquota mínima de 15% após dois anos.

Para quem é adequado? É indicado para quem mira o longo prazo e quer segurança.

CDB

O investidor compra um papel emitido por um banco. O rendimento também pode ser fixo ou variável, dependendo da escolha.

Os principais atrativos são a variedade de opções e a facilidade de sacar o dinheiro. Existem CDBs com liquidez diária, que permitem sacar o dinheiro a qualquer momento.

Entre as desvantagens estão o imposto maior para aplicações mais curtas (como no Tesouro) e um risco um pouco mais alto, pois envolve a capacidade de pagamento da instituição.

É coberto pelo FGC. O que reduz um pouco o perigo de inadimplência é a garantia de que o investidor terá cobertura para aplicações de até R$ 250 mil, mesmo que o emissor do CDB venha a quebrar. Esse limite vale por pessoa e por banco.

Para quem é adequado? Os especialistas indicam os CDBs para quem busca papéis com prazos variados e quer facilidade de resgate dos recursos, se necessário.

LCI e LCA

São papéis emitidos por bancos, vinculados a outros financiamentos. Na prática, ao comprar uma LCI o investidor está emprestando dinheiro ao setor imobiliário e, na LCA, ao agronegócio.

As duas modalidades são consideradas investimentos de baixo risco e ambas possuem garantia do FGC. O principal atrativo, no entanto, é que o investidor não paga IR sobre os rendimentos —que vão inteiramente para o seu bolso.

Um ponto de atenção, no entanto, é que o investidor pode demorar para conseguir vender o papel e ter os recursos disponíveis na conta. Isso vai depender das condições de mercado, e o investidor pode até ter prejuízo.Por isso, o ideal é manter o título até o seu vencimento.

Para quem é adequado? É indicado para quem busca remuneração isenta de IR em um produto com garantia do FGC - o que reduz o risco de crédito.

Renda variável

Fundos imobiliários (FIIs)

Os FIIs investem em ativos do setor imobiliário. Na prática, é como se você tivesse um imóvel e recebesse o valor de um aluguel ou dos direitos ligados a esse bem.

Existem diversos tipos de fundos imobiliários. Você pode investir em dívidas do setor imobiliário. Também pode investir em fundos que tenham imóveis sob sua gestão como edifícios comerciais, shoppings, hospitais, galpões logísticos, etc. Veja aqui FIIs que renderam acima da Selic no ano.

As vantagens dos FIIs também incluem isenção de IR sobre os rendimentos — que, no caso dos fundos imobiliários, costumam ser creditados mensalmente.

As cotas desses fundos são negociadas na Bolsa. Os preços estão sujeitos a variações, razão pela qual é considerado um investimento de risco médio para alto.

Outro risco é a falta de liquidez. Em alguns casos, o investidor pode também encontrar dificuldades se quiser se desfazer da aplicação rapidamente. Isso porque alguns fundos são menos negociados do que outros.

Para quem é adequado? Esses investimentos se encaixam no perfil de quem busca ter uma renda passiva periódica, para complementar o orçamento mensal ou juntar patrimônio.

Ações

Representam uma fatia do capital de uma empresa. Ao adquirir uma ação, o investidor se torna sócio daquela companhia.

Entre as vantagens estão o potencial de retornos mais altos, com a valorização dos preços na Bolsa, e o recebimento de dividendos. Esses dividendos são a divisão do lucro das empresas pelos seus acionistas e investidores. Na B3, há ações de diversos setores para investir, mais ou menos arriscadas e com potencial maior ou menor de se valorizarem.

É um investimento de alto risco. Como os rendimentos podem ser expressivos, as chances de prejuízos são igualmente grandes. Isso porque as ações podem apresentar variações acentuadas de preços, subindo ou caindo fortemente na Bolsa, em questão de segundos.

Para quem é adequado? De acordo com especialistas, é uma alternativa para quem aceita correr riscos elevados, com um potencial maior de retorno. Em geral, é um investimento que demanda tempo, estudo, dedicação e disciplina. Você precisa saber em que empresa está investindo, qual é a sua situação, como estão as concorrentes, entre outras variáveis.

Fundos de investimento

São produtos que investem em opções tanto em renda fixa como variável. Eles também podem mesclar essas estratégias —como no caso dos chamados "multimercados". Existem diversos tipos de fundos, que podem aplicar em papéis de renda fixa, ações, moedas, etc.

Os fundos funcionam como uma espécie de "condomínio". Os investidores reúnem dinheiro e aplicam juntos em uma ou mais categorias de ativos. Esse dinheiro todo é gerenciado por um gestor, que vai receber uma taxa por isso.

Entre as principais vantagens dos fundos estão a diversificação (podem reunir vários papéis de uma mesma categoria, diminuindo o risco) e a gestão especializada, uma vez que contam com um profissional responsável por escolher e acompanhar de perto os investimentos.

Mas têm taxas. Os fundos cobram uma taxa de administração e, em alguns casos, ficam com uma parcela do rendimento dos cotistas, a chamada taxa de performance. Os custos desses produtos merecem atenção, pois podem reduzir os ganhos do investidor. Especialistas lembram ainda que boa parte dos fundos está sujeita a um recolhimento periódico de IR por parte do governo, o chamado "come-cotas". Trata-se de uma cobrança automática de imposto, feita duas vezes por ano, sempre em maio e novembro. No longo prazo, isso reduz os rendimentos.

O nível de risco desses produtos acompanha o setor no qual ele investiu. Mas o risco da instituição financeira que gerencia o dinheiro também deve ser considerado.

Para quem é adequado? É indicado para quem busca diversificação e gestão profissional dos recursos em um produto simples, que atende a diversos perfis de investidores.

Ao deixar a poupança, qual é o primeiro passo?

Ao sair da poupança, não vá direto para opções mais arriscadas. "O ideal é que o investidor dê um passo de cada vez, como se sentir mais confortável", afirma Correa.

A renda fixa costuma ser o melhor caminho para quem está começando. Isso porque, segundo ele, apresenta oscilações menos acentuadas e é mais simples de entender. "Os títulos públicos e os CDBs tendem a ser boas opções para dar os primeiros passos", declara.

À medida que for ganhando confiança e conhecimento, o investidor pode experimentar modalidades mais arriscadas. É o caso de ações e fundos imobiliários, nas quais o potencial de retorno é superior no longo prazo, diz o especialista da Suno. "É importante lembrar, porém, que essa decisão precisa obrigatoriamente estar alinhada com os objetivos e o perfil do investidor."

Qual é o seu perfil como investidor?

É possível agrupar os investidores em três grandes categorias: conservador, moderado e arrojado. É a maneira como as pessoas lidam com os ganhos e perdas com seu dinheiro, e varia de pessoa para pessoa. Também varia conforme o seu momento de vida.

"O conservador preza mais pela segurança do que pela rentabilidade", afirma Correa. Com isso, aceita receber menos em uma aplicação, desde que as chances de perdas sejam menores. Já o investidor arrojado busca um retorno mais elevado e, para isso, aceita correr riscos maiores. O moderado, portanto, é um perfil intermediário entre essas duas estratégias.

É obrigatório saber seu perfil para investir. Essa classificação ajuda o investidor a refletir sobre seus objetivos e quanto risco aceita correr. Isso facilita as escolhas de onde investir. "Além disso, também é importante para as instituições conseguirem indicar produtos adequados para seus clientes", diz Correa. "Investimentos fora do perfil podem ter prejuízos e frustrações, o que acaba sendo ruim para todos."

Como o investidor pode avaliar seu perfil de risco?

O especialista diz que, ao analisar seu perfil, o investidor deve considerar vários aspectos, em busca de autoconhecimento. Para ajudar nessa tarefa, ele destaca as seguintes questões:

Objetivo: Qual a finalidade da minha aplicação?

Prazo: Quando pretendo usar esse dinheiro?

Tolerância ao risco: Até que ponto ficarei confortável e manterei minha estratégia se estiver perdendo dinheiro?

Identificando esses aspectos, o investidor conseguirá selecionar produtos com características que melhor atendam seus objetivos.

Correa afirma, no entanto, que essa avaliação não deve ser definitiva. O perfil do investidor deve ser revisto periodicamente, pois pode ir mudando com o tempo e a experiência adquirida. Veja aqui como descobrir seu perfil de investidor.

Quais são os investimentos mais adequados para cada perfil de risco?

Não existe uma recomendação universal para cada tipo de investidor. É possível, no entanto, montar estratégias que podem auxiliar nas escolhas.

Conservador: Recomenda-se aplicar 80% dos recursos em produtos de renda fixa e 20% em renda variável. Veja aqui como investir.

Moderado: Pode distribuir 50% do dinheiro em renda fixa e 50% em renda variável, por exemplo. Veja aqui como investir.

Arrojado: Tem perfil para alocar 80% do capital em renda variável e 20% em renda fixa. Veja aqui como investir.

"É importante reforçar que cada investidor precisa entender seu perfil para conseguir personalizar sua estratégia e selecionar os investimentos da forma mais adequada", declara Correa.

Por que é importante diversificar os investimentos?

Diversificação é segurança. "Se investirmos todo o dinheiro em um único produto e der algum problema, colocamos todo nosso patrimônio em risco", afirma Correa.

Se os recursos forem divididos entre vários tipos de aplicação, as chances de perder muito dinheiro de uma só vez diminuem. Pode ser que a Bolsa esteja com dificuldades, mas os investimentos em renda fixa garantem o patrimônio, por exemplo. Por outro lado, se os investimentos mais seguros não estão rendendo tanto, as aplicações mais arriscadas podem ajudar nisso. Em resumo, a diversificação ajuda a reduzir o risco de perdas e aumentar as chances de ganhos.

Diversificar traz mais flexibilidade para investir com frequência. Assim, o investidor se acostuma a buscar alternativas mais interessantes para aquele momento, estuda mais sobre o assunto e acaba investindo melhor.

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Como montar uma boa carteira de investimentos?

Uma boa carteira de investimentos, que reúne todo o dinheiro que uma pessoa tem, é diversificada e equilibrada. A regra de ouro é não ter muito dinheiro em um único ativo ou um nível de risco, afirma a Suno.

Tipos de investimento: Divida seu patrimônio em mais de uma modalidade de aplicação (títulos públicos, papéis privados, ações, fundos imobiliários, etc.).

Número de ativos: Tenha mais de uma aplicação em cada categoria, dentro do possível e de acordo com sua estratégia, para não ficar muito concentrado em um só investimento.

Nível de risco: Certifique-se de escolher ativos que se encaixem no seu perfil.

Facilidade de resgate: Existem investimentos nos quais o dinheiro pode voltar para a conta rapidamente, caso seja necessário. Em outros, porém, o resgate pode demorar dias, semanas ou até meses. Avalie sua necessidade antes de distribuir os recursos.

Acompanhe seus investimentos com frequência

As condições econômicas e de mercado estão em constante mudança. Por essa razão, é necessário revisar periodicamente os investimentos, para conferir se estão em linha com os objetivos traçados e avaliar o desempenho.

"Investir não é comprar e esquecer", afirma Correa. "Da mesma forma que uma pessoa precisa ir ao médico de tempos em tempos para checar a saúde, o investidor precisa ter o mesmo cuidado com sua carteira."

Quando devo avaliar meus investimentos e mudar meu dinheiro de lugar?

Cheque se está tudo bem com seus investimentos pelo menos uma vez por ano. É o que recomenda Alexandre Santiago, mentor e planejador na Fiduc, fintech de planejamento financeiro e gestão de patrimônio. "Esse é o tempo mínimo para algum ajuste estratégico ou rebalanceamento dos ativos, caso necessário."

Mas não há regra. O especialista diz inclusive que, conforme alguns estudos, quanto menos se movimenta uma carteira, melhores tendem a ser os resultados no longo prazo. Ou seja, nada de tirar o dinheiro de uma aplicação que está tendo prejuízo sem avaliar, primeiro, qual é seu objetivo no longo prazo. Veja aqui como saber se seus investimentos estão rendendo bem.

O ideal é investir sempre. Com o tempo, essas aplicações regulares aumentam o potencial de ganhar dinheiro. Ou seja, ter disciplina para investir sempre é muito mais importante do que acertar qual é a melhor opção do momento. "Vale ressaltar que esse ajuste periódico deve considerar alterações não só do cenário de mercado, mas também do perfil e objetivos do próprio investidor, para atender às suas necessidades."

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