A indefinição sobre os FIIs teve início no fim de janeiro, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responsável por ditar as regras dos investimentos em Bolsa, decidiu que apenas o lucro contábil dos fundos imobiliários poderia ser distribuído na forma de dividendos, que não pagam Imposto de Renda.
Assim, se um fundo tivesse dinheiro em caixa para remunerar os seus cotistas, haveria, então, cobrança de impostos nos valores distribuídos que ultrapassassem o lucro contábil ou quando os FIIs tivessem prejuízo contábil.
Houve reação à divulgação da regra e com isso abriu-se uma indefinição. Com o suspense, alguns deles passaram a ser negociados abaixo do que deveriam valer, considerando seus patrimônios e potencial de valorização.
Para entender como essa resolução da CVM impactou os fundos imobiliários, é preciso compreender como esse mercado funciona e está organizado.
Ao investirem, principalmente, em prédios de escritórios (lajes corporativas), shopping centers e centros de distribuição (galpões logísticos), os fundos fazem dinheiro com o aluguel e, eventualmente, a venda desses imóveis. O resultado, já com os descontos das taxas pagas a gestores e administradores dos fundos, é distribuído todo mês aos investidores dos FIIs em dividendos, que podem ser comparados à renda de um aluguel.
Nem todos os fundos investem, no entanto, diretamente nos imóveis. Muitos, na verdade, compram na Bolsa cotas de fundos imobiliários. São os chamados FoFs, sigla em inglês para os fundos de fundos (Funds of Funds).
A diferença entre as categorias tem reflexo nos balanços contábeis porque os FoFs não são exatamente donos dos imóveis, cujos preços são mais estáveis, mas, sim, de cotas que oscilam a depender do humor dos investidores da Bolsa. Isso faz com que, em momentos de nervosismo no mercado, resulte em prejuízo na hora em que o patrimônio é reavaliado.
Assim, os FoFs foram os mais castigados pelo anúncio da CVM. Embora os rendimentos pagos pelos fundos de sua carteira não tenham parado de entrar no caixa, muitos deles apresentam prejuízo contábil, dada a desvalorização de suas cotas no mercado.
Em 17 de maio, contudo, a CVM voltou atrás, autorizando novamente esses fundos a distribuir dividendos isentos, abrindo assim o caminho para a recuperação das perdas no período em que a insegurança jurídica assustou os investidores.
Acreditamos que após o último posicionamento da CVM, a questão foi definitivamente apurada e consolidada. O assunto pode ser considerado como resolvido.
Alcides Gimenes Lopes Junior, gestor da JPP Capital
A decisão da CVM não deve ser revertida e vai trazer mais segurança jurídica, além de maior transparência por parte dos fundos em relação à distribuição dos dividendos.
Vitor Bidetti, sócio-fundador e CEO da Integral BREI
Para consultores financeiros consultados pelo UOL, mesmo que o mercado de fundos imobiliários já tenha, em geral, voltado ao patamar de antes desse "vai ou não vai" do regulador, ainda é possível encontrar FIIs que continuam com preços mais baratos, sobretudo entre os tais fundos de fundos.
Isso traz ao investidor a oportunidade de não só buscar ganhos de curto prazo com a correção de preços das cotas, como entrar nesses ativos com maior segurança — afinal, já estão descontados — e com maior retorno dos dividendos em relação ao investimento.