UOL - De onde veio a ideia do seu pai de montar uma casa de chá-mate? Em alguns lugares do país até já se tomava, mas em São Paulo, não.
Antonio Carlos Nasraui - As pessoas estavam acostumadas a tomar não o chá-mate, mas o mate em forma de chimarrão, no sul do país. É a erva-mate sem ser tostada, in natura e moída, tomada com água quente. Outra parte do Brasil, no Mato Grosso, também no Paraguai, consome-se o mate gelado, que é o tererê. É a mesma folha, cortada um pouco mais rústica, uma bebida tomada gelada, sem açúcar.
A erva-mate tostada em forma de chá não existia muito. Meu pai viu a questão da saúde, a oportunidade de negócio e acabou fazendo uma aposta. Em 1990, eram apenas duas lojas que só vendiam mate com leite, puro, com limão, e alguns sucos concentrados de garrafa misturados com mate.
Vinham clientes de toda a cidade para tomar mate na avenida São João, onde ficavam as duas lojas. Mas era muito perigoso ir ao Centro, parar o carro, porque havia os "trombadinhas". Por conta disso, tivemos a ideia de ampliar e ir para outros bairros, onde estava o consumidor.
Que inovações estão planejadas?
Somos pioneiros no lançamento de produtos. Lançamos e logo somos copiados. As novidades que íamos fazer este ano, vamos deixar para o ano que vem. Não é o momento agora de investimento. Como trabalhamos com um fundo de propaganda pago pelas lojas, e muitas ficaram fechadas e com um movimento menor, pagam menos fundo de propaganda.
Mas, quando lançamos, procuramos trazer alguns pilares de moda, de cultura ou de gastronomia para interagir com a marca. Tivemos uniformes assinados pelo Ronaldo Fraga, antes pelo [Alexandre] Herchcovitch. Tivemos criações nas lojas, como copos com desenhos do Gustavo Rosa, do Romero Brito, do Ziraldo. Agora estamos negociando com um novo artista. Há muita gente que não tem acesso a essa arte.
Isso é o que senhor chama de brasilidade?
Quando trouxemos Gustavo Rosa, Romero Brito, o Ziraldo, Ronaldo Fraga para fazer nossas campanhas, foi para poder trazer brasilidade, poder mostrar essa parte da arte na gastronomia para o consumidor. Somos uma empresa que nasceu na avenida São João com a Ipiranga. O pão de queijo é um produto que foi inventado em Minas, e não na Nova Zelândia. Trabalhamos com produtos 100% brasileiros.
Meu maior fornecedor é a natureza, o meu produto não é industrializado, o nosso mate é feito 100% da erva tostada. Não temos nenhum ingrediente no meio disso. Os players estrangeiros que vieram de fora para cá sabem trabalhar um bom café, mas nunca tinham ouvido falar em coxinha na vida. Talvez os CEOs dessas redes concorrentes de fora não saibam nem pronunciar a palavra. O Rei do Mate tem coxinha de frango, de costela, de calabresa. Açaí é um produto que temos há 20 anos.
Como manter a qualidade no sistema de franquias?
Começamos com franquias em 1992. Minha monografia no curso de economia era sobre franchising, que na época estava engatinhando. É sensacional ter parceiros. Hoje são 300 lojas, e 100% franqueadas. O grande segredo da franquia é escolher bons parceiros, pessoas engajadas, que gostem da marca. Não adianta a pessoa querer entrar na rede se ela não gosta de mate, se ela não gosta de comércio.
O sistema de franquia não funciona para quem quer fazer simplesmente um investimento. Se quiser fazer um investimento e não trabalhar, aplica o dinheiro no banco porque haverá muito menos risco e não vai ter trabalho nenhum. No sistema de franquias, a pessoa tem que estar à frente do negócio.