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Os homens duvidam que eu faça manobras, diz caminhoneira que entrega gás

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Imagem: Divulgação

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

07/03/2015 06h00

Regina Rodrigues da Silva, 40, é caminhoneira há dez anos. Já trabalhou com diversos tipos de carga e é habilitada a pilotar máquinas que pesam até 6 toneladas. Atualmente, como funcionária da distribuidora Copagaz em Canoas (RS), dirige caminhões de transporte de GLP, o gás de cozinha, considerada carga perigosa. 

Ela escolheu uma profissão dominada por homens. Como acontece nesse casos, acaba tendo de lidar com o preconceito no dia a dia. Ela diz que é comum os olhares masculinos desconfiados quando vai manobrar seu caminhão. "Me olham com aquela cara de 'será que ela vai conseguir?'".

Não é tão comum ver mulheres dirigindo caminhões e, segundo ela, menos ainda as que transportam o tipo de produtos que ela leva. "Conheço algumas motoristas, mas nunca vi outra mulher no ramo de cargas perigosas. Me sinto privilegiada por isso", afirma.

"Aqui não é lugar de mulher"

Regina é caminhoneira no Rio Grande do Sul - Divulgação - Divulgação
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Algumas vezes, porém, o preconceito não fica apenas nos olhares. É declarado.

Certa vez, quando ainda trabalhava com transporte de carga seca, parou o caminhão na frente da empresa onde deveria descarregar, mas o cliente disse que não aceitaria a carga entregue por ela porque "ali não era lugar de mulher".

Seguiu-se uma longa negociação por telefone entre os chefes da caminhoneira e o cliente, até que ele finalmente liberasse o descarregamento.

Interesse surgiu manobrando o caminhão do marido

Regina é caminhoneira - Divulgação - Divulgação
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Antes de ser caminhoneira, ela trabalhou por dez anos em um escritório, na parte administrativa de um clube de lazer de Gravataí (RS).

A vida na boleia começou por causa do marido, que também é caminhoneiro. "Viajava com ele nas férias. As vezes ele me pedia para manobrar o caminhão. Me apaixonei e sinto prazer no que faço. Hoje não me imagino presa em um escritório". Mas eles trabalham em empresas diferentes.

Ela conta que o marido apoiou a decisão, mas sentiu ciúmes quando ela foi mudar a carteira de motorista da categoria D para a E. "Ele também tinha a D e não queria que eu passasse antes dele. Falou com o chefe e deu um jeito para fazer a mudança antes de mim".