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Bancos cobram juros 6 vezes maiores de micro em relação a grande empresa

Em 2020, a taxa média cobrada das grandes empresas foi de 6,5%. As firmas de médio porte pagaram juros de 14,6%, as pequenas, 28,6%, as microempresas, 38,4%, e os microempreendedores individuais, 38,5% Imagem: Getty Images/iStockphoto

Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

28/05/2021 04h00

Os juros médios anuais cobrados das empresas pelos bancos têm diminuído desde 2017. Entretanto, os MEIs (microempreendedores individuais) e as microempresas pagaram taxas seis vezes maiores do que as grandes empresas em 2020. As pequenas empresas pagaram juros 4,4 vezes maiores.

Em 2020, a taxa média cobrada das grandes empresas foi de 6,5%, enquanto os MEIs pagaram 38,5% e as microempresas, 38,4%. As pequenas empresas pagaram taxas de 28,6% e as firmas de médio porte, 14,6%. Os dados são do BC (Banco Central) e fazem parte do levantamento Panorama de Crédito para empresas no Brasil, do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O levantamento do Sebrae analisa os dados entre 2012 e 2020. O ano de taxas mais elevadas foi 2016, e a diferente de juros entre MEIs e grandes empresas era ainda maior. Os microempreendedores pagaram 7 vezes mais juros: 9,9% em grandes e 69,3% em MEIs (veja dados completos no gráfico abaixo)..

Pequenas não têm garantias contra calotes

Segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, MEIs, micro e pequenas empresas pagam juros maiores porque não conseguem oferecer garantias para as operações.

É comum que as empresas ofereçam como garantia para cobrir eventuais calotes imóveis, ações e parte do faturamento com vendas em cartões. "As micro e pequenas não têm essas garantias para oferecer", declarou Melles.

O BC declarou que os juros cobrados das grandes empresas são menores porque os bancos possuem mais informações sobre essas firmas. Além disso, oferecem garantias para cobrir eventuais calotes nos empréstimos, e isso reduz as taxas.

Risco exige juro maior, diz economista

Os juros cobrados pelos bancos das firmas de menor porte são mais altos porque o risco de calote é alto em comparação com as grandes empresas, afirmou o economista Paulo Ribeiro, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Segundo ele, a taxa de inadimplência dos MEIs, e das micro e pequenas empresas é maior se comparada com as firmas de grande porte. Os dados do BC analisados pelo Sebrae mostram que a inadimplência tem caído nos últimos anos, mas é maior entre as firmas pequenas.

A taxa média de calotes dos MEIs e das microempresas foi sete vezes maior que das grandes empresas. E das pequenas quase quatro vezes superior.

Em 2020, a taxa média de inadimplência foi de:

  • 7,2% para microempresas
  • 7,1 para MEIs
  • 3,7% para pequenas empresas
  • 2% para médias empresas
  • 1% para grandes empresas

"O que faz com que uma empresa tenha capacidade de tomar crédito mais barato são iniciativas que aumentam o nível de garantia nas operações. Quanto pior a garantia, maior a taxa de juros. O BC tem trabalhado para mudar isso e definiu regras para registro de recebíveis de vendas com cartão [dinheiro que vai entrar nas pequenas empresas]", disse Ribeiro.

Vendas no cartão serão usadas como garantia

Após uma decisão do BC, os lojistas poderão registrar em empresas especializadas, a partir de 6 de junho, o total de recursos que têm para receber de vendas no cartão (carteira de recebíveis). O documento de registro poderá ser usado pelos empresários como garantia para conseguir empréstimos com taxas mais baixas.

Enquanto não pagar o empréstimo, esses valores a receber (os recebíveis) não podem ser usados. Com a nova regra, os registros dos recebíveis serão centralizados, e o lojista terá liberdade para negociá-los como garantia em outros bancos que ofereçam juros mais baixos, não só com o que ele tem relacionamento.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) já havia adotado, em 2018, outra medida para ajudar as pequenas empresas a terem mais garantias e tentarem empréstimos com juros menores. O pequeno empresário que tinha dinheiro a receber antes ficava com os valores todos presos ao banco do qual era cliente. O CMN liberou o uso de parte do dinheiro como garantia em empréstimos de outros bancos. A concorrência ajudaria a reduzir os juros.

Febraban afirma que empréstimos para pequenas cresceram

Segundo a Febraban, o volume de crédito para microempresas cresceu 51,5% no ano passado, em comparação com 2019. O crédito para pequenas teve alta de 37,7%.

A entidade também informou que a taxa média de juros nas operações de crédito livre para empresas caiu de 17% para 11,7% na comparação entre fevereiro e dezembro de 2020.

Questionada pela reportagem, a Febraban não informou por que as empresas de pequeno porte pagam juros maiores que as grandes e o que pode ser feito para reduzir essas taxas.

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