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Carla Araújo

Guedes precisa de coragem e transparência para bancar ideias impopulares

O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante a cerimônia "Modernização de Normas Regulamentadoras do Trabalho" (22/10/2020) - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante a cerimônia "Modernização de Normas Regulamentadoras do Trabalho" (22/10/2020) Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

20/11/2020 16h23

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Entre recuos e confissões, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem ampliado a desconfiança em relação a sua credibilidade de seguir os planos da agenda liberal e, mais ainda, de apresentar soluções fiscais que garantam o mínimo de transparência aos investidores e à população.

Ainda não se sabe o que vai ser (e se vai de fato existir) o programa social do presidente Jair Bolsonaro. Nem mesmo está claro a política de continuidade de atendimento aos chamados invisíveis que foram alcançados pelo auxílio emergencial.

Fontes do mercado afirmam que a "elite econômica acordou e percebeu que o Brasil está à deriva". Dizem que o ministro, apesar de ainda ser um ponto de confiança entre os investidores, hoje "vale menos" do que há um ano. Guedes parece não ter poder de impor e tirar do papel suas ideias. Algumas delas são impopulares.

Ontem (19), em conversa promovida pelo Bradesco, Guedes afirmou que pode considerar "até vender um pouco das reservas" para perseguir o objetivo de reduzir a dívida pública.

O ministro disse ainda que depois das eleições volta a falar sobre novos impostos. Citou inclusive que há planos para tributos por meio do Pix, novo sistema de transferências e pagamentos instantâneos. Bancos e clientes estão empolgados com o Pix e mexer com ele é arriscado.

Para o especialista em Direito Tributário da consultoria LacLaw, Paulo Henrique Rodrigues Pereira, a insegurança sobre a possibilidade de o governo manter estáveis as despesas e a resistência do presidente Bolsonaro em admitir falar de novos impostos criam um ambiente de tensão entre os atores do governo.

"O governo vai ter coragem de admitir e lutar por um aumento de arrecadação", afirma, salientando que é preciso enfrentar a necessidade das reformas e também tirar do papel de verdade as privatizações.

Pereira defende a continuidade do auxílio emergencial, mas diz que ela tem que vir acompanhada de uma solução fiscal. "A extensão do auxílio emergencial deve resultar em alta de imposto e governo precisa explicar isso para a sociedade", diz.

Receio de populismo

Fontes do mercado também salientam que tem crescido o receio de que Bolsonaro aposte de vez em uma agenda populista, com o objetivo de fortalecer seu caminho para a reeleição.

Além disso, ressaltam que a crise econômica vai além dos efeitos das políticas adotadas por conta do coronavírus. Analistas afirmam ainda ter dúvidas sobre a capacidade do governo agir e sobre qual política econômica vai prevalecer.

Alguns lembram a situação da ex-presidente Dilma Rousseff que como resposta para a crise econômica que vivia se apressou em fazer desonerações, retirou tributos e, com a queda na arrecadação, o país acabou perdendo capacidade fiscal.

Bolsonaro tem pavor de ser comparado com os governos petistas, ainda mais com Dilma. Guedes também não parece gostar de comparações, mas ao admitir que chega ao fim deste ano frustrado, deixa cada vez mais dúvidas se é possível apenas como Posto-Ipiranga abastecer o país com políticas concretas e que tragam soluções.