Em 24 horas, Bolsonaro mostra dois personagens: o candidato e o presidente
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Em menos de 24 horas, o comportamento do presidente Jair Bolsonaro mudou bruscamente. Ontem (15), para uma aglomeração no Ceagesp, em São Paulo, falou como em um palanque de campanha e mostrou o tom que deve adotar pela reeleição.
Além disso, manteve sua guerra política em torno da vacina do coronavírus. "Eu não vou tomar vacina e ponto final. Se minha vida está em risco, o problema é meu", disse.
Nesta quarta-feira (16), no Salão Nobre do Palácio do Planalto, e rodeado por ministros, Bolsonaro adotou um discurso mais próximo de um chefe de Estado, pediu união e admitiu que se houve exageros era tudo na tentativa de acertar. Apesar disso, não reconheceu claramente nem chamou para si erros no enfrentamento da pandemia. A fala foi genérica.
A questão agora é observar quanto tempo o presidente vai conseguir manter um tom mais republicano para que brasileiros possam ter acesso à vacina e também às informações necessárias sobre ela.
Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta apaziguar os seus discursos. Auxiliares, principalmente os da área militar, no entanto, gostam de lembrar: o presidente "é um cavalão", "impulsivo" e "difícil de dominar".
'Negacionismo'
O comportamento de Bolsonaro nesta quarta tende a ser passageiro, pois desde o início da pandemia o presidente tem adotado uma postura de conflito e de negacionismo em relação à doença.
Em rede nacional da rádio e TV chegou a classificar a Covid-19 como gripezinha. Depois, em live, mentiu que nunca tinha usado a expressão.
No discurso presidencial de hoje, Bolsonaro falou em "união para buscar solução de algo que nos aflige há meses" e fez um aceno a prefeitos e governadores, que vinham até então sendo alvo preferencial para Bolsonaro acusar de opções consideradas equivocadas durante a pandemia.
Burocracia para vacina
Ontem também o presidente achou que havia tido uma "grande ideia" ao sugerir ao relator da MP das vacinas, deputado Geninho Zuliani (DEM-SP), que incluísse em seu relatório um termo de consentimento para a população que decida se vacinar. Não deixou claro se isso era para imunização emergencial ou definitiva.
A sugestão foi rapidamente rebatida por parlamentares e especialistas. O relator recuou e admitiu que o momento é de incentivar a vacinação. "Quanto mais burocracia, mais vamos desmotivar a população", disse à coluna.
Segundo Geninho, sua decisão já foi informada ao governo e é possível que Bolsonaro institua algum tipo de termo no âmbito do Ministério da Saúde. "Ponderei com o governo e chegamos à conclusão que não é melhor caminho de colocar isso no texto. Presidente vai ver se coloca isso em alguma resolução".
Hoje, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, aquele que já admitiu que um "manda e outro obedece", afirmou que quem tomar uma vacina contra a Covid-19 que eventualmente tenha apenas autorização de uso emergencial precisará assinar o termo de consentimento.
Na cerimônia desta quarta-feira, que marcou o lançamento do Plano Nacional de Vacinação, Pazuello falou ainda em "ansiedade" a cobrança por um calendário de vacina. O ministro chegou a questionar há alguns dias até mesmo se haverá demanda pelo imunizante.
Infelizmente, é preciso lembrar ao presidente (e ao candidato à reeleição) e ao ministro que ontem o Brasil bateu a marca de 182.854 óbitos causados pela doença.
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