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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Governo teme 'sincericídio' de Guedes na CPI e quer barrar convocação

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem acumulado frases polêmicas e fala em ataque de reputações - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem acumulado frases polêmicas e fala em ataque de reputações Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

06/05/2021 13h13

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O presidente Jair Bolsonaro e aliados avaliam nos bastidores que uma possível convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para testemunhar na CPI da Covid pode trazer ainda mais desgaste para o governo.

O perfil do ministro, que tem acumulado frases polêmicas e costuma cometer "sincericídio", traz receio de que as suas eventuais declarações possam prejudicar o presidente.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), que é um dos integrantes da chamada "tropa de choque" do governo na CPI da Pandemia, disse à coluna que não acredita que o requerimento para levar Guedes vá prosperar.

"Não vejo motivo nenhum para uma convocação tão estapafúrdia como essa. Não acredito que ela venha a acontecer", afirmou.

Ciro foi o senador que fez uma pergunta ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta nesta semana exatamente igual à que foi enviada ao próprio Mandetta por engano pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Na mesma sessão, Mandetta fez ataques ao ministro da Economia afirmando que Guedes era uma pessoa "desonesta intelectualmente" e que não "ajudou em nada" durante a pandemia.

"Esse ministro, ele não soube nem olhar para o calendário [de vacinação] para falar 'puxa, não tem vacina sendo comercializada no mundo...'. Eu só posso lamentar. O ministro da Economia não ajudou em nada, pelo contrário. Só ligava e falava 'já mandei o dinheiro, se virem, agora vamos tocar a economia", disparou.

Além do receio de uma exposição de Guedes, o Planalto teme que caso tenha que ir à CPI o ministro reedite situação de conflito com parlamentares.

No Ministério da Economia, a ordem é não falar sobre essa possibilidade. Apesar disso, pessoas próximas a Guedes admitem que ele ficou bastante incomodado com as declarações de Mandetta e que, caso tenha que depor, ele precisará passar por algum tipo de treinamento.

Ataque de reputações

Nesta semana, Guedes participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados e, apesar de reconhecer algumas colocações infelizes, o ministro reclamou mais uma vez de que as expressões foram tiradas de contexto.

"Vocês deputados deveriam respeitar, não pode ter crime de opinião", respondeu, ao se explicar sobre a fala do "vírus fabricado na China", da qual já havia tentado se retratar publicamente.

"Também disseram que eu não quero que brasileiro viva 100 anos. Pelo amor de Deus, estão fazendo assassinato de reputação, virou uma espiral de ódio, todo mundo destrói a biografia de todo mundo", disse o ministro.

Mesmo com as desculpas públicas de Guedes, a polêmica em torno da China ganhou um novo capítulo ontem com o próprio presidente Bolsonaro sugerindo que os chineses que inventaram o vírus.

"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano [que] ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?", disse o presidente em evento no Palácio do Planalto, em Brasília.

Apesar das falas de representantes do governo brasileiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde), que investigou as origens do coronavírus e disse que é improvável que a doença tenha surgido a partir de um vírus de laboratório.