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Carla Araújo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Militares quebram silêncio, erram nas palavras e dão força a Bolsonaro

Do UOL, em Brasília

08/07/2021 10h37Atualizada em 08/07/2021 19h20

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É comum entre militares de alta patente o cuidado com as palavras. Sempre que as Forças Armadas precisam fazer um comunicado à sociedade cada palavra é escolhida a dedo.

Pelo menos era assim que antigos comandantes diziam agir. Sabiam que qualquer expressão mal colocada (ou não colocada) poderia causar ruídos e até mesmo problemas institucionais.

Ontem à noite (7), no dia em que a CPI da Pandemia talvez tenha alcançado o ápice com a prisão do ex-diretor Roberto Dias, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, decidiu quebrar o silêncio que vinha adotando até aqui e, finalmente, falou sobre o incômodo do envolvimento de militares nos trabalhos da CPI.

O recado de Braga Netto não veio sozinho. As palavras escolhidas vieram em nota oficial assinada pelos comandantes das três Forças: Exército, general Paulo Sérgio; Marinha, Almirante Almire Garnier Santos; e Brigadeiro Baptista Júnior.

Em um debate parte presencial e parte remota, os militares discutiram a fala do presidente da CPI, Omaz Aziz, e na visão deles houve um ataque. Após conversas do ministro da Defesa com o presidente Jair Bolsonaro, o aval para contra-atacar foi dado.

E o tom escolhido foi de ameaça: "As Forças Armadas não aceitarão (...)".

E a corrupção?

Um general que participou da discussão para a elaboração da nota disse que a irritação na caserna era grande. Eles reconhecem que o desagaste está muito forte.

Se as palavras escolhidas para rebater danos à sua imagem foram duras, houve ao menos um erro. Admitido por outros militares ouvidos pela coluna. Era preciso deixar claro que eles não são e nem serão cúmplices da corrupção.

Será que há militares envolvidos em esquema de corrupção durante a pandemia? Propina? Ninguém pode garantir que não.
Mas, eles preferiram não abordar esse ponto diretamente na nota.

"Casos pontuais não são assunto para a nossa nota. Está lá que observamos fielmente a Lei. Se for provado, que pague quem deve", disse um militar que estava na reunião.

Alinhados com o presidente

Um coronel da reserva ouvido pela coluna, que participou como auxiliar de diversos ministros da Defesa, disse que vê apenas um favorecido pela manifestação dos militares: o presidente Jair Bolsonaro.

Braga Netto foi alçado ao posto de ministro da Defesa num rompante do presidente Jair Bolsonaro que, em março deste ano, decidiu trocar o comando das Forças Armadas após se irritar com o silêncio do então comandante do Exército, Edson Pujol, na absolvição do ex-presidente Lula.

Desde que chegou à Defesa, Braga Netto mostrou uma proximidade política maior das Forças com o presidente, que adora repetir que tem o "meu Exército" para se defender.

Chegou a subir em palanque, sair para tomar sopa no entorno do Distrito Federal na companhia de Bolsonaro. No dia 31 de março, data que marca o golpe militar, disse que o episódio que instalou a ditadura (1964-1985) é "parte da trajetória histórica" do Brasil.

Depois disso preferiu o silêncio. Nada falou da participação do ainda general da ativa Eduardo Pazuello, que por dois dias também foi acusado de mentir na CPI, em um ato político com o presidente.

No episódio em que o Exército decidiu não punir Pazuello mesmo estando na viagem com o presidente Bolsonaro e comandante Paulo Sérgio na Amazônia, onde o caso foi debatido, Braga Netto dizia que "não era hora para manifestações da Defesa".

A pergunta é: O que mudou para que as Forças Armadas decidirem dizer em sua nota que "essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável"?