Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Veta, não veta' do Refis reforça show de improviso do governo Bolsonaro
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A suposta indecisão do presidente Jair Bolsonaro em relação ao veto ou sanção do projeto de lei de renegociação de dívidas para MEIs (microempreendedores individuais) e empresas do Simples Nacional deixou claro que o governo segue entre confusões e improviso em relação às políticas econômicas.
Com o ministro Paulo Guedes de férias, Bolsonaro assinou as últimas medidas sob influência de seus aliados políticos e criou novos episódios que pesam na conta daquele que já foi o Posto-Ipiranga do governo.
Na quinta-feira (6), um pouco antes da sua tradicional live semanal, Bolsonaro apareceu supostamente sem saber que já estava ao vivo dizendo "os caras queriam que eu vetasse o Simples Nacional".
A fala seria uma indicação de que o presidente iria sancionar a medida. O que acabou não acontecendo. Seria uma encenação de Bolsonaro? Uma espécie de "vacina" para que ele tenha o discurso de que "queria ajudar, mas não posso tudo"?
Até mesmo dentro do governo, há quem acredite nesse hipótese.
Se Bolsonaro fez a encenação de caso pensado ou não pode até ser uma dúvida. Por outro lado, o que já tem ficado claro neste começo de 2022 é que o presidente vai continuar com decisões improvisadas com um único objetivo: tentar viabilizar a sua eleição.
Guedes sendo fritado de novo?
Integrantes do Ministério da Economia dizem que, no caso da renegociação do Simples, a orientação era de um veto parcial.
Antes de sair de férias, Guedes tinha dado orientações de que com alguma triagem na concessão do benefício, restringindo o público-alvo, por exemplo, o impacto fiscal seria baixo e o governo não seria acusado de abandonar os pequenos empresários afetados pela pandemia.
A avaliação feita pela pasta era de que com uma devida triagem, tirando da medida, por exemplo, empresários que registraram lucro durante a pandemia, seria possível reduzir o impacto fiscal da medida de R$ 1,2 bilhão para algo em torno de R$ 200 milhões.
O parecer da Economia, no entanto, não foi inteiramente acatado. A ala jurídica do Planalto, que dias atrás decidiu bancar o risco de sancionar a desoneração da folha de pagamentos sem compensação, resolveu barrar por completo a medida. Viram risco de implicações com a lei eleitoral.
A equipe da SAJ —que também responde hierarquicamente ao ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência— ganhou espaço no aconselhamento ao presidente e começou a tentar enfraquecer os argumentos econômicos em detrimento de teses jurídicas questionáveis, como a da desoneração da folha de pagamentos sem compensação.
O clima entre Palácio do Planalto e Ministério da Economia não está bom neste início de ano.
Os rumores, admitidos por integrantes do governo, são de que essa ala jurídica - que tornou-se cada vez mais Bolsonarista - possa derrubar o ministro da Economia, enfraquecendo sua agenda e sua influência em relação a Bolsonaro.
Retorno das férias
Agora, o Ministério da Economia trabalha para encontrar uma solução para ajudar os micro e pequenos empresários a renegociarem dívidas.
Uma das possibilidades avaliadas seria adiar o fim do programa da Receita Federal que prevê a exclusão de empresas inadimplentes do Simples a partir de 31 de janeiro.
Será também no fim do mês de janeiro que o governo terá que explicar ao TCU (Tribunal de Contas da União) a decisão de sancionar a desoneração da folha de pagamentos sem medidas de compensação.
Guedes retorna ao trabalho na próxima segunda-feira. E ao que tudo indica terá muito trabalho pela frente. Aliados do ministro apostam que ele voltará e seguirá com seu "mantra de combate" de sempre: 'no retreat, no surrender', (não recuar, não se render).
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