Morou na periferia, vendeu alho e hot dog e hoje fatura R$ 10 mi com crepes
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
08/01/2024 04h00
André Augusto, 35, morou na periferia de Taboão da Serra (SP), enfrentou o preconceito por ser filho de mãe negra e vendeu laranja, alho e hot-dog com seu pai pelas ruas da cidade. Em 2022, ele abriu a Crepefy, rede especializada em crepes. Em 2023, faturou R$ 10 milhões.
Ajudava o pai a vender produtos de porta em porta
Só teve quarto aos 17 anos. André Augusto nasceu em Vinhedo (SP), mas morou com a família no Jardim São Judas Tadeu, na periferia de Taboão da Serra. "Sou de uma família muito humilde. Na minha infância e adolescência, passamos por muitas dificuldades. Até os meus 17 anos, dormia em um colchão no chão, no espaço entre a sala e a cozinha, pois eu não tinha quarto", afirma ele, que é filho único.
Ele é filho de mãe negra e pai branco. Segundo ele, muitas vezes a sua mãe, Aninha, era confundida como a babá e tinha que andar com a sua certidão de nascimento para confirmar ser sua mãe. "Por anos, minha família lidou com o preconceito. Mas nunca abaixamos a cabeça, e por isso estamos aqui. Quem vem de onde venho não tem tempo para ser vítima, mesmo sendo", declara.
Ajudava o pai a vender produtos nas ruas. Seu pai, Eduardo Augusto (que morreu em 2011), não tinha emprego fixo e vendia produtos na rua. André Augusto ajudava o pai a vender laranja e alho de porta em porta pelas ruas da cidade. "Desde os 9 anos, eu o acompanhava nas vendas. Foi ali na raça que aprendemos a ser vendedores e garantir o básico para sobreviver", diz.
Venda de cachorro-quente e o tão sonhado quarto. Em 2000, a família recebeu de João Augusto (tio de André) a doação de uma barraca de cachorro-quente. Pai e filho passaram a trabalhar com a venda do produto. Em 2004, aos 16 anos, André Augusto passou a tomar conta sozinho da barraca, pois o pai virou sócio em uma empresa de vigilância de rua.
Nessa época, a vida já começou a dar sinais de melhora. Minha família teve dinheiro para aumentar um cômodo na casa, ainda na periferia, e eu consegui ter o tão sonhado quarto.
André Augusto, dono da Crepefy
Primeiro trabalho formal foi em multinacional
Trabalhou em multinacional. Aos 18 anos, André Augusto entrou para a faculdade de propaganda e marketing e, aos 20, começou a trabalhar na Quala Alimentos, uma multinacional dona da marca Icegurt. "Entrei como vendedor e cheguei ao cargo de gerente de expansão da marca."
Dono de uma distribuidora de calçados femininos. Em 2012, ele saiu da empresa para ter o seu próprio negócio: uma distribuidora de calçados femininos, em São Paulo. O negócio chegou a faturar R$ 5 milhões ao ano, mas ele fechou a empresa em 2017, devido à crise econômica do país.
Milionário aos 27 anos. André Augusto conquistou seu primeiro milhão, em 2015, aos 27 anos, no período em que estava à frente da distribuidora de calçados.
Teve agência de marketing. Entre 2018 e início de 2023, ele foi dono da Vendastech, uma agência de marketing.
Ideia de criar a Crepefy surgiu em Paris
Viagem à França foi a inspiração para o novo negócio. André Augusto e a sua mulher, Tawane, viajaram para Paris, em 2022, a fim de celebrar 15 anos de casamento. "Notamos que em cada esquina havia uma creperia e com muitas pessoas comprando. Daí surgiu a ideia de trazer para o Brasil esse mesmo conceito", afirma.
Amigo de infância vira sócio. André Augusto convidou Denis Messias, seu amigo de infância e com experiência na área gastronômica, para ser seu sócio. Eles investiram R$ 300 mil no negócio. A Crepefy foi aberta em dezembro de 2022, em São Paulo.
Recheios do crepe. A marca tem cerca de 30 sabores, entre salgados e doces. O cliente também pode criar o seu próprio recheio, misturando os sabores. O carro-chefe são o crepe de frango com catupiry (R$ 19,99) e o de Nutella com morango (R$ 21,99).
Crepe tem formato de triângulo. O formato triangular dispensa o uso de talheres. A embalagem do produto é no formato da logo da empresa: um fantasminha. Foi desenvolvida para manter o alimento aquecido por até 40 minutos.
Franquia custa de R$ 80 mil a R$ 140 mil
Dois modelos de negócio. A Crepefy tem dois modelos de negócio: quiosque e loja de rua. Em ambos, é possível trabalhar delivery (via app da marca e iFood) e também em eventos —o franqueado leva uma miniloja com estrutura modular para qualquer tipo de evento e serve os crepes à vontade.
Rede tem 40 franquias. Hoje, a Crepefy tem uma unidade própria e cerca de 40 franquias em operação. O investimento inicial para abrir uma franquia varia de R$ 80 mil a R$ 140 mil.
Massa tem fabricação própria. A massa do crepe é feita pela franqueadora em São Paulo, e os insumos para os recheios são comprados na região do franqueado. O preparo do crepe dura de 2 a 3 minutos, em média.
Em 2023, o faturamento foi de R$ 10 milhões. O lucro não foi divulgado.
Marca terá linha de cafés. A empresa prevê lançar em março de 2024 uma linha de cafés (gelados e quentes). Haverá opções de combos de café com crepes.
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