Papelarias bombam nas redes com vídeos divertidos de borrachas e canetas
Márcia Rodrigues
Colaboração para o UOL, em São Paulo
19/03/2024 04h00
Foi a insistência de uma funcionária que motivou a empresária Raissa Specian, 30 anos, a abrir a conta da Papelaria Judá no Instagram. Na época, a hoje influencer Raissa não "botava fé" que a rede social poderia ser uma ferramenta para divulgar sua empresa e vender produtos.
Mas as redes viraram chamariz para clientes. A funcionária não trabalha mais com ela, mas, hoje a Papelaria Judá tem páginas em Instagram, TikTok, YouTube e Kwai e transformou as plataformas numa grande porta de entrada para os consumidores que amam artigos de papelarias.
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Conteúdo criativo e com informação. Raissa abastece as redes com vídeos divertidos sobre seu dia a dia, apresentando produtos, explicando a funcionalidade de itens desconhecidos pelo público, a rotina com seus filhos, dicas sobre vendas e gestão da loja e contando a sua história empreendedora.
Quando começamos a produzir conteúdo para o Instagram, nem os supermercados da cidade tinham a rede social. A divulgação deles era feita em jornais de bairro, panfletos. Os vídeos eram gravados entre um atendimento e outro dos clientes. A qualidade não era 100%, mas tínhamos a constância, que é mais importante na rede social do que fazer gol e ganhar de 10 a zero.
Raissa Specian
A empreendedora conta que a força do Instagram pôde ser medida durante a pandemia da covid-19. "Eu tinha acabado de fazer um empréstimo para mudarmos para um espaço maior, reformar, comprar móveis porque já estávamos começando a ficar bem. Nosso faturamento já chegava a três dígitos, por isso nosso plano era focar no crescimento da loja, que já contava com um site também.
Ela diz que decidiu investir em vídeos no Instagram com brincadeiras para crianças. "As crianças estavam em casa e as mães precisavam de ideias para entretê-las." Raissa começou, então, a criar brincadeiras com o que tinha na loja. Com um papel adesivo preto na parede, era possível criar uma lousa para desenhar com giz, por exemplo. Ela também criava kits com massinhas para modelar, tintas e papéis para desenhar. Para quem estava em home office, ela criava kits para o trabalho remoto.
Outro artifício foi a realização de lives para Instagram e YouTube, que também estava iniciando na época. "As plataformas nos remuneravam para as lives. Recebia em torno de R$ 4.700 até pouco tempo depois do período que o comércio ficou fechado. Paralelamente a isso, mantínhamos seis funcionárias no WhatsApp para atender os pedidos de vendas do site, que estava engatinhando."
Atualmente, a Papelaria Judá tem 504 mil seguidores no Instagram, quase 750 mil no TikTok e 1,1 milhão no YouTube. No ano, o grupo - loja física e online e clube de assinatura - fatura R$ 4 milhões.
Duas irmãs criam papelaria e turbinam vendas com vídeos no Instagram
Gabrielly, 25, e Marcelly Alencar, 40, deixaram seus empregos em 2021 para empreender juntas. Marcelly, com experiência em gestão de negócios, e Gabrielly, em marketing e digital, criaram a papelaria online Choily Paper e viram no Instagram e no TikTok uma forma de divulgar a loja e vender seus produtos.
Nós queríamos abrir um negócio juntos há muito tempo, mas não tínhamos o consenso sobre a área. Somos muito diferentes em estilo de roupa, maquiagem. Ao visitarmos uma papelaria, vimos que tínhamos afinidade no assunto e resolvemos investir.
Gabrielly Alencar, sócia da Choily Paper
Com 90.200 seguidores no TikTok e 43.600 seguidores no Instagram, as duas criam vídeos divertidos e contam a sua rotina. A mudança de endereço ganhou uma série de vídeos mostrando as empresárias empacotando tudo, montando as prateleiras e chegando ao novo espaço.
Vídeo viralizou e trouxe seguidores. Um vídeo, em especial, atingiu 22 milhões de visualizações no TikTok e consolidou a atuação das irmãs como influencers na rede social. No vídeo, Gabrielly mostra dois produtos que são a evolução da cola bastão, em fita e caneta, e explica a diferença entre os três. O vídeo tem 170 mil curtidas e 518 comentários.
Gabrielly afirma que a exposição de produtos nas redes gera compras deles, mas também de itens adicionais, aumentando o ticket médio das vendas. "A produção do conteúdo não tem uma ordem certa. Eu vejo os produtos que vão chegando dos fornecedores e crio em cima deles."
Nostalgia dos anos 2000 também traz vendas. Atualmente, os "queridinhos" da loja são os produtos que foram sensação nos anos 2000. Como: régua com glitter, lapiseira que troca de ponta e estojo de plástico com apontador. Também há grande procura, segundo Grabielly, pelo caderno smart (uma versão atualizada do antigo fichário), que custa em torno de R$ 70.
Clientes são mulheres e mães. Seu público-alvo são mulheres adultas, que gostam de artigos de papelaria ou que compram para os filhos. A empresária não revela o faturamento, mas espera um crescimento nas vendas entre 30% e 40% em 2024.
Rede social é vitrine importante para varejo
Ter uma página ativa no Instagram, TikTok e outras redes sociais é fundamental para quem quer ter sucesso no varejo. "A rede social é uma ferramenta de construção. Uma vitrine muito importante para quem está no varejo", diz a consultora de negócios do Sebrae-SP Juliana Segallio.
Mas, para ter uma atuação que traga resultados, é preciso conhecer seu público-alvo. Também é importante estudar o funcionamento das redes sociais para saber qual é a ideal para o seu negócio.
Engajamento exige tempo e dedicação. "As redes têm diferenças e precisam ser estudadas para identificar qual conteúdo dá certo para o seu público. Algumas publicações podem desempenhar melhor ao serem patrocinadas, por exemplo. Além disso, é preciso ter consciência de que o crescimento da página demanda tempo e que o engajamento não será conquistado da noite para o dia".
Estude a faixa etária dos clientes. A consultora do Sebrae lembra que o TikTok costuma atrair o público mais jovem, entre 11 e 12 anos, por exemplo, que também pode ser encontrado no Instagram com menos frequência, já que o público cativo da rede tem a faixa etária entre 25 aos 34 anos. Para um público mais velho, no entanto, talvez a melhor opção seja Facebook ou Twitter.
A periodicidade das postagens também é fundamental para se criar engajamento. "O conteúdo deve ser inovador e vir ao encontro do que seu cliente procura na plataforma."
Depois de avaliar qual o seu público-alvo, o empreendedor que deseja iniciar a página da sua empresa nas redes deve criar um perfil comercial. "Ele traz mais funcionalidades do que o de pessoa física."