6 em cada 10 MEIs querem investir no próprio negócio em 2025, diz pesquisa


Hygino Vasconcellos
Colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú (SC)
02/04/2025 05h30
Quase 60% dos MEIs (Microempreendedor individual) pretendem investir no próprio negócio neste ano, segundo pesquisa. O estudo foi realizado pelo Sebrae e pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O que mostra a pesquisa
Prioridade é investir em máquinas, equipamentos ou instalações físicas. Isso é um desejo de microempreendedores individuais de todas as regiões do país.
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- Na indústria quase 60% pretendem investir em máquinas, equipamentos e instalações físicas;
Foco do investimento varia conforme a região do país. A intenção de investir em 2025 varia entre as regiões, com maior propensão no Norte e Centro-Oeste (67,6%) e no Nordeste (67%), onde mais de dois terços dos MEI planejam novos investimentos. Já no Nordeste, os microempreendedores pretendem, além do investimento na infraestrutura do negócio, aumentar o capital de giro (39,5%). Já o marketing e a divulgação aparecem como prioridades relevantes especialmente no Sudeste (44,7%) e no Sul (38,5%).
Incerteza sobre a economia é o principal motivo para MEIs ligadas ao comércio e serviços não fazerem investimentos em 2025. Ao todo, 24,3% das MEIs não pretendem fazer investimentos neste ano, ainda segundo a pesquisa. Na indústria, o principal motivo é a falta de dinheiro, seguida pela incerteza econômica. Já a dificuldade de acesso ao crédito bancário aparece - ao se analisar os três tipos de MEIs de maneira conjunta - em terceiro lugar para não se fazer investimento, com o setor de serviços liderando, com 25,6%.
MEIs de quatro regiões do país consideram que o maior obstáculo para investimentos é a incerteza econômica. Apenas no Nordeste a principal justificativa apontada foi a dificuldade de acesso ao crédito bancário.
Intenção de MEIs investirem no próprio negócio tem relação com medidas do governo, entende presidente do Sebrae. "Retomamos o crescimento e reduzimos o desemprego. A transferência de renda já impulsiona a economia do país. Um empreendedor que tem confiança na economia e no sucesso do próprio negócio vê o investimento como um caminho seguro para ampliar a produção, gerar mais emprego e renda. Estamos trilhando o caminho certo para um desenvolvimento sustentável e inclusivo", afirma Décio Lima, presidente do Sebrae.
"Pretendo investir no atacado"
Empreendedora maranhense pretende ampliar leque de atuação de empresa. A administradora de empresas Joyce Gama, 39 anos, tem uma loja online de calçados há quase 10 anos e agora pretende alugar uma loja em um local de grande circulação de pessoas em São Luís, no Maranhão. O plano de negócio já está até elaborado: cada cliente precisa levar no mínimo dez pares de calçados para fechar negócio. "Quero ajudar outras mulheres para terem uma renda." Em dezembro do ano passado, Joyce começou a se movimentar para tirar o plano do papel e encomendou 30 pares de rasteirinhas - ou seja, precisava de três clientes. Porém, a mercadoria foi extraviada e ela precisou entrar na justiça para reaver R$ 3 mil, o que ainda está sendo julgado. "Nem tudo dá certo todo dia. Aprendi a controlar minhas emoções. Não decido nada de cabeça quente. Eu paro, respiro e volto para decidir", diz a empreendedora dona da Joyce Gama Calçados.
Começo foi difícil: "Não tinha nenhum real". Joyce começou o negócio em 2015 após a segunda gravidez e a própria família não a via apenas como mãe. "Eu pensei: vou fazer o que eu gosto: sapatos". O primeiro fornecedor - do interior do Pará - surgiu ao acaso e propôs inicialmente que ela vendesse 15 pares de sapatos e ficar com 50% do valor. O produto era quase imaginário, já que não havia nenhuma unidade para mostrar ao cliente e experimentar no pé. Mas Joyce decidiu mostrar os sapatos no próprio celular e acabou vendendo mais do que o dobro: 45 unidades. A entrega levou 45 dias para chegar, o que fez a família duvidar que um dia seria entregue: "Meu esposo falava que iria vir um tijolo".
Plano é colocar produto para exportação. Além de abrir um atacado, Joyce pretende iniciar as exportações dos produtos que levam seu nome. O primeiro destino vai ser a Colômbia e a ideia é negociar um kit de sandálias com bolsa de palha. Mas para isso ela precisa fazer um site bilíngue, segundo indicou o plano de negócios. Hoje, a empreendedora trabalha com quatro fábricas - uma de São Paulo e três do interior de Pernambuco -, que produzem os produtos com a marca dela.
"Quero investir em equipamentos para melhorar a transmissão online"
MEI catarinense quer adquirir câmera, microfone sem fio e refletor para melhorar iluminação. A técnica de enfermagem Dilvane Fátima da Silva, 42 anos, tem uma empresa de terapias, em Chapecó (SC), a 556 km de distância de Florianópolis. O atendimento ocorre de forma remota, mas há um tempo ela se queixa da qualidade e nitidez da imagem. Neste ano, ela pretende investir em equipamentos e deve desembolsar por volta de R$ 20 mil, segundo cálculos dela. "Preciso dessas ferramentas para que a pessoa me veja no online de forma muito mais nítida. Não é que minha câmera não seja boa, mas eu preciso desses produtos para, por exemplo, disponibilizar uma gravação boa", conta. Mais para frente ela pretende ainda investir em isolamento acústico da sala, localizada na sua própria casa. "Como moro do lado da rua, se passa um caminhão, escuta tudo. Mas o microfone já vai ajudar nesse ponto, de isolar os ruídos ao redor de mim".
Empreendedora já havia investido no negócio em 2024. No ano passado, Dilvane ficou sabendo pelo gerente de seu banco de uma linha de crédito para MEIs. Ela não pensou duas vezes e obteve R$ 11 mil para comprar mesas radiônicas - terapia de reequilíbrio energético que se utiliza de tabelas, gráficos ou símbolos que contêm frequências específicas. O investimento possibilitou que a enfermeira aumentasse o leque de terapias oferecidas por sua empresa, a Diva da Silva Terapias.
Abertura de empresa ocorreu na pandemia. Dilvane conheceu as terapias energéticas em 2020 quando estava com um quadro de depressão. Inicialmente, a paciente era ela mesma. "Eu era a mulher das dores. E aí eu comecei a entender que tudo que eu criei de doenças foi pelas emoções reprimidas do passado. Em 2008, eu tinha perdido meu primeiro filho. Em 2009, eu me separei. Em 2017, descobri a doença celíaca. E, com as terapias, comecei a mudar. As pessoas passaram a perceber as mudanças físicas e faciais. Eu tinha um olhar triste. E as pessoas me diziam: 'Eu também quero isso: quero voltar a viver'", conta. E foi aí que Dilvane começou a aplicar as terapias em outras pessoas e abriu a empresa em 2021. Hoje, ela ministra cursos e se classifica como "mentora de cura energética e financeira".