Entrar com recurso pode render aprovação, mas dá trabalho
Seis pontos e meio separavam Joanna Fulford, 30, da vaga de ingresso na carreira de diplomata do Ministério das Relações Exteriores. O veredito foi dado pelo resultado das provas finais, dissertativas. Só lhe restava entrar com recursos contra a pontuação recebida: e foram dez, em cinco matérias diferentes. Deu certo: "Consegui sete pontos. Ufa, hein?", conta.
O recurso é uma estratégia a que todo concursando tem direito, mas nem todos usam. "Só os mais experientes", afirma o coordenador-geral do Siga Concursos, de São Paulo, Carlos Alberto De Lucca. E, quanto mais bem redigido, maiores as chances de a organizadora da seleção aceitar o pedido --e de a nota aumentar.
Fulford conta que foi difícil escrever os textos: "Eu analisei várias provas, tentando identificar erros de correção. Como apenas nas questões de inglês e de geografia havia marcação de onde estavam os erros, foi muito difícil adivinhar o porquê de cada nota".
A solução para Fulford foi pedir toda ajuda possível. Ela comparou suas respostas com as dos colegas, pediu auxílio a professores, reuniu-se com amigos. "Por fim, juntei tudo e consultei livros que constavam na bibliografia do edital, para basear minhas argumentações. Na maior parte dos casos, a lógica foi a seguinte: 'o enunciado pediu tal e tal coisa, eu respondi assim. Não houve erro, logo, solicito revisão de minha nota na questão'."
Dados públicos
Qualquer candidato pode recorrer de quantas questões quiser e de todas as avaliações da seleção, incluindo exames físicos e psicológicos, e não pode ser prejudicado por isso.
Toda a fase [de um concurso] tem que permitir recurso. O cidadão está participando de um processo público e, por isso, todos os dados têm de ser públicos. É um princípio da Constituição", diz Frederico Bernardes Vasconcelos, procurador do Banco Central, professor e assessor da Comissão de Advocacia Pública da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Federal.
De Lucca explica que os recursos mais comuns numa prova objetiva são em relação a questões de interpretação dúbia, erros de digitação, problemas sem ou com mais de uma resposta, enunciado incompleto e assunto fora do conteúdo programa. Em geral, a questão é anulada (e todos os candidatos ganham os pontos referentes a ela), ou o gabarito é alterado.
Quando é prova objetiva, é mais fácil argumentar: você viu o que estavam perguntando e quais eram as alternativas. Na dissertativa, é preciso explicar que seguiu os critérios de correção, ou seja, que não fugiu do tema, foi coerente, não teve erros de ortografia etc. E, nos dois casos, tem de fundamentar também: se citar um autor ou uma lei, a chance de o recurso ser aceito é mais alta", afirma o coordenador do Siga.
Nos concursos maiores, os professores de cursinhos redigem os recursos das questões problemáticas e até publicam no site da escola, em conteúdo aberto. Mas o docente não tem como entrar com o pedido, só o candidato, que pode copiar o texto. Se houver dois recursos iguais, a organizadora vai analisar só um, mas a decisão vale para todos os inscritos.
Foi o que fez Mauricio Soares Sebastião, 34, arquiteto. No concurso para perito criminal da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, faltava só um ponto para a aprovação na prova objetiva. Os docentes de seu cursinho preparatório o orientaram, e ele conseguiu a pontuação de que precisava.
Na avaliação da segunda fase, choveu, e o trânsito de São Paulo fez com que Sebastião chegasse atrasado. E, contra o congestionamento paulistano, não há recurso cabível.
Teste escrito Na avaliação dissertativa, a organizadora pode disponibilizar a prova para que o candidato avalie os seus textos entre com os recursos, como ocorreu com Fulford.
Quando o inscrito não vê suas respostas, o jeito é redigir um pedido mais genérico: "O candidato acaba fazendo recurso mais geral, dizendo que discorda da nota e que deu respostas de acordo com os critérios de correção", diz De Lucca.
Um bom recurso deve, ainda, seguir o formato de texto pedido no edital, inclusive no limite de caracteres, e respeitar os prazos. Depois de a lista de aprovados ter sido divulgada, não há mais o que fazer.
Mas Fulford aconselha: "Não recomendo fazer isso se não for em caso de extrema necessidade, ou seja, não vale o esforço se for só para ganhar algumas posições na classificação. É uma experiência torturante e cansativa demais. De qualquer forma, estou aqui graças a ela".
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