Candidatos teriam pago R$ 3.000 por vaga no serviço público em São Paulo
R$ 3.000. Esse era o preço para conseguir uma vaga como funcionário público em concursos realizados em prefeituras e Câmaras de 31 cidades na região de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Segundo investigações da Polícia Civil, uma vaga temporária, com contrato de dois anos, poderia ser conseguida com esse valor. Já para vagas efetivas, o preço era um pouco mais alto: R$ 5.000.
As informações foram fornecidas aos policiais por quatro candidatos aprovados irregularmente em um concurso na Prefeitura de Jaboticabal (SP) no início deste ano. Eles são investigados na Operação QI, que desmantelou uma quadrilha especializada em fraudes de concursos públicos.
"O sistema era utilizado em uma série de municípios onde a quadrilha atuava", diz o promotor de Justiça Leonardo Romaneli, que participa da operação.
Romaneli informou, ainda, que, além de dinheiro vivo, o grupo também funcionava por meio de indicações de vereadores. "O vereador que participava do esquema indicava gente de seu interesse para os postos, e eles eram contratados", conta.
A Prefeitura de Jaboticabal afirmou que, antes mesmo de a operação ser deflagrada, o poder público já havia iniciado o processo de rescisão do contrato com a empresa investigada.
Foram identificadas fraudes nos concursos feitos pela Câmara de Mineiros do Tietê e de Santa Ernestina, e das prefeituras de Jaboticabal e Ipuã, segundo o promotor do Gaeco, Marcel Bombardi. Empresas também foram contratadas de forma fraudulenta por outras 17 cidades. A operação investiga, ainda, seleções em outros dez municípios.
Empresa teria sido usada para operar esquema
O grupo criminoso teria usado a empresa Gerencial Assessoria, sediada em Ribeirão Preto, para participar de licitações fraudulentas para a realização de concursos públicos ou prestar serviços de assessoria a prefeituras e Câmaras.
De acordo com a Polícia Civil e com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), braço do Ministério Público que atuou no caso, os candidatos afirmaram que Marlene Galiaso, vereadora em Pradópolis pelo PV e suspeita de coordenar o esquema, foi a responsável pela negociação e por fornecer a eles os valores a serem pagos.
Segundo o Gaeco, um grupo de empresas indicadas por Marlene participava da licitação, mas elas já tinham combinado entre si quem iria ganhar --havia uma espécie de rodízio, para evitar suspeitas. A ganhadora repassava até um terço do dinheiro recebido para os agentes públicos e, quando havia concursos, aprovava pessoas previamente indicadas.
Marlene conseguia a aprovação dos candidatos negociando com as empresas responsáveis pela elaboração das provas, que também participavam do esquema. "Todos os envolvidos foram indiciados e o Ministério Público pediu, hoje (25), a prisão preventiva de 18 pessoas envolvidas no esquema", disse o promotor de Justiça.
Romaneli disse que teve acesso a documentos em que a empresa organizadora de um dos concursos fez anotações sobre concorrentes que deveriam ser beneficiados com mais pontuação. Outros deveriam ter a nota abaixada.
"Agora vamos entender porque algumas notas eram diminuídas e, em um momento posterior, verificar onde esse dinheiro obtido irregularmente era utilizado", disse.
Candidatos passavam na prova sem responder as perguntas
Os candidatos assinavam um cartão de respostas do concurso em branco, e o cartão era preenchido posteriormente de forma a assegurar que os candidatos tivessem pontuação necessária para ocupar a vaga.
Geralmente, os candidatos eram colocados nas últimas posições que teriam acesso às vagas, ou mesmo na lista de espera, e os fraudadores colocavam entre os primeiros colocados outros cúmplices do golpe, que desistiam das vagas. Com isso, o esquema despertaria menos suspeita, na visão dos envolvidos.
Segundo Romaneli, o sistema chegou a funcionar e impedir, efetivamente, que a fraude fosse detectada.
"Houve uma denúncia de fraude em concurso em uma cidade da região de Taquaritinga, onde o denunciante informou que determinada pessoa, que era parente de um vereador, iria assumir o cargo. O Ministério Público instaurou inquérito para apurar, mas, como essa pessoa ficou em uma classificação que não daria a vaga, arquivou o processo. Depois, as pessoas que tinham sido melhor classificadas desistiram e ela assumiu", conta.
Segundo a polícia, um desses laranjas que ficavam nas primeiras colocações é André Luiz Pressendo, de Monte Alto, aprovado em primeiro lugar nas Câmaras de Mineiros do Tietê e de Santa Ernestina no ano passado. Além dele, a operação identificou uma outra pessoa.
"Os dois foram indiciados, eram profissionais utilizados para ficar nas primeiras colocações e que depois desistiam das vagas", disse.
A reportagem tentou contato com os advogados de Marlene e de Pressendo, mas não conseguiu falar com eles até a publicação desta reportagem.
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