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Saiba como evitar comprar ações na alta e vender na baixa

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

14/03/2013 06h00

Para alguns investidores que frequentam a Bolsa de Valores, a "Lei de Murphy" parece persegui-los: quando compram, o preço da ação negociada começa a desvalorizar; quando vendem, o valor do papel dispara.

Existe uma estratégia de investimentos que ajuda a reduzir esse tipo de frustração, ao mesmo tempo em que minimiza os riscos: o balanceamento de carteira. O nome técnico esconde uma ideia simples. Trata-se de manter a proporção entre renda fixa (fundos DI e CDBs, por exemplo) e renda variável (ações) sempre constante em uma carteira de investimentos.

Veja o exemplo de um investidor com R$ 100 mil distribuídos por ações (30% do total) e em fundos DI (os 70% restantes). Se ele teve a sorte ou a habilidade de escolher ações que ficaram mais caras, viu sua carteira de investimentos aumentar de tamanho, e da mesma forma, a proporção de renda variável no bolo total.

Por essa estratégia, o investidor deveria vender uma parte das ações (e aplicar em renda fixa) até retomar a proporção original de sua carteira de investimentos.

O contrário também vale. Se ele viu os preços de suas ações minguarem, pela regra, deveria comprar mais papéis até reestabelecer a parcela de renda variável no total aplicado.

Quase sem perceber, portanto, esse hipotético poupador fez algo que na teoria parece fácil, mas na prática não é: comprar ações em períodos de baixa da Bolsa e vender em períodos de alta.

Começando aos poucos

O professor da FIA (Fundação Instituto de Administração, de São Paulo) Bolívar Godinho aponta que a estratégia pode ajudar iniciantes no mercado de ações. "O investidor vai começar aos poucos. Por exemplo, ele pode deixar apenas 5% da carteira em ações. Dessa forma, entra no mercado e vai aprendendo a lidar com a variação dos preços de forma gradual", diz.

A proporção entre renda variável e renda fixa vai depender da tolerância às perdas e à  instabilidade dos preços na Bolsa de Valores. Tradicionalmente, a distribuição de recursos recomendada é de 70% em renda fixa e 30% em ações. Investidores de perfil mais agressivo podem calibrar essa fórmula para 50%-50%, por exemplo.

A hora de fazer os ajustes

Comprar e vender ações demanda custos. A corretora de valores, a prestadora de serviços obrigatória para quem quer aplicar na Bolsa, cobra uma taxa para cada uma dessas operações. Também existem os custos de custódia e as taxas cobradas pela própria BM&FBovespa (a empresa que administra o ambiente de negócios).

É válido limitar a frequência de ajustes da carteira de investimentos, por causa dos custos. De quanto em tempo, o investidor deveria mexer suas aplicações? Não há exatamente uma regra estrita.

Godinho sugere que poupadores com visão de longo prazo façam esse ajuste uma vez  por ano, ou pelo menos a cada seis meses.

Com juros baixos e Bolsa em queda, ainda vale?

"O cenário para a renda variável ainda é muito ruim, por causa das intervenções do governo na economia [o que tende a afastar investidores]. E eu tenho certeza que a renda fixa vai sofrer, porque o governo não dá sinais de que vai controlar o processo inflacionário. Essa estratégia ainda continua válida, mas no curto prazo talvez não evite algumas perdas para o investidor", diz o analista financeiro Miguel Daoud.

Essa estratégia ganha relevância para investidores com um horizonte de alguns anos, pelo menos.

Embora haja a perspectiva de um aumento da taxa básica de juros (que puxa os ganhos de fundos DI e CDBs pós-fixados), esse ajuste tende a ser apenas pontual. O governo tem a intenção de reduzir os juros básicos (hoje em 7,25% ao ano) para níveis "civilizados" (abaixo de 1% em países como EUA e Japão), uma meta que provavelmente deve ser mantida nas gestões seguintes.

Ao mesmo tempo, a inflação teima em persistir acima do patamar de 5%, como visto nos anos anteriores. A previsão para os próximos anos é a mesma.

A taxa básica de juros vai atingir um patamar que permita às aplicações financeiras mais conservadoras bater a inflação esperada? Ninguém parece saber a resposta.

Nesse cenário, faz sentido colocar parte dos recursos em Bolsa de Valores, que tem um potencial de ganhos maior e acima da inflação.

Os limites da estratégia

Essa forma de investir, no entanto, tem algumas imperfeições. Na hora de vender, corre-se o risco de passar adiante uma ação que não subiu tudo o que podia subir; na hora de comprar, há o risco de insistir em uma aposta ruim.

"Para quem não tem tempo de acompanhar as mudanças [da economia], pode precisar de ajuda profissional para fazer essas alterações dos recursos", diz o analista da Omar Camargo Investimentos, Felipe Rocha.